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O samba sem idade de Antonio Vieira

05-06-2008

Antonio Vieira: CD solo, obra compilada em caixa promocional e músicas em novela após os 80 anos

Aos 83 anos, compositor maranhense estréia no Rio e aprova novela filmada em seu estado

Helena Aragão

   Na mesma semana em que o Maranhão chega ao horário nobre da TV Globo com as paisagens, as danças e os clichês da região na novela Da cor do pecado (leia crítica abaixo), a música do estado baixa no Centro Cultural Banco do Brasil, dentro da série Brasil de todos os sambas, sob a liderança de um senhor de voz mansa. De amanhã a domingo, o compositor maranhense Antonio Vieira, de 83 anos, apresenta no Rio - acompanhado pelos conterrâneos César Teixeira e Rita Ribeiro e pela cantora carioca Teresa Cristina - um repertório que vai além do gênero que nomeia o projeto.

   - O Maranhão talvez seja o estado brasileiro com maior variedade rítmica. O samba de lá tem batida diferente e temos muitas variações do bumba-meu-boi e ainda o tambor-de-crioula - explica.

   A história de Vieira poderia valer mais que muitos livros de auto-ajuda sobre terceira idade. Pois foi só depois dos 80 anos que ele gravou o primeiro disco solo, virou tema da caixa promocional de uma empresa e emplacou duas músicas na nova novela. É quase um novato na profissão, já que sua trajetória começou para valer aos 60, quando concluiu que precisava registrar suas composições.

   - Não gosto de depender de ninguém. Fui aprender a tocar violão depois de velho para poder compor melhor e me lembrar das minhas músicas - conta.

   O primeiro CD solo, O samba é bom, foi gravado em 2001. Antes disso, ele mesclava a vida profissional como sargento do exército, inventariante e comerciante com a de compositor amador, que rendeu as cerca de 300 canções que guarda na memória. Como a melancólica Chorar, uma resposta ao clássico Smile, de Charles Chaplin, que canta de cabo a rabo.

   - Chaplin foi, na minha opinião, o maior compositor popular do mundo. Se fosse vivo quando compus a resposta, teria cometido a ousadia de mandar para ele.

   Na juventude, a música rendeu poucos trocados e pelo menos uma linha melódica da qual muitos maranhenses se lembram com carinho: a do primeiro jingle de rádio do guaraná Jesus (refrigerante cor-de-rosa choque e de popularidade espantosa por lá), composto nos anos 50. Uma década antes, participou, sem alarde, de grupos vocais de São Luís, onde nasceu. Mas cantar sozinho estava fora de cogitação.

   - Sou da época do Francisco Alves e do Orlando Silva, não ousaria tentar missão tão séria. Mas, a partir da década de 70, vi tanta gente ruim entrando nesse ramo que perdi todos os meus pudores. Pensei: agora chegou a minha vez.

   Sábia decisão, mesmo que tardia. Até porque ele está longe de fazer feio ao microfone. Pôde mostrar isso em 1988, no LP Pregões de São Luís - feito a partir de uma pesquisa com o compositor Lopes Bogéa sobre as canções entoadas pelos vendedores ambulantes. O samba é bom foi gravado ao vivo, tarefa complexa sobretudo para um iniciante. O show e o disco contaram com participação de gente como Sivuca e Zeca Baleiro, o produtor do álbum.

   Entre o LP e o CD solo, Vieira se destacou como compositor quando a canção Cocada foi gravada pela conterrânea Rita Ribeiro. O registro rendeu uma indicação ao Prêmio Sharp em 1998. Há dois meses, a Vale do Rio Doce bancou uma caixa com um vídeo e dois livros - um de letras e outro biográfico - e 18 CDs que dão conta de toda a sua obra, apresentada em voz e violão pelo próprio compositor. Infelizmente, o material não chegará ao grande público. Foram apenas 70 exemplares, distribuídos como brinde da empresa. Como consolo, um dos discos, a coletânea Ao som dos ritmos do Maranhão, foi lançado comercialmente.

   Vieira participou de um capítulo de A cor do pecado (que vai ao ar no sábado) e, na semana passada, da festa de lançamento da novela, onde cantou as canções que entraram na trilha: Tem quem queira e Banho de cheiro. Anteontem, assistiu à estréia da novela na companhia do JB. Aprovou os bonecos de papel-marché da abertura (''Foi uma boa idéia, tem muito disso lá'') e elogiou os cenários. Só estranhou o protagonista chegar a São Luís de barco.

   - Hoje o pessoal chega na rodoviária ou no aeroporto. Há outros detalhes diferentes, como a feira onde a personagem da Taís Araújo trabalha, mas estão mostrando bem a beleza de São Luis. Só precisam melhorar a comida. Comemos um arroz de cuchá na gravação que não era legítimo.

   O projeto Brasil de todos os sambas, que já levou ao palco do CCBB a música da Bahia, apresenta nas próximas semanas, sempre de quinta a domingo, os ritmos de São Paulo e de Minas.

(© JB Online)

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