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 Maciel Melo leva forró para templo da MPB

Maciel Melo
 

O “Caboclo Sonhador” pretende que o DVD seja uma retrospectiva de seus 25 anos de carreira

JOSÉ TELES

Dono de uma dos mais sólidos repertórios do forró autêntico, na atualidade, o pernambucano (de Iguaraci) Maciel Melo, celebra 25 anos de carreira, com a gravação, hoje, a partir das 21h, do seu primeiro DVD, no Teatro Guararapes, com a participações de artistas que marcaram, de alguma forma, sua trajetória. Entre estes está Flávio José, que teve seu maior sucesso no xote Caboclo sonhador, a mais conhecida composição de Maciel Melo. “Este ano tem sido importante para o forró, e para mim em especial. Fiz, em fevereiro, com Xangai, Azulão e Biliu de Campina um show no Marco Zero, onde o forró não havia ainda chegado. Os forrozeiros estão também no Abril pro Rock, e amanhã (hoje) me apresento pela primeira vez no Teatro Guararapes. Sinto que o público começa a curtir o forró como curte MPB, tiro isto por duas apresentações que fiz este ano, em Brasília, com casa lotada”, exulta Maciel Melo.

De Desafio das léguas, o disco de estréia, um LP gravado, às duras penas, em 1989, mas só trabalhado em 1991, até Nascente, o CD mais recente, Maciel Melo construiu uma carreira bem-sucedida na medida que se pode ser sucesso com o mercado dominado pela pirataria, pelas bandas de estrutura poderosa controlando o rádio, e o circuito das principais festas nordestinas. Chegou a ser contratado da Somzoom, gravadora que abriu as porteiras para o chamado forró estilizado nos anos 90, porém preferiu a integridade, e saltou fora da gravadora cearense.

A consistência a autenticidade de seus forrós, levaram a música de Maciel Melo a ser conhecida na voz de Flávio José, Fagner, Elba Ramalho (que tornou Cantiga de Vem-vem, um megassucesso no São João de Campina Grande). Nos últimos dez anos, ele próprio se firmou como intérprete de suas composições.

“Neste show vou dar uma geral na minha carreira, mostrando não apenas o Maciel forrozeiro. Cultivo também o meu lado de cantador. Assim o show será dividido em duas partes. Na primeira, canto os forrós, e aí entram Flávio José, Nando Cordel. Na segunda, vem o meu lado de cantoria, as coisas que apresento nas turnês com Xangai. Ele, Xangai, e Irah Caldeira cantarão comigo nesta parte do show”, adianta Maciel Melo, que cantará uma música inédita, feita para o DVD: “O tema desta música é o aquecimento global. O título da música é Fumaça de chaminé”.

Maciel Melo será acompanhado por músicos que vêm tocando com ele, e alguns convidados: Zezinho e Coringa (sanfonas), Toninho Tavares (baixo), Ito (bateria), Quartinha (zabumba), Zeca Preto (triângulo), Jerimum e Samuca (percussão) os irmãos Junior Souza e João Neto (violões), e Kelly Oliveira e Toni (vocais)

Show para gravação de DVD de Maciel Melo, hoje, 21h, Teatro Guararapes (Centro de Convenções, Olinda), com participações de Flavio José, Xangai, Nando Cordel, Irah Caldeira. Ingressos: R$40 (inteira) e R$20 (meia). Outras informações: 3427-8000

(© JC Online)

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Forrozeiros que não temem o rock

Os Mestres do Forró é um novo grupo, formado por lendas do gênero, e o desejo dele é converter a turma do rock à música nordestina

JOSÉ TELES

Este é o ano do forró – empregando um termo meio exaurido pelo uso – quebrar paradigmas. Na Feira Música Brasil, em fevereiro, estreou na Praça do Marco Zero, com Maciel Melo, Biliu de Campina, Azulão, e Xangai. Domingo, será a vez do Abril pro rock receber os Mestres do Forró, formado por Azulão, Biliu de Campina, Valmir Silva e Messias Holanda, um quarteto veterano, com cerca de 300 anos do melhor forró que ainda se faz no Nordeste. Todos os quatro formam no time da geração de forrozeiros surgida nos anos 60, embora Biliu de Campina só tenha caído na estrada para valer no final dos anos 70.

