Os verdes mares de Alencar
estão menos belos. Morreu no Rio, aos 90
anos, o poeta e escritor Mello Mourão
Nascido em Ipueiras, a 8 de janeiro de 1917,
Gerardo Mello Mourão morreu vítima de falência
múltipla de órgãos. Ele chegou a ser indicado ao
Prêmio Nobel de Literatura em 1979. Em 1996
ganhou o Troféu Sereia de Ouro. Desde janeiro
estava internado na Casa de Saúde São José, no
Rio, com problemas respiratórios. Ele era
safenado.
O poema épico “A Invenção do Mar” (Prêmio Jabuti
de 1999) é o livro mais popular de Gerardo Mello
Mourão, ao lado de “O Valete de Espadas”,
considerado pela crítica o primeiro romance
expressionista da literatura brasileira. Com
estes e outros títulos, Gerardo foi traduzido em
várias línguas. Em seu último livro, “O Bêbado
de Deus”, o poeta fez uma biografia romanceada
de São Gerardo de Majella. A vida do santo
italiano nascido em 1726 é contada, segundo suas
palavras, “com a ingênua simplicidade da
linguagem infantil de todos os seus gestos”.
Sereia de Ouro
Feliz com o reconhecimento de sua terra natal, o
escritor, poeta e jornalista manifestou
importantes detalhes de sua vida, sua obra e de
sua visão de mundo em entrevista ao Diário do
Nordeste , em 1996, por ocasião de sua homenagem
com o Troféu Sereia de Ouro. “Receber grandes
prêmios internacionais não me importa muito. O
que me enternece mesmo é receber a láurea da
Sereia de Ouro no Ceará, como um aceno que me
faz da eternidade o grande e saudoso Edson
Queiroz. Esta sim, é a glória que fica, eleva,
honra e consola, como queria Machado de Assis”.
Ao comentar sua visão sobre os rumos do País, o
escritor não abria mão de demonstrar toda o
esplendor de sua formação clássica. “Não sou
otimista nem pessimista. Creio no Brasil. Não
podemos tomar consciência da nação e de sua
grandeza, enquanto não se criara aqui uma
educação para o desenvolvimento do homem, sem a
qual não pode haver desenvolvimento da Pólis”,
considerou, lastimando também o quadro cultural
brasileiro e comparando Caetano Veloso e Chico
Buarque a Dercy Gonçalves, Tiririca e “outros
produtos da imbecilidade generalizada”.
O escritor afirmou, na época, que ninguém o
seduzia literariamente, considerando sua obra
antiacadêmica, desprezando, inclusive, a
Academia Brasileira de Letras, cuja cadeira só
disputou, uma única vez, por insistência de
amigos. Sobre sua obra, privou-se de maiores
comentários. “Tenho apenas aquela certeza
humilde e soberba de Keats: ‘Acho que meu nome
estará entre os poetas de meu tempo, depois de
minha morte’”.
HENRIQUE NUNES
Repórter
NÚMERO
1999
Mello Mourão ganhou o Prêmio Jabuti com ´A
Invenção do Mar´, de poesia épica, seu livro
mais popular ao lado de ´O Valete de Espadas´. O
escritor nasceu em Ipueiras (CE) há 90 anos
FIQUE POR DENTRO
Queria ser santo, mas terminou escritor
Na pré-adolescência, Gerardo Mello
Mourão vislumbrou a vida religiosa, ao ser
levado a um seminário redentorista em Congonhas
do Campo, Minas Gerais. ´Eu queria ser santo´,
revelou, remetendo-se aos 17 anos, quando tomou
hábito dos Padres de Santo Afonso em um convento
de Juiz de Fora. ´Faltou-me o heroísmo´,
admitindo dificuldades em adaptar-se à vida
monástica. Já no Rio, seus familiares
estimularam a trajetória militar quase tão dura
como a vida de monge. ´Claro, não deu certo. Eu
estava picado pela literatura, pela poesia,
opção, de resto, mais exigente que qualquer
outra´. Vira professor e, influenciado por Alceu
de Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, torna-se
integralista. ´Não tenho do que me arrepender,
participei do mais fascinante grupo da
inteligência do País´, afirmou, pontuando
princípios defendidos pela doutrina marxista.
Atuando como jornalista (inclusive em Pequim,
entre 1980 e 1982, pela Folha de São Paulo,
Mourão foi deputado federal por Alagoas, mas
desiludiu-se da atividade.
