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Letras

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SAMBA DO TEMPO

Alceu Valença

O tempo
Se dilata como um fio
Cordão, elástico, caminho,
Estrada que nos transporta

A gente
Segue o tempo e ninguém nota
Seus caminhos, suas rotas
Por onde o tempo seguiu

Depois
Quer viver tudo que viu
Vai bater na mesma porta
De onde um dia saiu

Depois
Quer viver tudo que viu
Vai bater na mesma porta
De onde um dia saiu

SABIÁ

Luiz Gonzaga/Zé Dantas

A todo mundo eu dou psiu
Perguntando por meu bem
Tendo o coração vazio
Vivo assim a dar psiu

Sábia vem cá também
Tu que andas pelo mundo
Tu que tanto já voou
Tu que cantas, passarinho
Alivia minha dor
Tem pena d'eu
Diz por favor
Tu que cantas, passarinho
Alivia minha dor

SONHEI DE CARA

Don Tronxo/Ruben Valença Filho/Alceu Valença

Sonhei de cara, coração
Que sonho louco
Carregado de ilusão

Lua bonita
Derramada nas calçadas
Anel de prata
Madrugavas e eu sonhei
Com borboletas
Que saíam das janelas
Colorindo a primavera
Sem teus braços acordei
Saia rendada
Pendurada na varanda
Tem a cor da esperança
De um amor que não passou
Pois todo dia
Lembro sempre da janela
Do amor que dei pra ela...
Tão bom que em mim ficou
Tão bom que em mim ficou
- Foi um sonho, meu amor!

SEIS HORAS 

Alceu Valença 

Toda manhã se acorda 
Às seis horas 
Às seis horas o sol batendo 
Nos sobrados de Olinda 
No alto do Empire States 
Nas esquinas do Village 
Nas águas de Três Marias 
Nessa pia que não lava 
O segredo de Pilatos 

Mágico, prático 
Magiprático 
Prático, mágico 
Pratimágico 
Pragmático 

E seu horário londrino 
Às seis horas 
Seu colarinho engomado 
Às seis horas 
Seu chá das cinco em ponto 
Às seis horas 
Na algibeira marcado 
Às seis horas 
Só lhe comove o futuro 
Às seis horas 
Se tudo for engrenado 
Às seis horas 
No seu sorriso portátil 

Corresponde a mil horas 
Às seis horas 
Em qualquer fuso horário 

Às seis horas matina no Rio de Janeiro 
Às seis horas matina em São Bento do Una 
Às seis horas matina em Amsterdã 
Às seis horas matina em Petrolina 

Às seis horas 
 

SETE LÉGUAS 

Alceu Valença 

Venho 
E venho de longe 
Já não sei de onde 
 Esqueci 
Venho escondendo um sonho 
Nessa longa espera 
E como as borboletas  
Numa primavera 
mergulhei no tempo 
Para me salvar 
Venho 
E só sei que venho 
Na mão da história 
Fui chegando aqui 
nessa longa estrada 
Espero por você 
 

SEIXO MIÚDO 

Alceu Valença 

Seixo miúdo me ensina o silêncio das pedras 
O silêncio da boca do povo me fez cantador 
Minha alma pagã não conhece o sabor do pecado 

Lua miúda me ensina a leveza dos astros 
Feito Neil Armstrong te rogo me faz saltador 
Pra que eu pule porteira e barreira e não haja obstáculo 

Curva miúda me ensina o segredo da estrada 
Os perigos de vida e de morte da estrada ou eu vou 
Minha alma alazã só conhece o sabor do galope... 
(Onde se ouve lua ouça-se curva) 

Fera miúda me ensina os segredos da selva 
Já que homem é o lobo do homem, o homem cordeiro 
      se fez caçador 
Minha língua ferina só cala no fim do espetáculo... 

SOLIDÃO 

Alceu Valença 

A solidão é fera 
A solidão devora 
É amiga das horas  
Prima-irmã do tempo  
E faz nossos relógios 
Caminharem lentos 
Causando um descompasso 
No meu coração 
A solidão dos astros  
A solidão da lua 
A solidão da noite 
A solidão da rua 

SONHOS DE VALSA 

Alceu Valença 

Seria sonho, sonhamos muito 
Comemos juntos sonhos de valsa 
Seria cisne, seria garça 
Magia branca 
Olhos do mal 
Seria o éter do carnaval 
Seria força, seria medo 
Seria pouco ou demais segredo 
Seria treva, seria luz 
Por isso mesmo não tenhas medo 
Dessa saudade que nos conduz 


 


