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Apesar de ter herdado o sobrenome do mais famoso mestre de maracatu
rural, Maciel Salu grava um novo CD que é tudo menos regional Quando se fala em Maciel Salu, as primeiras referências que vêm à mente são cavalo marinho, maracatu, coco e forró pé-de-serra. Não que este pensamento esteja errado. Mas agora que está finalizando o segundo disco de Maciel Salu e o Terno do Terreiro, o que o rabequeiro não quer é justamente ficar amarrado a esses estilos musicais. O CD, ainda sem nome – ou melhor, “é segredo”, nas palavras de Salu – já está gravado e encontra-se em fase de mixagem, a cargo do produtor-baixista-pau-pra-toda-obra Júnior Areia (do Mundo Livre S/A), no Fábrica, nas cercanias da Várzea. O líder do Terno do Terreiro recebeu a reportagem do Jornal do Commercio no estúdio para contar os detalhes da produção. “Começamos a gravar no final de abril e terminamos na terceira semana de maio. A intenção é lançá-lo logo depois da Copa do Mundo”, diz Maciel. As diferenças para o primeiro disco solo, em sua opinião, não são tantas. “Diferente sim, mas sem perder a identidade.” Para Maciel, houve pequenas mudanças na sonoridade, tornando-a menos regional, mais universal. Areia concorda. “O disco está mais arrojado, mais dinâmico. Maciel voltou com toda a bexiga”, elogia o produtor, que também participou de algumas faixas tocando baixo. Como a adição de uma guitarra ao set de instrumentos usuais do Terno do Terreiro – viola, baixo, rabeca e muita percussão. “Muita gente fala que por eu ser filho de Mestre Salu, o meu som é coco ou é maracatu. Claro que tem um pouco, já que eu cresci vendo e ouvindo isso. Mas não é só isso. Nossa música vai do tradicional ao contemporâneo”, reclama. O músico faz questão de ressaltar a participação dos integrantes do Terno do Terreiro na concepção da “nova” sonoridade. São eles: Juliano Holanda (baixo, bandolim, viola, guitarra e voz), Bruno Lopes (percussão e voz), Rudá Rocha (percussão e voz), Zé Mário Freitas (percussão e voz) e Tiné (percussão, guitarra, baixo e voz). “No disco, fizemos algumas parcerias. Na maioria das vezes, eu componho a música e fazemos os arranjos juntos. Cada um tem suas influências. Todo mundo aqui ouve de tudo”, revela. Além disso, houve algumas participações especiais. A maioria delas, Maciel Salu prefere não nominar. “Ainda precisamos confirmar com os artistas que estão viajando”, desconversa. Estes artistas secretos seriam Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi, e o paraibano Chico César. Mas a participação da ex-companheira da Orchestra Santa Massa, Isaar de França, ele não segreda. A de Mariano Teles, mestre do Cavalo Marinho Estrela, de Aliança, ele faz questão de dizer também. Por falar em música eletrônica, o rabequeiro diz que há influências sim do trabalho que desenvolveu ao lado de DJ Dolores, Fabinho Trummer e o resto da OSM. “Vamos ter um remix, feito por nós mesmos.” O disco tem patrocínio da Chesf e vai sair no velho esquema independente. “É muito melhor ser independente. Assim, a gente tem controle sobre quanto vende, onde vende. As gravadoras só querem ganhar dinheiro”, resume Maciel Salu. São 12 faixas, incluindo uma instrumental, intitulada Forró do Sétimo Dia. A reportagem ouviu pelo menos uma música – Flandrileiro. Se o resto do CD seguir esta linha, é bom se preparar para uma boa dose de animação. “O disco está mais dançante do que o primeiro”, diz Areia, lembrando de A pisada é assim, de 2003. Mesmo com tanto trabalho – a mixagem, promete Areia, termina ainda esta semana –, Maciel tem shows marcados para Brasília, João Pessoa, Patos-PB e Recife. “O nosso show é um show de palco. Profissional. É um trabalho para o ano todo e não apenas para o São João”, adverte Maciel Salu. Formação musical parte da Zona da Mata Apesar da busca por uma sonoridade menos heterodoxa, Maciel Salu não esquece das origens. Nem poderia, uma vez que o próprio DNA do músico está impregnado da cultura popular da Zona da Mata Norte. O rabequeiro, filho e neto de rabequeiros, faz questão de continuar homenageando o massapê musical que o influenciou desde criancinha.No novo disco, os elementos de maracatu e cavalo marinho estão presentes. Musical, conceitual e liricamente. A letra de Flandrileiro, por exemplo, relata uma festa de Reis que só poderia acontecer nos canaviais ao redor de Nazaré da Mata, Tracunhaém e Aliança. Fala em luz de carboreto, jogo de bozó e outras peculiaridades típicas da região. “Ouço de tudo: Fela Kuti, Chico Buarque, música cubana, Cezaria Evora. Mas minha base é Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Jackson do Bandeiro e os mestres da Zona da Mata, que vi desde pequeno: Luiz Paixão, Manuel Ferreira, Manuel Pitunga, Biu Alexandre, Biu Duda e Zé dos Passos.” O músico está trabalhando no projeto Festejo no Samba, que deve acontecer na segunda semana de junho, em Tracunhaém. “Vão acontecer oficinas para a juventude, em que os mestres vão repassar o seu conhecimento. E eles vão ter o mesmo reconhecimento que as atrações principais, e não apenas uma merreca de cachê”, reforça Maciel Salu. |
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