Notícias
A polêmica mulata dos irmãos Valença roubada por Lalá

05-06-2008

Os Irmãos Valença, João e Raul

   O maior sucesso da história do Carnaval brasileiro é a marchinha O teu cabelo não nega, assinada por Lamartine Babo, e lançada em 1932 pelos comediantes Castro Barbosa e Jonjoca e a Orquestra da Velha Guarda, com Pixinguinha e Donga (foi primeiro oferecida a Francisco Alves, que não se interessou em gravá-la). No selo do disco Victor estava escrito: “Marcha, letra e música de Lamartine Babo (sobre motivo do Norte)”.

   Lalá trabalhava na Victor, arranjando e “melhorando” composições de outros autores. Aquele “motivo do Norte”, na realidade era uma música chamada Mulata, cuja partitura havia sido enviada do Recife, pelos irmãos Raul e João Valença, para ser gravada no Rio. Mulata já era conhecida na capital pernabucana desde 1930.

   Quando os irmãos Valença acionaram judicialmente a gravadora, Lalá defendeu-se, alegando que se utilizou apenas do estribilho e de seis compassos da composição. Ficou, no entanto, provado que, além do estribilho, ele aproveitou a melodia quase na íntegra (alterou uns poucos compassos). Os irmãos Valença ganharam a causa, e metade dos direitos autorais de Teu cabelo não nega, que passou a trazer seus nomes junto com o de Lalá.

(© Jornal do Commercio-PE)


Cem anos do Rei do Carnaval

Há um século nascia no Rio de Janeiro um dos maiores compositores da MPB, Lamartine Babo, autor das mais famosas marchas carnavalescas

JOSÉ TELES

   Nada além, Marchinha do Grande Galo (mais conhecida como Có có ró có), Chegou a hora da fogueira, Eu sonhei que tu estavas tão linda, Joujoux e balagandãs, Linda morena, No rancho fundo, Serra da Boa Esperança, e a polêmica O teu cabelo não nega (ver matéria ao lado). O que todos estes clássicos da MPB têm em comum? Foram compostos (uns poucos com parceiros) pelo carioca Lamartine Babo, nascido há exatos cem anos na antiga Rua das Violas (onde Bocage morou quando esteve no Brasil), hoje Teófilo Otoni, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.

   Lalá, apelido pelo qual era conhecido, foi um dos maiores autores de marchinhas carnavalescas da história da MPB. Humorista satírico, radialista, escritor, Lamartine Babo, no entanto, de vez em quando tirava a máscara de eterno gozador, e compunha canções pungentes, tais como a regravadíssima No rancho fundo (com Ary Barroso), que freqüenta o repertório de estrelas heterogêneas, do singular Ney Matogrosso à dupla de pássaros canoros Chitãozinho e Xororó.

   O talento de Lamartine Babo despontou cedo, sua primeira composição Torturas de amor, foi feita aos 14 anos. Aos 16, compõs a opereta Cibele. No início dos anos 20, já escrevia para jornais, para musicais, mas foi, em 1929, a partir da amizade com uma turma de jovens cantores e compositores, que formavam o grupo Flor do Tempo, depois Bando de Tangarás, que Lamartine Babo firmou-se como compositor na então capital do País. Faziam parte desse grupo Noel Rosa, João de Barros (Braguinha), e Almirante. O conjunto chegou a gravar oito composições suas (a maioria emboladas).

   Naquele mesmo ano, ele iniciou sua longeva carreira no rádio, e mal, diga-se de passagem. Foi cantar num programa chamado Casa dos Discos, na PRB-7 Rádio Educadora. O pianista detestou o pretendente a cantor e, segundo o trocadilho de Lamartine, mandou que ele fosse cantar “no rádio que o parta”. O ainda desconhecido Lalá, dentro de poucos anos, seria amigo e parceiro do pianista, que era o irascível Ary Barroso. De 1930 a 1963 (ano de sua morte), ele nunca deixou de emplacar um sucesso no Carnaval. Conta Braguinha, outro grande criador de marchinhas, que quando se aproximava o período carnavalesco, os compositores se perguntavam: “O que será que Lamartine vai fazer para esse Carnaval?”

   Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis, os ídolos do rádio, todos eram fregueses contumazes da linha de montagem sonora de Lalá, o “Rei do Carnaval”. Feio, de magreza proverbial, ele foi pródigo em autogozação: “Sou tão magro que meu pijama só tem uma listra”, ou “De tão magro consigo ficar na chuva sem me molhar, saio caminhando entre os pingos”. No programa Trem da Alegria, que compartilhava com Héber de Bôscoli (tio de Ronaldo Bôscoli), e Yara Sales (ambos igualmente muito magros) costumava dizer que eram o Trio de Osso (uma alusão ao Trio de Ouro, de Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas). Certa noite, no ar, Bôscoli desafiou Lalá (torcedor do América carioca) a compor um hino para cada clube do futebol carioca. Desafio aceito e cumprido. Desses, o que ficou mais conhecido foi o do Flamengo ( “Uma vez Flamengo/ Sempre Flamengo/ Flamengo sempre eu hei de ser”).

O autor do Hino do Carnaval Brasileiro sofreu um primeiro enfarto, pouco dias antes da folia de 1963. Em 16 de junho, emocionado com o musical que Carlos Machado montou sobre sua vida (assistiu a alguns ensaios), Lamartine Babo teve o segundo e fatal enfarto. Foi sepultado com a bandeira do América envolta no caixão, os fãs cantando o hino do clube, cujo coro diz: “Hei de torcer/Torcer, torcer/Hei de torcer, até morrer.

(© Jornal do Commercio-PE)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind

© NordesteWeb.Com 1998-2004

O copyright pertence ao veículo citado ao final da notícia