SAUDAÇÃO AO SOL 

Domínio Público - Adaptação: Alceu Valença 

Nós somos "cabocolinho" 
Somos "cabocolinho" 
O sol raiou 
 

SENHORA DONA 

Alceu Valença 

Se tudo passa como te falei um dia 
Eu passarinho 
Tu passarias 
E segue o tempo 
No prumo do seu caminho 
Tu passarias 
Meu passarinho 

Seremos servos à mercê do Deus 
  destino 
Dos dissabores 
Dos desatinos 
Senhora Dona dos meus mares e 
  navios 
Eu passaria 
Eu passarinho 

Seremos servos à mercê do Deus 
  destino 
Dos ditadores 
Por Deus menino 
Senhora Dona dos meus mares e 
  navios 
Eu passaria 
Eu passarinho 

 

SOLIBAR 

Alceu Valença e Carlos Penna Filho 

Sei dos pingos da goteira 
Batucando no passado 
E sei que as cinzas da fogueira 
não recomporão os galhos 
Dia sim e dia não 
Dói a minha solidão 
Eu tô ficando aperreado 

São trinta copos de chopp 
São trinta homens sentados 
Trezentos desejos presos 
Trinta mil sonhos frustrados 
No bar "Savoy" na Sertã 
No "Luna"  bar no Leblon 
Vejo a tristeza do gado 

78 ROTAÇÕES 

Alceu Valença/Geraldo Azevedo 

Ela vinha numa manhã 
Rachada 
Pelo vento que soprou 
De madrugada 
No frio de uma manhã de maio 
De franja na testa 
Tentava esconder o pensamento 
Que só pensava em mim 
Ela pensava em nós 
Meu cigarro clareando 
A madrugada 
Nosso quarto, nossa vida, nossa casa 
Na beira do mangue 
Na beira da lama 
Na beira de Olinda 

Eu nem me lembro da casinha  
pequenina 
Na beira do mangue 
Na beira da lama 
Na beira de Olinda 

Perdida em 78 rotações... 
 

SOU EU O TEU AMOR 

Alceu Valença/Carlos Fernando 

Lá vem lá vem o bloco 
Cadê o bloco já passou 
Lá vem lá vem o bloco 
Cadê o bloco já passou 
É um bloco veloz feito um raio 
Chamado Sou Eu Teu Amor 
Viu, por onde ele passa 
Sacode alegria a vapor 
Limão com cachaça 
E a onda do frevo esquentou 
Lá vem o bloco 
É um bloco que chega 
É um bloco que passa 
É um raio que rompe a traça 
E a massa espanta a dor 
Lá vem um bloco 
Chamado Sou Eu Teu Amor 
 

SOL E CHUVA 

Alceu Valença 

Não não quero mais 
Brincar de sol e chuva 
Com você 
Não suporto mais 
Brincar de sol e chuva 
Com você 
Eu não quero mais... 

Para seu dedo tenho 
Um dedal 
Pro seu conselho 
Cara de pau 
Tenho dezembro 
Tenho janeiro 
E se não me engano 
Tenho fevereiro 
Se essa vida 
É um desmantelo 
Me mate 
Que eu sou 
Muito vivo 
 

SINO DE OURO 

Alceu Valença/Carlos Penna Filho 

Hoje eu queria fazer um poema 
Com pena dos versos de chumbo que faço 
E faria um poema voando tão leve 
Um poema de éter, poema de pássaro 

Hoje eu faria um poema tão peixe 
nada nos seus olhos da cor do melaço 
Um poema azul 
Um poema marinho 
Um poema pescado 
Tomado de assalto 

Hoje eu faria um poema tão fino 
Batendo no sino 
Que achei num tesouro 
Num sonho dourado 
Um poema magia 
Depois te daria 
meu sino de ouro 
 

SETE DESEJOS 

Alceu Valença 

Recomeçando das cinzas 
Eu faço versos tão claros 
Projeto sete desejos 
Na fumaça do cigarro 
Eu penso na blusa branca 
De renda, que dei pra ela 
Na curva de suas ancas 
Quando escanchada na sela 

Lembro um flamboyant vermelho 
No desmantelo da tarde 
A mala azul, arrumada 
Que projetava a viagem 

Recomeçando das cinzas 
Vou recompondo a paisagem 
Lembro um flamboyant vermelho 
No desmantelo da tarde 

E agora penso na réstia 
Daquela luz amarela 
Que escorria do telhado 
Para dourar os olhos dela 

Recomeçando das cinzas 
Vou renascendo pra ela 
E agora penso na réstia 
Daquela luz amarela 

E agora penso na estrada 
Da vida, tem ida e volta 
Ninguém foge ao destino 
Esse trem que nos transporta