Qualquer semelhança com Os Mestre da Guitarrada, do Pará, não é mera semelhança. Paulo André Pires, o produtor do Abril pro rock, espelhou-se neles para formar Os Mestre do Forró: “Comecei a comprar vinis, passei a me interessar por este tipo de música e querendo saber por onde estavam esses caras. Foi Herbert Lucena que me contou sobre Valmir Silva e Azulão. Os outros fui descobrindo”, diz Pires, também responsável pelo show de forró no Marco Zero, em fevereiro. Ele pretende continuar trabalhando com estes forrozeiros e depois do Abril pro rock: “A intenção é fazer um DVD com eles, para isso já inscrevi o projeto no edital da Petrobras. Há também boas possibilidades de lançar Os Mestres do Forró no exterior, já tem inclusive uma gravadora interessada, a Six Degrees, que lança os discos de Bebel Gilberto na Europa”, revela.

“Para mim, o que vier é normalíssimo. Perguntem aos roqueiros o que eles vão achar. Com a gente, é só pegar o tom e emburacar”, diz o despachado paraibano Severino Xavier de Souza, o Biliu de Campina, 58, que, há 29 anos, trocou a advocacia pelo forró, com sete discos lançados (oficiais. Dos piratas ele diz já ter perdido a conta). Valmir Silva tem a mesma idade de Biliu De Campina e, em comum, a ojeriza ao chamado forró eletrônico, mas não apenas porque as bandas dominam o mercado dos forrozeiros: “Fiquei conhecido pelas músicas de duplo sentido. Eu, aqui, e João Gonçalves, na Paraíba. Mas chegaram esses cabras e o que eles cantam nem é duplo sentido é esculhambação. A Saia Rodada veio a mim pedir música, e respondi que para eles não tem música minha não”, conta Valmir, cujo discografia contém 21 títulos (quase todos fora de catálogo), com suas composições gravadas por quase todos os forrozeiros importantes dos anos 60 e 70: “Só Jacinto (Silva) gravou umas 30 músicas minhas. Gravaram Azulão, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo. Só não gravei com Gonzaga, que me encomendou uma música, mas foi quando ele já estava bem doente”.

O duplo sentido também foi a praia que tornou famoso o cearense Messias Holanda, 65, que voltou a ser bem-tocado recentemente com Pra tirar coco (“Eu quero me trepar/num pé de coco/pra saber se o coco é oco”). Uma lenda do forró, Holanda conta, rindo, que de vez em quando encontra alguém que se espanta por ele continuar vivo: “Eu sofri um acidente, estava consertando um troço no telhado, escorreguei lá de cima e, nesta queda, quase morro, mas voltei a andar normalmente, só não dá mais para dançar muito no palco”, diz o forrozeiro, que começou carreira em 1961, participou de algumas das mais famosas caravanas de forró e fez dupla de sucesso com Elino Julião (falecido no ano passado).

Outra lenda do forró é o caruaruense Francisco Bezerra de Lima, Azulão, 65, considerado uma das grandes vozes da música nordestina. Ele é da geração de Valmir Silva e Messias Holanda, com quem dividiu muitos palcos no Rio e em São Paulo na primeira metade dos anos 70, quando o forró entrou novamente em evidência, graças ao duplo sentido bem-humorado e relativamente ingênuo. Além de cantor, Azulão destacou-se também como compositor, sendo gravado por Genival Lacerda, Os 3 Do Nordeste, Trio Nordestino, Jacinto Silva. Ele fez suas primeiras gravações na Rozenblit, nos anos 60, mas só lançou álbum em 1975: “Eu vou cantar no Abril pro rock minhas músicas mais conhecidas, Dona Tereza, Afogando a dor, Eu não socorro não”, diz o pouco falador forrozeiro, dos poucos no gênero a ter um registro num curta-metragem, dirigido por Eliane Macedo e Henrique Paiva.

O contrário de Azulão, Biliu de Campina fala pelos cotovelos. Embora se confesse um fundamentalista do forró, ele não considera obrigatório o tripé sanfona, zabumba e triângulo no seu acompanhamento: “O povo tem este preconceito contra instrumento, mas comigo não tem isso, não. Comigo pode ser guitarra, ou até palma de mão para cantar um coco”, diz Biliu, que acredita ser o Abril pro rock uma oportunidade para o forró chegar aos roqueiros: “Acho que só assim a gente consegue se salvar da pirataria que está aí. Outro dia uma moça trouxe cinco CDs para eu autografar, como eu só gravei quatro, o pessoal já está me adiantando”, brinca.

