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 Emiliano Queiroz: o ator em cena

O ator cearense Emiliano Queiroz
 

Eleuda de Carvalho
da Redação

Ele começou fazendo teatro, foi rádio-ator, pioneiro da TV Ceará e está no elenco da Rede Globo desde sua inauguração

Os mais velhinhos se lembram dele, na pele do gago, atrapalhado e pudico Dirceu Borboleta, secretário do prefeito de Sucupira - interpretado pelo inesquecível Paulo Gracindo, na novela O Bem Amado. Fez também o homossexual Veludo, da peça Navalha na Carne, de Plínio Marcos, e o travesti Geni, da Ópera do Malandro, de Chico Buarque - cuja canção tema era Geni e o Zepelim. Emiliano Queiroz faz parte do elenco da Globo desde sua fundação, em 1965, encarnando diversos tipos em novelas, minisséries e especiais. O ator é o convidado do programa Nomes do Nordeste, do Centro Cultural Banco do Nordeste.

O ator cearense e o encenador Amir Haddad são os destaques da semana de encerramento do I Festival BNB de Artes Cênicas, que vem celebrando o Dia Mundial do Teatro (comemorado no último dia 27). O festival apresenta, até primeiro de abril, nos centros culturais de Fortaleza e de Juazeiro, além das cidades de Limoeiro, Assaré, Barbalha, Crato e Nova Olinda, cerca de 250 espetáculos gratuitos. A conversa com Emiliano Queiroz vai acontecer no cineteatro do CCBNB e será mediada pelo ator e dramaturgo Ricardo Guilherme - sobrinho de Guilherme Neto, colega de Emiliano na pioneira PRE-9, onde ambos fizeram rádio-novelas, e depois na TV Ceará.

No sábado, Emiliano Queiroz será homenageado pelo Sesc, celebrando os sete anos do teatro que leva seu nome, recebendo os amigos, companheiros dos tempos de rádio e tevê locais, e lança o livro biográfico Na Sobremesa da Vida, escrito pela roteirista, produtora e diretora Maria Letícia (ex-esposa do ator). O livro, com farta ilustração da carreira de Emiliano Queiroz, sai pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial. No Teatro Sesc Emiliano Queiroz também estarão expostas fotografias da carreira do artista, nascido em Aracati.

O título da biografia bem diz do bom humor de Emiliano Queiroz: em 2000, quando fez 64 anos, resolveu colocar no papel suas memórias - já que estava entrando, segundo ele, "na sobremesa da vida". Ele nasceu no dia primeiro de janeiro de 1936, e seu nome foi escolha do pai, em memória do revolucionário mexicano Emiliano Zapata. A mãe, dona Ana, ou Donana, foi quem primeiro percebeu o talento do filho, que assistiu uma peça de teatro pela primeira vez ainda em Aracati, uma encenação de O Mártir do Gólgota, com a companhia teatral de Abel Teixeira - e foi justo nessa companhia que Emiliano estrearia como ator, já residindo em Fortaleza.

A família se mudou para a capital, depois de uma passagem por Russas, quando Emiliano Queiroz estava com 15 anos. No livro, ele relembra esta etapa da vida, e começo de sua dedicação à arte dramática: "O Colégio Dom Bosco, do professor Oscar Costa de Souza, pai do cantor e compositor Ednardo, incentivava o teatro e eu criei o Teatro de Arte de Fortaleza, o TAF, dentro da escola". Pouco termpo depois, ele ajudaria a criar o Teatro Experimental de Arte - TEA, com B. de Paiva e Marcos Miranda. Começou também sua carreira como rádio-ator, na primeira emissora cearense, a PRE-9. Após uma passagem da companhia de Bibi Ferreira por Fortaleza, Emiliano Queiroz sentiu necessidade de se aperfeiçoar: "Fiquei insatisfeito como ator, me achei precário". De pau-de-arara, foi embora para o Sul, atrás da fama, da glória, do sucesso.

Foi difícil, mas Emiliano encontrou tudo o que buscava, quando rapaz. Estudou na Federação Paulista de Teatro, fez peças, novelas, minisséries e filmes. Antes de tudo isso, ainda voltou a Fortaleza, no comecinho dos anos 60, para implementar a nascente TV Ceará. Tempos sem vídeo-tape, quando ele fez ao vivo a novela local Poeira Vermelha, uma história de cangaço, e teve o nariz quebrado "no ar". Em 1961, ganhou o diploma de "melhor tele-ator romântico", e logo estaria de volta a São Paulo, quando começou a era do vídeo tape, marcando o final das produções locais. Na capital paulista, integrou-se à companhia teatral de Maria Della Costa e fez o espetáculo Depois da queda, de Arthur Miller. No elenco, Paulo Autran, Juca de Oliveira e a menina Dina Sfat. Na década de 70, durante o auge da ditadura militar, Emiliano também se angustiou e sofreu com a censura e a repressão. Mais recentemente, o ator trabalhou nos filmes Madame Satã, de Karim Ainouz, e Casa de areia, de Andrucha Wadington. Aos 71, ainda longe de se aposentar, Emiliano Queiroz continua a fazer o que mais gosta - e sempre que pode, voltando ao Ceará.

(© O Povo, 30.03.2007)

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