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       Crítica

O Guia Internet São Paulo e o Jornal da Tarde criaram o "site" Os Melhores da MPB e convidaram 16 críticos musicais para indicar aqueles que seriam "Os Melhores Discos Lançados da Tropicália Até Hoje". Dois dos críticos incluíram discos de Alceu Valença em sua indicação dos dez melhores. A seguir apresentamos as duas relações:


 
 
JIMI JOE (Rádio 107,1 FM, Porto Alegre):
 
- Vivo! (Som Livre, 1976) - A mistura das violas de Zé Ramalho com o pedal wah-wah de Paulo Rafael anteciparam Raimundos. Alceu Valença, boiadeiro delirante nas areias de Copacabana, unindo o Nordeste ao futuro num aboio pós-moderno.

- Tropicália ou Panis et Circencis (Philips, 1968) - A semente da maldade, o manifesto. Caetano, Gil, Mutantes, Tom Zé, Capinam, Torquato. E Nara Leão, o humor refinado em tom de bolero. Memória fragmentária de um tempo em que o Brasil respirava inteligência e ansiava por liberdade.

- Milton (Odeon, 1970) - A primeira manifestação consistente do som das Gerais, a união do gemido dos carros de boi com Beatles. A voz de Milton Nascimento imortalizando pedaços do Brasil no ar. Um crítico americano escreveu sobre uma lenda brasileira, segundo a qual, Milton fez um pacto na encruzilhada: enquanto durassem os 70, ele reinaria. Quando os 70 acabassem, eles o possuiriam para sempre. Just kiddin', honey.

- Construção (Philips, 1972) - Chico Buarque de Holanda na dose certa. A perfeição dos versos, a economia melódica, a anunciação do samba minimalista. Não ouvir é não respeitar a história. Ouvir e não gostar é coisa de quem tem gosto cariado.

- Nervos de Aço (Odeon, 1973) - Há quem diga que Paulinho da Viola sofisticou o samba. Ele foi além: pela modernização do samba, mais uma vez eternizou-o. Nunca Lupicínio soou tão cool. Roendo as Unhas é Schoenberg na favela da Rocinha.

- Krig-Ha, Bandolo! (Philips, 1973) - Um ano antes, o Brasil inteiro parou para ver, na Globo, um maluco de jaqueta de couro sem camisa que berrava "let me sing, let me sing" num baião com refrão de rock. O primeiro disco de Raul Seixas, nosso Jerry Lee Lewis, é seu melhor cartão de visitas. O tempo jamais apagará o sincretismo rock/candomblé de Mosca na Sopa.

- Elis & Tom (Philips, 1974) - A mais perfeita tradução da bossa nova. Elis não foi apenas a maior cantora brasileira. Foi uma das melhores do mundo. E Tom dispensa comentários. A união não podia ser diferente do que foi: genial.

- Na Quadrada das Águas Perdidas (Rio do Gavião, 1979) - Quem imaginaria um cantador medieval entoando os problemas do Nordeste? Elomar Figueira de Mello inspirou Henfil na criação da Graúna e Bode Orellana. Este álbum duplo é o melhor retrato de uma música a um só tempo rústica e extremamente civilizada.

- Legião Urbana (EMI-Odeon, 1984) - Geração Coca-Cola antecipa toda a revolta e rebeldia que os Titãs reproduziriam de modo totalmente fake anos depois. Incorporando influências de Cure e Smiths, Renato Russo acabou criando um estilo inconfundível com sua voz jerryadriânica.

- Tudo Azul (Warner, 1984) - Lulu Santos para sintetizar a carioquice no rock brasileiro dos 80. Está tudo aqui: a versão new wave para O Calhambeque, guitarras tilintantes, bom humor, romantismo. No fim de tudo, trazendo tudo de volta pra casa, o coro de Ronca, Ronca: Rita Lee mutante, a jovem guarda de Erasmo.
 

ROGÉRIO DE CAMPOS (Editora Acme):
 
- Espelho Cristalino - Alceu Valença (Som Livre, 1977) - Nesse disco se desfazem as fronteiras da música nordestina e a música pop mundial. Guitarras combinam com zabumba e o dançarino passa do baião para o rock'n'roll sem errar o passo.

- O Romance do Pavão Mysteriozo - Ednardo (RCA, 1974) - Ednardo é uma vítima das más companhias. Ter sido empacotado com Fagner e Belchior sujou seu currículo e foi a razão mais provável para que ele nunca tivesse seu real valor reconhecido. Como Alceu Valença, Ednardo soube juntar de maneira genial diversas sonoridades da música nordestina com rock.

- Fa-Tal - Gal a Todo Vapor - Gal Costa (Philips, 1971) - Talvez o disco-símbolo do quanto a música brasileira foi legal no início dos 70. Uma certa indefinição de rumos da época quebrou por um momento a máquina de fazer rótulos e nesse instante foi possível fazer uma música livre, moderna, brasileira e universal.

- Transa - Caetano Veloso (Philips, 1972) - Não é apenas o melhor álbum de Caetano, é muito mais: um dos melhores trabalhos de Jards Macalé, que dirige e faz os arranjos do disco.

- Acabou Chorare - Novos Baianos (Som Livre, 1972) - O disco da maturidade da música brasileira. A média do que será a música popular brasileira quando o País confirmar sua posição de potência do século 21 e se livrar de todas as variações de complexos de inferioridade.

- Expresso 2222 - Gilberto Gil (Philips, 1972) - Bastaria ter Back in Bahia e Oriente e o resto ser estática e este disco já teria razões de sobra para estar nesta lista. Mas incrivelmente Expresso 2222 tem mais, muito mais.

- Secos & Molhados 2 - Secos & Molhados (Continental, 1974) - O primeiro disco detonou aquela febre que assolou o início dos anos 70 e derrubou Roberto Carlos do primeiro lugar das paradas. Mas para nove em cada dez fãs dos S&M bom mesmo é este segundo disco da banda.

- Fruto Proibido - Rita Lee (Som Livre, 1975) - O grande disco de rock'n'roll brasileiro. Aqui, Rita é a estrela, e a Tutti Frutti é a banda mais qualquer nota do planeta, como tem que ser uma legítima banda de rock'n'roll.

- Minas - Milton Nascimento (EMI-Odeon, 1975) - Pode ser difícil para as novas gerações entenderem essa afirmação, mas Milton Nascimento foi muito legal. Esse Milton que surgiu nos anos 80 é apenas um clone avariado do primeiro e verdadeiro Milton Nascimento de discos como Milagre dos Peixes, Clube da Esquina, Geraes e esse Minas.

- Refavela - Gilberto Gil (Philips, 1977) - Realce é o disco da "traição" à MPB. Refazenda é o disco mais fácil de ser assimilado por esta MPB. Refavela está acima disto. Inaugura de maneira genial a nova música popular baiana.