SÃO PAULO (Reuters) - O mote inicial de "Esses Moços", que estreou em
São Paulo, Salvador e Brasília nesta sexta-feira, evoca a temática de
filmes como "Pixote, a Lei do Mais Fraco" (1980), de Hector Babenco, e
"Como Nascem os Anjos" (1996), de Murilo Salles.
"Esses Moços" marca a estréia do curta-metragista José Araripe Jr
(premiado no Festival de Brasília em 1996), que também assina o roteiro
ao lado de Hilton Lacerda ("Baixio das Bestas" e "Cartola - Música Para
os Olhos".
Darlene e Daiane são duas meninas de rua de Salvador que fogem de uma
mulher que as explora. Em meio à caótica Cidade Baixa, passam a viver de
pequenas esmolas conseguidas pela menor delas, enfrentando todo tipo de
problemas, incluindo uma gangue de meninos de rua, um assassino de
menores e o preconceito invariável contra quem vive nessa situação.
Nas mãos do diretor José Araripe Jr. as protagonistas tornam-se
caricaturas de um universo que parece desconhecido do diretor. Entre o
lugar-comum e a insistência em sublimar questões sociais inerentes ao
destino das jovens, o cineasta constrói sua obra com um enredo
fragmentado, principalmente em seu desenvolvimento.
No desenrolar da história, apesar de todo tipo de provações, as
meninas acabam por adotar um desconhecido idoso, a quem passam a chamar
de "Vô". Ele se torna tanto um enigma às irmãs -- e ao espectador --
como também personagem de um potencial conflito entre ambas. Afinal, a
mais velha quer explorá-lo como fonte de renda e a mais jovem, como
figura paterna.
Será esse o confronto que definirá "Esses Moços", que tem um desfecho
irreal e longe de qualquer constatação ou crítica mais contundente. O
diretor não conseguiu extrair do elenco, mesmo dos atores mais
experientes, um aproveitamento real. O destaque fica com o ator João
Miguel ("O Céu de Suely"), em uma participação especial, que traz um
inesperado alívio à história, com um timing correto entre a comédia e o
drama.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)