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 "Carnavalzão é o meu perfil", diz Ivete Sangalo

Ivete Sangalo
 

Cantora diz que estilo espanta a tristeza: "Conheço um caixão como ninguém"

Baiana, 34 anos, que já vendeu 8 milhões de discos, lança CD de show no Maracanã e diz que vai reduzir ritmo para ter filho

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Na sacada do Copacabana Palace, o hotel mais famoso do Rio, Ivete Sangalo faz pose de estrela para as fotos. Entre um clique e outro, brinca com as fãs que estão lá embaixo, na calçada, como se fosse uma delas: "Gritem para acharem que eu sou famosa"; "Não chorem por mim" (dando uma de Evita Perón); e ainda faz boca de Camila Pitanga quando uma das meninas diz que ela "tá de Bebel hoje" -alusão à personagem da atriz na novela global "Paraíso Tropical".

A baiana de 34 anos concilia o status de uma das maiores vendedoras de discos do país -já são 8 milhões de unidades em 14 anos de carreira, solo e na Banda Eva- com um lado moleca que parece protegê-la de medos e dores.

Ivete até reconhece que ficou nervosa quando sobrevoou o Maracanã em 16 de dezembro, momentos antes do show que fez para 50 mil pessoas.

Mas entrou no palco já brincando com sua roupa de Bat Girl ("Tô gostosa, né?") e deu conta do recado, que chega agora no formato CD ("Ivete no Maracanã"), em 10 de abril à tela do Multishow e, em seguida, a DVD.
"Tenho medo de cobra. Agora, de negócio de trabalho não tenho medo, não. Nem de gente. Nego é que tem que ter medo de mim", brinca ela, mais uma vez.

No show/CD, pontuado por gritos de "Tira os pés do chão" ("Falo muito essa frase, né? Mas é que na hora, negão, só vem isso"), quase não há espaço para baladas. Sucessos como "Abalou" e "Berimbau Metalizado" se misturam a clássicos de Tim Maia ("Não Quero Dinheiro", "Não Vou Ficar") e Jorge Ben Jor ("País Tropical", "Taj Mahal").

O ritmo é alucinante, sendo difícil entender como cantora e público conseguem suportá-lo. A tristeza é algo sem muito cartaz com Ivete.

"Talvez seja uma proteção. Já sofri para cacete. Perdi um irmão quando eu tinha 15 anos. Perder um irmão é a coisa mais dolorosa, não se compara. E olha que eu já perdi pai, mãe, tia... Conheço um caixão como ninguém. Fiquei muito encruada, então acho que supero os sofrimentos antes que eles cheguem", diz.

Ela garante que não faz planos para além do próximo disco ("É perda de tempo, meu irmão") e que, ao contrário de Sandy, ainda não chegou sua hora de cantar standards norte-americanos ou sofisticações afins.
"Se você olhar o perfil da Sandy, existe uma adequação maior. Já o meu [perfil] é carnavalzão, alta pulsação. Ela chegou nesse momento, até por ter mais tempo de carreira. O meu inevitavelmente vai chegar. Mas não penso nisso agora não, véio", diz.

O que ela garante para um futuro próximo é a troca temporária da aeróbica do palco pelo primeiro filho.
"Não vou parar totalmente [de trabalhar], porque gravidez não é doença. Mas, quando eu estiver prenha, vai ter uma questão física de não atuar em prol do menino. Não sou tão neurótica, não vou fazer um "Acústico" na maternidade. "Agora com vocês, o nenê: uééé, uééé. Ah, que som, que pegada, que coisa linda!", faz piada.

(© Folha de S. Paulo)


NO CINEMA, ELA QUER ATUAR EM DRAMALHÃO

Se, no palco, Ivete Sangalo prefere pular e gritar, no cinema ela gostaria de cair no berreiro. A cantora já fez participações em filmes de Renato Aragão e Xuxa, mas queria trabalhar como atriz. "Não tinha vontade de fazer um filme da minha historinha. Profissionalmente, não fui tão testada quanto Zezé e Luciano", diz, referindo-se a "2 Filhos de Francisco". "Queria uma coisa dramática, em que eu pudesse chorar."

(© Folha de S. Paulo)


Ivete Sangalo superstar

Cantora baiana faz um balanço da carreira no DVD gravado ao vivo no Maracanã com uma megaprodução

JOSÉ TELES
Enviado especial

RIO – Aglomerado de fãs diante do imponente Hotel Copacabana Palace, um clássico da arquitetura mediterrânea, é sinal de que algum popstar internacional pode estar ali hospedado. Terça-feira havia um bando de fãs diante do hotel. Tietando quem? Roger Waters, ex-Pink Floyd, que fez show no Rio no fim de semana? Não. Há um popstar, sim, mas brasileiro. Melhor: uma baiana, de Juazeiro. Ivete Sangalo, hoje a mais bem-sucedida cantora de música popular do País. Campeã de vendagem de discos em meio ao naufrágio da indústria fonográfica.

Apostando nesta estrela, a Universal Music arquitetou, com uma pompa rara nos dias atuais, o lançamento do DVD e CD, Multishow ao vivo Ivete Sangalo ao vivo no Maracanã (que irá ao ar, pelo canal de TV por assinatura, no dia 10 de abril). E não é para menos. Ivete Sangalo foi capaz de arrastar uma multidão calculada em 55 mil pessoas para o velho e glorioso estádio, numa superprodução comparável a de estrelas do porte de Madonna ou Cristina Aguillera. Uma estrutura que, ela reconhece, será quase impossível de levar para outros palcos no Brasil.

