14ª edição do festival baiano chega a SP ainda mais voltado à
percussão
Robertinho Silva e Giovanni Hidalgo estão entre atrações; com nomes
menos pop que no ano passado, evento deve interessar mais a
profissionais
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em seu 14º ano, querendo se firmar como mainstream e global, o festival
baiano PercPan -Panorama Percussivo Mundial- acontece em três cidades:
Salvador, Rio e São Paulo. Ironicamente, ao mesmo tempo em que amplia
seu alcance (para de agora em diante acontecer anualmente nas três
cidades), o festival diminui sua força de atração de público.
Se as edições anteriores tinham artistas com um mínimo de apelo pop
(os importantes nomes do reggae Sly & Robbie, o baterista nigeriano Tony
Allen, a banda do Congo Konono nº 1), neste ano a formação é quase
exclusivamente de desconhecidos. Mais: vários fazem shows exclusivamente
de percussão -diferente de um show em que a percussão tem lugar de
destaque. Ou seja: muitos shows só vão atrair os que muito admiram o
batuque ou percussionistas com interesse profissional.
"O PercPan tem em sua essência o ritmo; a lógica é a percussão em
primeiro plano", diz o diretor artístico Marcos Suzano. "A idéia é
trazer várias possibilidades da percussão. A gente costumava chamar
artistas mais pop, mas muitos não se adequavam e faziam o seu show
habitual em vez de trocar de função e ser só a azeitona da empada, dando
destaque ao ritmo. Achamos que valia a pena dedicar mais exclusivamente
à percussão. Todos os artistas deste ano são respeitados no meio." Estão
na lista o brasileiro Robertinho Silva e o porto-riquenho Giovanni
Hidalgo, entre outros.
Para um evento segmentado e direcionado a interessados em ritmos e
nada mais, é a lógica exata. Para um festival de música, no sentido mais
amplo, o resultado é restritivo. No fim, o evento fica com uma aura
surreal, com horas seguidas de puro batuque: de mão, de tambor, com
instrumentos estranhos, eletrônicos, de diferentes lugares, com bandas,
em solos.
Ainda assim, o PercPan já é um festival respeitado e tem sua
audiência fiel. No Rio, onde a Folha acompanhou as apresentações,
o público foi numeroso e acompanhou cada detalhe com atenção admirável.
"No começo do festival, as pessoas tinham preconceito com percussão.
A gente conseguiu mudar um pouco isso. Fomos importantes, por exemplo,
para o AfroReggae", diz a criadora do evento, Beth Cayres.
Enquanto busca ser reconhecido como global (a frase "É um dos maiores
festivais de percussão do mundo" foi repetida várias vezes na noite
-quais são os outros?), o PercPan mantém apelo social. Todo ano
acontecem workshops, encorajando aspirantes a músicos a pegar seus
tambores e criando uma rede de "world music": Sting e Peter Gabriel
ficariam orgulhosos. No fim, tudo depende do seu interesse por
percussão.