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 Morre Gerardo Mello Mourão

Foto: Adilson Vasconcelos (9/9/1996)

Mello Mourão disputou o Prêmio Nobel de Literatura
 

Os verdes mares de Alencar estão menos belos. Morreu no Rio, aos 90 anos, o poeta e escritor Mello Mourão

Nascido em Ipueiras, a 8 de janeiro de 1917, Gerardo Mello Mourão morreu vítima de falência múltipla de órgãos. Ele chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 1979. Em 1996 ganhou o Troféu Sereia de Ouro. Desde janeiro estava internado na Casa de Saúde São José, no Rio, com problemas respiratórios. Ele era safenado.

O poema épico “A Invenção do Mar” (Prêmio Jabuti de 1999) é o livro mais popular de Gerardo Mello Mourão, ao lado de “O Valete de Espadas”, considerado pela crítica o primeiro romance expressionista da literatura brasileira. Com estes e outros títulos, Gerardo foi traduzido em várias línguas. Em seu último livro, “O Bêbado de Deus”, o poeta fez uma biografia romanceada de São Gerardo de Majella. A vida do santo italiano nascido em 1726 é contada, segundo suas palavras, “com a ingênua simplicidade da linguagem infantil de todos os seus gestos”.

Sereia de Ouro

Feliz com o reconhecimento de sua terra natal, o escritor, poeta e jornalista manifestou importantes detalhes de sua vida, sua obra e de sua visão de mundo em entrevista ao Diário do Nordeste , em 1996, por ocasião de sua homenagem com o Troféu Sereia de Ouro. “Receber grandes prêmios internacionais não me importa muito. O que me enternece mesmo é receber a láurea da Sereia de Ouro no Ceará, como um aceno que me faz da eternidade o grande e saudoso Edson Queiroz. Esta sim, é a glória que fica, eleva, honra e consola, como queria Machado de Assis”.

Ao comentar sua visão sobre os rumos do País, o escritor não abria mão de demonstrar toda o esplendor de sua formação clássica. “Não sou otimista nem pessimista. Creio no Brasil. Não podemos tomar consciência da nação e de sua grandeza, enquanto não se criara aqui uma educação para o desenvolvimento do homem, sem a qual não pode haver desenvolvimento da Pólis”, considerou, lastimando também o quadro cultural brasileiro e comparando Caetano Veloso e Chico Buarque a Dercy Gonçalves, Tiririca e “outros produtos da imbecilidade generalizada”.

O escritor afirmou, na época, que ninguém o seduzia literariamente, considerando sua obra antiacadêmica, desprezando, inclusive, a Academia Brasileira de Letras, cuja cadeira só disputou, uma única vez, por insistência de amigos. Sobre sua obra, privou-se de maiores comentários. “Tenho apenas aquela certeza humilde e soberba de Keats: ‘Acho que meu nome estará entre os poetas de meu tempo, depois de minha morte’”.

HENRIQUE NUNES
Repórter

NÚMERO
1999

Mello Mourão ganhou o Prêmio Jabuti com ´A Invenção do Mar´, de poesia épica, seu livro mais popular ao lado de ´O Valete de Espadas´. O escritor nasceu em Ipueiras (CE) há 90 anos

FIQUE POR DENTRO
Queria ser santo, mas terminou escritor

Na pré-adolescência, Gerardo Mello Mourão vislumbrou a vida religiosa, ao ser levado a um seminário redentorista em Congonhas do Campo, Minas Gerais. ´Eu queria ser santo´, revelou, remetendo-se aos 17 anos, quando tomou hábito dos Padres de Santo Afonso em um convento de Juiz de Fora. ´Faltou-me o heroísmo´, admitindo dificuldades em adaptar-se à vida monástica. Já no Rio, seus familiares estimularam a trajetória militar quase tão dura como a vida de monge. ´Claro, não deu certo. Eu estava picado pela literatura, pela poesia, opção, de resto, mais exigente que qualquer outra´. Vira professor e, influenciado por Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, torna-se integralista. ´Não tenho do que me arrepender, participei do mais fascinante grupo da inteligência do País´, afirmou, pontuando princípios defendidos pela doutrina marxista. Atuando como jornalista (inclusive em Pequim, entre 1980 e 1982, pela Folha de São Paulo, Mourão foi deputado federal por Alagoas, mas desiludiu-se da atividade.

