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Recife presta justa homenagem ao poeta Carlos Pena Filho

05-06-2008

Carlos Pena Filho: memória preservada em azul

 

Infográfico
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Do JC OnLine

"(...)metade roubada ao mar, metade à imaginação, pois é do sonho dos homens que uma cidade se inventa (...)".
Carlos Pena Filho

   O Recife resgata uma dívida de mais de 44 anos, quando morreu um dos poetas que melhor traduziu o amor à cidade. Com a inauguração do mausoléu de Carlos Pena Filho (1929 - 1960), pensado sob inspiração da sua obra, finalmente é cumprida a Lei Municipal 7436 de novembro de 1961 e dá lugar merecido aos restos mortais do "poeta do azul", antes guardados em vala comum, no cemitério de Santo Amaro.

   A cerimônia de inauguração do mausoléu, às 10h30, contará com a presença do prefeito João Paulo e familiares do autor.

   Para que obra traduzisse um pouco da essência do trabalho do ilustre filho pernambucano, a arquiteta Adriana Moury mergulhou em vários textos do autor. Foi do azul, cor preferida do poeta, que veio a primeira referência. Revestido em porcelanato azul céu, com detalhes em mármore branco, o mausoléu traz um trecho do seu poema Para fazer um soneto: "Tome um pouco de azul, se a tarde é clara, e espere pelo instante ocasional. Neste curto intervalo Deus prepara e lhe oferta a palavra inicial". 

   Filho de portugueses, Carlos Pena Filho nasceu em 1929 e publicou seu primeiro livro de poesias "O tempo da busca" em 1952. Das letras, surgiram também inspirações musicais, quando, em parceria com o mestre Capiba, compôs alguns sucessos, como A mesma rosa amarela.

   Em 1º de julho de 1960, um trágico acidente automobilístico pôs fim à vida do poeta, que deixaria marcada para sempre a história literária do Estado.

(© JC Online, 29.05.2004)


Último soneto de Carlos Pena Filho foi publicado no JC

Do JC OnLine

   Carlos Pena Filho foi funcionário do Jornal do Commercio. Assinava as colunas Literatura e Rosa dos Ventos. O seu último poema, Soneto Oco, foi publicado no JC, no dia 26 de junho de 1960.

Soneto oco

Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.

(© JC Online, 29.05.2004)


Recife paga dívida a Carlos Pena Filho

Autor de um dos mais belos poemas sobre a cidade ganha, enfim, seu mausoléu da Prefeitura do Recife

   A viúva do poeta Carlos Pena Filho, a artista plástica Tânia Carneiro Leão, soube apenas na sexta-feira da homenagem que a Prefeitura do Recife faz hoje, entregando aos recifenses o mausoléu do escritor no cemitério de Sto. Amaro, a ser inaugurado hoje, às 10h30, pelo prefeito João Paulo. “É muito importante uma homenagem como essa. Um grande artista como ele, quando falece, com o tempo não pertence apenas à família, mas ao imaginário popular”, disse Tânia.

   A construção do mausoléu do autor chega em um momento no qual um dos principais ‘memoriais’ de Carlos Pena é fechado, o tradicional Bar Savoy, que tinha na sua parede um texto do poeta revelando a solidão dos boêmios perdidos pelo Centro do Recife.

   “Acho que o fechamento do bar foi por prejuízo que os donos estavam tendo, e isso demonstra bem a decadência em que vive o centro do Recife. Aquele bar fechado é uma tristeza, porque era um dos símbolos da memória de Carlos Pena Filho para a cidade”, completou Tânia.

   É de Pena Filho um dos mais belos poemas sobre o Recife, cidade onde nasceu em 17 de maio de 1929 no Recife e faleceu em 11 de julho de 1960: “No ponto onde o mar se extingue/ e as areias se levantam/ cavaram seus alicerces/ na surda sombra da terra/ e levantaram seus muros/ do frio sono das pedras. // Depois armaram seus flancos/ trinta bandeiras azuis/ plantadas no litoral.// Hoje, serena, flutua,/ metade roubada ao mar/ metade à imaginação/ pois é dos sonhos dos homens/ que uma cidade se inventa” (Guia Prático da Cidade do Recife).

   Filho de portugueses fez seu curso primário em Portugal e o secundário no Colégio Nóbrega, Recife, formando -se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, em frente a qual se encontra o busto do poeta.

O Poeta do Azul estreou em livro (1952) com o volume O Tempo da Busca (Edições Região), seguindo-se Memórias do Boi Serapião (Gráfico Amador, 1965, Recife), A Vertigem Lúcida (Secretaria da Educação/PE, 1958) e Livro Geral (Rio de Janeiro, Livraria São José, 1958).

SONETO

A Solidão e sua Porta

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.

(© JC Online, 31.05.2004)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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