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Nóbrega se inspira no seminal O frevo

Antonio Carlos Nóbrega
 

Partindo da marcha citada no Jornal Pequeno, há cem anos, oitos maestros criam nova composição

JOSÉ TELES

Em 1990, o historiador Evandro Rabello fez a constatação: a palavra “frevo” foi publicada pela primeira vez na imprensa, numa notinha sobre um ensaio dos Empalhadores do Feitosa, no Jornal Pequeno, no dia 9 de fevereiro de 1907. No repertório do clube havia uma marcha intitulada O frevo. Infelizmente, deste frevo seminal, conhece-se apenas o título. Mas, pela importância simbólica para a data que se está prestes a comemorar, O frevo não poderia ficar fora das festas que, ao longo deste ano, homenagearão a antiga “marcha pernambucana”. Isso inspirou Antonio Nóbrega a encomendar a alguns dos mais importantes maestros e autores de frevo-de-rua em atividade a composição de um novo O frevo. “Pretendia um frevo nos moldes clássicos, com 32 compassos, com cada um dos maestros sendo responsável por quatro compassos. Como todos são grandes orquestradores, o frevo já chega prontinho, e os compassos serão amarrados por Duda”, explica Nóbrega.

A empreitada foi tocada por Zé Menezes, Clóvis Pereira, Edson Rodrigues, Duda, Luiz Guimarães, Ademir Araújo, Nunes e Spok. A nova composição recebeu o mesmo nome, O frevo (e quase o subtítulo: de todos nós, sugerido pelo maestro Duda). Desta vez O frevo não estará no repertório dos Empalhadores do Feitosa (até porque a agremiação nem existe mais), e sim entre os frevos que animarão o arrastão que Antonio Nóbrega comandará no dia 9 de fevereiro, saindo do Pátio de São Pedro, às 17h, e acabando a “ondia” no Marco Zero, onde serão comemorados os 100 anos do frevo. Autor do pontapé inicial nas festividades do centenário, Nóbrega alerta para que a data redonda não fique apenas na festa: “Não sou porta-voz de nada, mas a celebração do frevo não pode se limitar apenas a lustrar o verniz, esquecendo que por baixo tem o alicerce, que deve ser preservado”.

Preservado, mas não sem as inevitáveis modificações, ressalta Nóbrega, apontando que já se pode afirmar que existe um novo estilo de frevo, o de casa. “É um frevo que não é tocado exclusivamente ser dançado. É um frevo feito mais para ser ouvido. Aliás tem até um disco que Arimatéa Ayres lançou agora com o título Frevo de casa, tocado com sanfona. Achei este nome muito bem pensado, o frevo de casa, que é o que a Orquestra de Spok também faz.”

Ele tece uma crítica sutil à supervalorização que se vem dando aos artistas do Sudeste convidados para para a festa do frevo: “O que é preciso é valorizar as pessoas que contribuíram para que Pernambuco tenha este patrimônio, Clóvis, Duda. Queria saber quantas pessoas daqui ouvindo Último dia sabem o título da música ou que ela foi composta por um mastro nascido em Belo Jardim”. Nóbrega justifica seu temor de que o frevo fique novamente em segundo plano depois do centenário por uma cena testemunhada por ele dias atrás. “Aconteceu no Pátio de São Pedro um concurso de passo e não havia um só órgão da imprensa, jornal, rádio, televisão, nada. Também não vi ali ninguém de classe média, só o povo, aplaudindo, torcendo e se relacionando com uma dança de complexidade e virtuosismo. Só o povo”, conta ele, sem esconder a emoção.

(© JC Online)


Recife vai sediar a 1.ª Feira Música Brasil

Encontro deve reunir cerca de mil participantes, entre artistas, produtores, empresários de shows e de gravadoras, para discutir problemas e fazer negócios

Beatriz Coelho Silva

RIO - O Ministério da Cultura e a Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) têm grandes expectativas para a 1.ª Feira Música Brasil, que ocorre de 7 a 11 de fevereiro no Recife. O encontro, a exemplo do Middem, realizado anualmente em Cannes desde os anos 50, deve reunir cerca de mil participantes, entre artistas, produtores, empresários de shows e de gravadoras, para discutir seus problemas e, principalmente, fazer negócios. "No Middem costumamos fazer US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 3 milhões) em negócios que são fechados no decorrer do ano", disse o presidente da ABMI, Carlos de Andrade. "Aqui, esperamos alcançar ou duplicar essa quantia." A idéia é, em vez de levar brasileiros a feiras de música que ocorrem na Europa e nos Estados Unidos, trazer os empresários ao Brasil, para conhecer melhor o País que produz essa música. O ministro Gilberto Gil é habitué desse tipo de evento no exterior e, como artista, o melhor exemplo do ideal a ser alcançado.

Afinal, com quatro décadas de carreira, dezenas de clássicos e milhões de discos vendidos, ele é dos poucos artistas, mesmo brasileiros, cuja música é tocada no mundo inteiro e não só em emissoras e festivais étnicos.

"A música brasileira é uma das mais fortes no mundo, talvez a única que domine 80% do seu próprio mercado, e tem chances de crescer aqui e no exterior", disse o ministro em seu discurso. "Mesmo assim, está aquém das possibilidades, especialmente num momento em que a tecnologia muda as formas de produzir, divulgar e consumir a música. Mas mudança é sinônimo de oportunidade e por isso vamos reunir todos os elos da cadeia produtiva da música para identificar quem somos e do que precisamos."

O evento é patrocinado pela Petrobras e promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que pretende medir lá a possibilidade de financiar projetos na área da música, como já ocorre no cinema. A chefe do departamento de Economia da Cultura do banco, Luciane Gorgulho, avisa que, além disso, o BNDES vai tentar fazer a ponte entre os produtores e os empresários dedicados à música.

O evento terá shows espalhados por todo o Recife e Olinda, palestras com especialistas brasileiros e estrangeiros, e uma feira com estandes nos quais os profissionais de música (gravadoras, editoras, fabricantes de instrumentos, etc.) vão oferecer seus produtos.

A escolha do Recife e a data do evento foram definidas em função da proximidade do carnaval e também do centenário do frevo. "É um gênero que existe há mais de um século, mas usamos como marco a primeira vez em que a palavra foi impressa num jornal pernambucano para identificar a música local", explicou o secretário de Cultura do Recife, João Roberto Peixe. "Além disso quem vier para a feira, pode ficar para o carnaval, que ocorre na semana seguinte, 18 de fevereiro."

(© Agência Estado)


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