RIO - Silvério Pessoa está embarcando para uma turnê de sete concertos no Japão e, no meio do ano, faz seu périplo anual no circuito europeu de festivais, além de shows só dele em diversos países. Com três álbuns solo no currículo e um com o grupo Cascabulho, Silvério está lançando seu primeiro DVD, "Cabeça elétrica e Coração acústico", com um show de 13 músicas gravado no Teatro Santa Isabel do Recife em novembro de 2005. Nos extras, um documentário com suas andanças européias e quatro clipes
(veja um trecho do DVD)
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Silvério, da turma de Lenine, Lula Queiroga e Bráulio Tavares, faz turnê européia há cinco anos seguidos e já tocou até na Indonésia. Mas tem um lugar onde não consegue tocar por mais que se esforce: o Rio de Janeiro. "Eu tento de todo jeito e não consigo. Em São Paulo até consigo tocar de vez em quando graças aos Sescs, toco no Nordeste, no Sul, mas no Rio não tem jeito. Sou rotulado de artista regional, mas na França meus discos estão ao lado de Caetano Veloso e outros. Lá eu sou música brasileira".
Silvério também se queixa de que não toca no rádio, fechado hoje em dia em redes com a mesma programação do Rio e São Paulo. Ele acha que esta formatação é responsável pelo situação atual no Nordeste, com músicos novos mais influenciados por bandas da moda como Coldplay e Arctic Monkeys do que por sua própria cultura.
"Eu sou da Zona da Mata de Pernambuco e minha música é o que sou, uma mistura da tradição com o rock, a eletrônica e outros ritmos contemporâneos. Eu não saberia fazer de outro jeito, acho que o artista precisa refletir sua história, não acredito num artista que rompa com suas raízes," diz ele numa entrevista por telefone do Recife.
Umas das maneiras de ele se manter conectado à tradição é continuar morando na capital pernambucana, mesmo ciente de que as coisas seriam mais fáceis se ele morasse no Rio ou em São Paulo. Silvério diz que a música "Seu Antônio", que abre o DVD, é uma síntese do que acredita, conectando o bóia fria com o mundo cybernético. "Seu Antônio corta cana na zona da mata/ Seu Antônio superou a fase edipiana/ Bate papo e tira onda do conceito pop/ Acredita que o forró, côco, maracatu é rock/ Na ciência ele se encontra com a teologia/ O princípio educativo ocupará o mundo cybernético", dizem alguns versos.
O DVD foi financiado pela prefeitura do Recife, que vem dando força para a cultura local, o que viabilizou uma boa produção para Silvério e sua banda de cinco músicos, incluindo o acréscimo de um naipe de trombones tirado da orquestra de frevo de Spock, a mais quente do gênero no país.
"Eu cheguei lá e disse que queria um naipe só de trombones. Eles acharam uma loucura, mas acabou dando um resultado muito legal. Eles até fizeram um grupo chamado Trombonada e já preparam o primeiro disco," conta Silvério.
Realmente, o efeito foge a tudo que se conhece em termos de naipe de sopros, um componente importante dos criativos arranjos do DVD, com a música tradicional tocada de maneira contemporânea.
O DVD registra a temporada do CD "Cabeça elétrica, coração acústico", de 2005, sucessor do fundamental "Batidas urbanas - Projeto micróbio do frevo", de 2002. Apesar do intervalo, Silvério nunca fica sem fazer suas turnês pelo exterior e tocar onde possível no Brasil. Nos extras do DVD há imagens dele em shows em vários países europeus, muitos ao ar livre para platéias locais que se entregam à mensagem universal da música. Silvério é um menestrel andarilho à frente de um afiado exército brancaleone que leva boa música a todos os cantos do planeta. Menos ao Rio.