 

(© Diário do Nordeste)


Morre aos 90 anos o poeta Gerardo Mello Mourão

Intelectual participou do integralismo e teve os direitos políticos cassados durante o regime militar; indicado ao Nobel, ganhou prêmios no Brasil

Autor de "O Valete de Espadas" e "Invenção do Mar" estava internado desde janeiro no Rio e teve falência múltipla de órgãos


DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O poeta e escritor cearense Gerardo Mello Mourão morreu na madrugada de ontem, no Rio, aos 90 anos. Ele estava internado desde janeiro na Casa de Saúde São José, no Humaitá (zona sul), e foi vítima de falência múltipla de órgãos. O enterro será hoje, às 17h, no cemitério São João Batista (RJ).

Mourão tinha problemas respiratórios e cardíacos havia muito tempo, e piorou depois de ter sofrido uma queda ao descer de um avião.

Um dos três filhos de Mourão é o artista plástico Tunga, que estava fora do país ontem e voltará para o sepultamento. O poeta também deixa viúva, Léa.

Correspondente da Folha em Pequim entre 1980 e 1982, Mourão escreveu obras importantes como o romance "O Valete de Espadas" (1960); o livro de poemas "Peripécias de Gerardo" (1972), vencedor do Prêmio Mário de Andrade, da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); e o épico "Invenção do Mar" (1998), ganhador do Prêmio Jabuti. Foi um dos poucos brasileiros indicados ao Prêmio Nobel de Literatura -em 1979.

Nascido em Ipueiras, no Ceará, em 8 de janeiro de 1917, estudou em seminário em Congonhas do Campo (MG) e, depois, em um convento em Juiz de Fora (MG), onde aprendeu holandês, latim e grego. Ao longo da vida, viria a falar nove idiomas.

Antes de se dedicar à produção literária, no entanto, deixou o convento, ingressou no curso de direito (que não chegou a concluir) e se filiou à Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento nacionalista, com traços de direita. Nessa época, passou a se dedicar também ao jornalismo e a dar aulas em vários colégios.

]O envolvimento com o integralismo faria Mourão ser detido inúmeras vezes entre 11 de maio de 1938 -quando participou com os camisas-verdes do ataque ao Palácio Guanabara- e 1945, ano do fim do Estado Novo. Em 1942, acusado de colaborar com nazistas, foi condenado à morte -pena reduzida a 30 anos de prisão, dos quais cumpriria menos de seis.

Em 1977, no livro "Suástica sobre o Brasil", o brasilianista Stanley Hilton acusaria o escritor de ter participado de uma rede de espionagem nazista no país.

Amigo próximo do escritor francês Michel Deguy e do chileno Pablo Neruda, Mourão foi, nos anos 60, professor de história e cultura da América na Universidade Católica do Chile. Duas vezes deputado federal por Alagoas, teve seus direitos políticos cassados em 1969 pelo regime militar. Na década de 80, foi presidente da Rio Arte e secretário de Cultura do Estado do Rio.

(© Folha de S. Paulo)


Escritor Gerardo Mello Mourão morre aos 90 anos

Autor de A Invenção do Mar foi indicado ao Prêmio Nobel em 1979

Rodrigo Morais

Arquivo/AE
 
RIO - Escritor e poeta indicado ao Prêmio Nobel em 1979, o cearense Gerardo Mello Mourão morreu nesta sexta-feira, no Rio, aos 90 anos, de falência múltipla dos órgãos. Ele passou dois meses internado na Casa de Saúde São José, no Humaitá, zona sul da cidade.

Nascido na cidade de Ipueiras, Mourão foi integralista durante a juventude e esteve preso diversas vezes, por razões políticas, durante o Estado Novo (1937- 1945) e a ditadura militar iniciada em 1964.

Sua passagem mais longa pela cadeia durou quase seis anos, entre 1942 e 1948, período que aproveitou para escrever. Alguns de seus livros mais famosos são A Invenção do Mar e O País dos Mourões. Reconhecido internacionalmente, foi amigo do poeta Pablo Neruda (1904-1973).

Viveu em alguns países da Europa e também no Chile, onde se dedicou à vida acadêmica, e China, de onde escreveu para a imprensa durante a década de 1980, sendo o primeiro correspondente brasileiro a se estabelecer naquele país. Seu enterro será às 17 horas desta sábado, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

(© Agência Estado)

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