Bardo da marginália recifense, “o
último dos beatniks” publicou pouco, mas deixou
muitos fãs
ERNESTO BARROS
Especial para o JC
“O caminho do excesso leva ao
palácio da sabedoria”. Esta máxima do poeta inglês
William Butler Yeats bem que poderia ser o epitáfio
escrito na lápide de Erickson Luna. O poeta
pernambucano, considerado por amigos geracionais e
outros mais jovens como o “o último dos beatniks”,
morreu na madrugada desta quinta-feira aos 49 anos.
Em pelo menos duas décadas e meia,
ele perturbou o ambiente literário do Recife com seu
comportamento desregrado e explosivo. Erickson Luna
é o segundo poeta ligado à marginália recifense a
falecer este ano. Há menos de três meses, o colega
de escrita e de copo Francisco Espinhara também
morreu depois de uma longa enfermidade.
Erickson Luna estava internado
havia mais 30 dias no Hospital Otávio de Freitas.
Era portador de pancreatite crônica. A doença foi
diagnosticada quando ele sofreu uma queda e quebrou
o fêmur. Aconselhado pelos médicos a abandonar a
bebida, Luna foi categórico ao afirmar, segundo o
amigo Ednaldo Possas, parceiro de mesa do Mercado da
Boa Vista: ”Quem tem que comandar nossa vida é nossa
cabeça, o corpo que se vire para ir atrás”.
Nos últimos anos, o mercado era a
casa de Luna, onde fazia suas refeições e bebia.
Para dona Tereza Cristina, proprietária do Buchada´s
Bar, Erickson Luna “era um mundo de poeta”. “Ele
atraía muito gente para o mercado, intelectuais,
políticos e outros poetas”, confidencia. Erikson foi
enterrado às 16h no Cemitério do Barro. Os amigos do
mercado, entre eles os poetas França e Kid e o
compositor Paulo Paes, prometem voltar ao lugar para
fazer uma pajelança. “Ele morreu no dia do índio e
era um pajé, um verdadeiro guru”, afirma Ednaldo.
Desde que apontou nos meios
estudantis e intelectuais de Olinda e Recife, no
final dos anos 70, Erickson foi sempre uma figura
superlativa. Seu porte à la Che Guevara, com
cavanhaque e cabelos desgrenhados, brandindo sua voz
contra tudo e contra todos, dificilmente será
esquecida. Mesmo que não tenha editado muito, sua
produção foi intensa. Erickson era daqueles poetas
que viviam em permanente esta de criatividade. De
preferência, ao redor de uma mesa de bar, destilando
aforismos e outros petardos sonoros contra quem ele
não considerava.
Em dezembro passado, Erickson
tinha lançado o livro Claros desígnios em
parceria com Francisco Espinhara. Antes, em 2004,
ele publicou Do moço e do bêbado. Para o
amigo França, Erickson era o poeta que melhor
dominava a palavra em seu grupo. “Na epígrafe do meu
livro, usei um poema dele: “A poesia atropelou meu
verso e traça a vida de por um triz”, confessa. Em
setembro, os amigos do mercado da Boa Vista já
marcaram uma homenagem para Erickon e Espinhara
durante o Sarau da Independência.