Valmir Silva não teme tanto a pirataria porque o último disco que lançou foi bancado por ele mesmo, que reuniu 25 de seus sucessos e lançou em CD: “Agora estou gravando um disco produzido por Herbert Lucena, o nome vai ser Desabafo de artista”. O “desabafo”, segundo ele, é pela pouca importância que se dá aos forrozeiros tradicionais em sua própria terra: “O artista local é discriminado. Eles fazem uma festa e chamam as bandas, pagando na hora, enquanto querem que a gente cante de graça”, diz Valmir Silva, que começou tocando com o Coronel Ludugero, no início dos anos 60.

Os Mestres do Forró se apresentam domingo no Abril pro rock, acompanhados por Herbert Lucena (percussão), João Vítor, (percussão), João Paulo (Cavaquinho), Samico (Violão de 7 cordas), todos os três do Arabiando, Silveirinha e Beto Hortis (acordeom) e Denise e Diana do Sanfonéia (coro).

(© JC Online)


Xico celebra o baião do Araripe

No sexto CD do Forroboxote, Xico Bizerra reuniu cantores da região onde nasceu o baião para cantar

JOSÉ TELES

Baião: do reino encantado do novo Exu às veredas do resto do mundo e adjacências é o longo título do sexto disco da série Forroboxote, idealizada pelo cearense Xico Bizerra, que será lançado hoje, a partir das 19h, na Passa Disco, no Shopping Sítio da Trindade, com a presença de todos os artistas que participaram das gravações: “O pessoal vai dar uma canja e, pela quantidade de gente que prometeu comparecer, acho que a festa vai até o sol raiar”, brinca o compositor.

Xico Bizerra, um ex-inspetor do Banco Central que se dedicou em tempo integral à música depois que se aposentou, não canta, mas com suas composições vem oxigenando o forró desde 2003, em projetos que começou bancando às próprias custas (hoje já faz com patrocínios). Ele conseguiu reuniu em torno de sua música alguns dos melhores intérpretes do forró da atualidade: “Mas a gente faz isso na base da abnegação, mesmo. Quem trabalha este tipo de forró sofre a concorrência desleal das bandas, que compram tudo, rádio, prefeituras, invadiram tudo. O pior é que cantam a coisificação da mulher, fazem uma música que não tem duplo sentido, é tudo explícito mesmo”, lamenta Bizerra. Ele diz que não se ilude, sabe que este CD vai tocar pouco no rádio “Só está tocando em algumas emissoras. Geraldo Freire toca, Ednaldo Santos toca (ambos da Rádio Jornal). Está sendo bem tocado no Sertão, porque a maioria dos artistas que canta no disco é de lá, então a gente tem essa abertura. Mas nas outras rádios daqui não toca, porque só tem que pagar e eu não pago jamais para ninguém tocar música minha. Primeiro, por princípio, depois porque nem posso pagar. Compartilho da opinião de Luiz Gonzaga: se quiserem tocar minha música de graça, tudo bem. Senão pqp!”, desabafa Xico Bizerra.

Assim como nos discos anteriores, este também é conceitual. O baião, claro, é o principal objetivo do trabalho: “Sobretudo porque os 60 anos do baião, em 2006, passaram em branco, não houve comemorações no Nordeste. Como também não lembraram dos 60 anos da gravação de Asa Branca. Resolvi neste disco não apenas celebrar o baião, mas a região onde ele se originou, em um disco com artistas que saíram de lá, ou que ainda continuam morando no Araripe. Foi com grande satisfação que trouxe para o estúdio gente que nunca havia gravado antes, é o caso de Di Jesus ou Miguel Filho”.

Xico Bizerra, que também é da região do Araripe (nasceu no Crato, Ceará), trouxe para o disco Santanna, Flávio Leandro, Greg Marinho, Epitácio de Souza, Fuá da Maravilha, os remanescentes da família de Gonzagão, Joquinha, Sérgio e Chiquinha Gonzaga, Reinivaldo Pinheiro e mais quatro sanfoneiros, do mais talentosos da atualidade: Nennaro, Beto Hortis, César do Acordeom e Genival do Cedro.

(© JC Online)

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