(©
Diário do Nordeste) Morre
aos 90 anos o poeta Gerardo Mello Mourão
Intelectual participou do integralismo e teve os
direitos políticos cassados durante o regime militar; indicado ao Nobel,
ganhou prêmios no Brasil
Autor de "O Valete de Espadas" e "Invenção do Mar" estava internado
desde janeiro no Rio e teve falência múltipla de órgãos
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O
poeta e escritor cearense Gerardo Mello Mourão morreu na madrugada de
ontem, no Rio, aos 90 anos. Ele estava internado desde janeiro na Casa
de Saúde São José, no Humaitá (zona sul), e foi vítima de falência
múltipla de órgãos. O enterro será hoje, às 17h, no cemitério São João
Batista (RJ).
Mourão tinha problemas respiratórios e cardíacos havia muito tempo, e
piorou depois de ter sofrido uma queda ao descer de um avião.
Um dos três filhos de Mourão é o artista plástico Tunga, que estava fora
do país ontem e voltará para o sepultamento. O poeta também deixa viúva,
Léa.
Correspondente da Folha em Pequim entre 1980 e 1982, Mourão escreveu
obras importantes como o romance "O Valete de Espadas" (1960); o livro
de poemas "Peripécias de Gerardo" (1972), vencedor do Prêmio Mário de
Andrade, da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); e o épico
"Invenção do Mar" (1998), ganhador do Prêmio Jabuti. Foi um dos poucos
brasileiros indicados ao Prêmio Nobel de Literatura -em 1979.
Nascido em Ipueiras, no Ceará, em 8 de janeiro de 1917, estudou em
seminário em Congonhas do Campo (MG) e, depois, em um convento em Juiz
de Fora (MG), onde aprendeu holandês, latim e grego. Ao longo da vida,
viria a falar nove idiomas.
Antes de se dedicar à produção literária, no entanto, deixou o convento,
ingressou no curso de direito (que não chegou a concluir) e se filiou à
Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento nacionalista, com traços
de direita. Nessa época, passou a se dedicar também ao jornalismo e a
dar aulas em vários colégios.
]O envolvimento com o integralismo faria Mourão ser detido inúmeras vezes
entre 11 de maio de 1938 -quando participou com os camisas-verdes do
ataque ao Palácio Guanabara- e 1945, ano do fim do Estado Novo. Em 1942,
acusado de colaborar com nazistas, foi condenado à morte -pena reduzida
a 30 anos de prisão, dos quais cumpriria menos de seis.
Em 1977, no livro "Suástica sobre o Brasil", o brasilianista Stanley
Hilton acusaria o escritor de ter participado de uma rede de espionagem
nazista no país.
Amigo próximo do escritor francês Michel Deguy e do chileno Pablo
Neruda, Mourão foi, nos anos 60, professor de história e cultura da
América na Universidade Católica do Chile. Duas vezes deputado federal
por Alagoas, teve seus direitos políticos cassados em 1969 pelo regime
militar. Na década de 80, foi presidente da Rio Arte e secretário de
Cultura do Estado do Rio.
(©
Folha de S. Paulo)
Escritor Gerardo Mello Mourão morre aos 90 anos
Autor de A Invenção do Mar
foi indicado ao Prêmio Nobel em 1979
Rodrigo Morais
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Arquivo/AE
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RIO - Escritor e poeta indicado
ao Prêmio Nobel em 1979, o cearense Gerardo Mello Mourão morreu
nesta sexta-feira, no Rio, aos 90 anos, de falência múltipla dos
órgãos. Ele passou dois meses internado na Casa de Saúde São José,
no Humaitá, zona sul da cidade.
Nascido na cidade de Ipueiras, Mourão foi
integralista durante a juventude e esteve preso diversas vezes, por
razões políticas, durante o Estado Novo (1937- 1945) e a ditadura
militar iniciada em 1964.
Sua passagem mais longa pela cadeia durou quase
seis anos, entre 1942 e 1948, período que aproveitou para escrever.
Alguns de seus livros mais famosos são A Invenção do Mar e
O País dos Mourões. Reconhecido internacionalmente, foi amigo do
poeta Pablo Neruda (1904-1973).
Viveu em alguns países da Europa e também no
Chile, onde se dedicou à vida acadêmica, e China, de onde escreveu
para a imprensa durante a década de 1980, sendo o primeiro
correspondente brasileiro a se estabelecer naquele país. Seu enterro
será às 17 horas desta sábado, no Cemitério São João Batista, em
Botafogo.
(©
Agência Estado) |