O salão onde acontecerá a entrevista coletiva é pequeno para a quantidade de jornalistas presentes. A cantora atende primeiro às TVs, em outra sala. No salão, quem chega antes é um “treilão” do vídeo, com direito a uma rápida intervenção do diretor do Multishow, Wilson Cunha: “No DVD foi empregada uma técnica de primeiro mundo, porém o que é mais importante é a brasilidade que está presente nele. Só uma platéia brasileira seria capaz de tanto calor, e uma cantora feito Ivete Sangalo, de transmitir tanta energia”. A cantora entra no salão perto do final da exibição. Senta ao lado dos irmãos, entre os quais está o onipresente Jesus Sangalo. Os flashes não param.

As perguntas são o que se pode esperar. Uma repórter, da Capricho, revista especializada em celebridades quer saber se as lágrimas da cantora num trecho do show, é de “alívio”: “Não, de jeito nenhum, imagina! É de emoção, minha filha!”, responde Ivete Sangalo com seu conhecido jeito despachado. Outra moça indaga se a roupa de couro negro que ela veste na capa do DVD e na abertura do show foi inspirado na mulher-gato, do filme de Batman: “Nunca! Seguinte: quando falei que ia fazer show no Maracanã as pessoas me olharam assim surpreendidas. Então me veio a idéia da roupa de heroína, poderosa, e também a influência daquelas moças que apareciam na capa daqueles discos que meus irmãos compravam uma coletâneas, As Motokas, As Supernovas. Só não podia ser de biquíni, porque eu sou pobrinha (sic), mas sou limpinha. Meu irmão então veio com a sugestão da moto, que está na capa e no início do show”.

Ivete interrompe a pergunta do crítico do Correio da Bahia, Hagamenon Brito (criador do rótulo axé music): “Você pegou pesado comigo ontem no jornal. Mas tudo bem, pode não gostar da minha música, mas gosta da minha pessoa” (Ela se refere a uma resenha do seu novo disco, publicada em Salvador naquele mesmo dia). Brito quer saber se é verdade que Bono, do U2 foi convidado para participar da gravação do DVD. A cantora confirma: “Conheci Bono na casa de Gil, no Carnaval. Fui falar com ele e me espantei por ele já saber quem eu era (fala inglês com sotaque baiano). “Ele disse que toparia cantar comigo, fez isso no meu trio, mas infelizmente para a gravação Bono não estava disponível”.

Mais uma pergunta, agora envolvendo futebol. Querem saber o eu ela achou de aparecer durante o show as cores de vários times cariocas. Ivete filosofa: “Futebol e música tem que antes de tudo se direcionado à diversão, sem entretenimento a gente se mata, já não basta esta violência? Aquelas torcidas todas torciam por mim. É como quando o Brasil joga, todo mundo torce por ele. Meu nome é seleção”.

Ivete cai na estrada com o show do novo DVD (que só chega às lojas dia 8 de abril) no próximo mês, mas sabe que não vai poder repetir a mesma superestrutura do Maracanã: “Não quero inviabilizar a ida de meu show a outros lugares. Para mim o importante é que o contratante me garanta um som de boa qualidade, e que meu público esteja lá”.

(© JC Online)


Artista mostra que pode ir mais além

A Ivete Sangalo que os fãs em geral conhecem, é a que depende apenas de um som de boa qualidade para fazer a platéia “tirar o pé do chão”. Neste show registrado no Maracanã está a superstar que o País desconhece. A primeira meia-hora do espetáculo não fica devendo nada aos maiores shows internacionais do gênero. Figurino, banda, coreografia, luzes, efeitos especiais, tudo é perfeito.

Mas em pouco tempo, depois das guitarras pesadas da inovadora Berimbau metalizado, ela deixa de lado a pose de super-heroína para voltar a ser a rainha da axé music. Uma cantora do povão. Envereda pelo hit Flor do reggae, bonitinho mas de harmonia e rimas ordinárias. Com Samuel Rosa (Skank) faz uma versão samba-reggae de Não vou ficar, de Tim Maia. A axé para animar a turma do abadá prossegue com Saulo, da Banda Eva, vira baba romântica, com o espanhol Alejandro Sanz (com Coração partido), e continua no velho som de Salvador. Com pedidos de “mãozinha pra cima”, e canções que destoam do seu axé pop alto astral, em Chupa toda e Bota pra ferver.

A música para a turma do cordão de isolamento tem uma pausa que refresca. Entram as baladas, com Quando a chuva passar, Se eu não te amasse tanto assim, e uma aguada Sei que vou te amar (Tom e Vinicius). A final vai com o funk-charm de MC Buchecha, País Tropical, pot-pourri com Arerê e Taj Mahal. O público não pára de cantar e pular durante as cercas de duas horas da apresentação. Na coletiva Ivete Sangalo foi taxativa: “Quem quiser pode escrever o que achar, mas eu acho que o DVD ficou exatamente como eu queria, é uma síntese da minha carreira”.

Não se pode exigir mais da despachada Ivete Sangalo, que confessou na entrevista que se perde quando está lendo algum livro (o último que lembra ter ido por inteiro, foi Cem anos de solidão, Gabriel Garcia Marques), e que não se cansa de repetir: “Sou uma artista popular”.

(© JC Online)

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