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 Do povo para o povo

29/06/2007

 

 Liêdo Maranhão
 

O rico acervo do pesquisador pernambucano Liêdo Maranhão vai permitir a criação da Casa da Memória Popular

Ernesto Barros

Especial para o JC

Há vários anos cobiçado por universidades européias e americanas, o rico acervo do pesquisador popular Liêdo Maranhão tem a garantia de que não mais sairá do Estado. Um projeto aprovado pelo programa Petrobras Cultural e pela Lei Rouanet, com a participação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), vai permitir a criação da Casa da Memória Popular, onde o material coletado em mais de 40 anos pelo folclorista ficará abrigado para consultas de pesquisadores, estudantes e demais interessados. Esta semana, o grupo que está à frente do projeto esteve reunido pela primeira vez para estudar os passos que serão seguidos, da ampliação da equipe até a escolha do ambiente físico que vai sediar a Casa da Memória Popular.

“O acervo registra a história do povo”, exulta Liêdo, que está para completar 82 anos. “Estava triste e até com insônia, preocupado com o destino desse acervo, que retrata o povo e deve ser devolvido para o povo”, explica. Todo o material coletado pelo pesquisador encontra-se guardado em sua casa, no Bairro Novo, em Olinda. Durante toda a vida, o cirurgião-dentista de formação praticamente guardou tudo em que pôs as mãos: folhetos de cordel, santinhos de políticos, recordatórios de falecidos, catecismos pornográficos de Carlos Zéfiro, manuais de culinária e de medicina popular, cartazes e panfletos de toda sorte, além de uma profusão de objetos que se perderam no tempo, como uma máquina impressora feita de madeira.

Na sua casa, o também cineasta, escritor e memorialista expõe uma das suas inúmeras paixões: uma coleção de esculturas realizadas com ferros-velhos de antigas construções do Recife, batizadas carinhosamente de pavão misterioso, caboclinho canindé, índio brasileiro, bola de ouro e até uma que homenageia Dom Hélder Câmara. Além disso, Liêdo acumulou, durante os anos que freqüentou o Bairro de São José, onde nasceu e foi criado, milhares de histórias saídas da boca de camelôs, prostitutas, fotógrafos lambe-lambe e cordelistas. As conversas registradas em vários cadernos, à maneira de um diário, mantidas a dicção popular, já resultaram em livros como A fala do povão, Marketing dos camelôs de remédio ou o mundo da camelotagem e Rolando papo de sexo (Memórias de um sacanólogo), entre outros.

O projeto da criação da Casa da Memória Popular nasceu em 2003, com as então estudantes de biblioteconomia Sanderly Strieder, Ana Valéria e Gláucia Pedrosa. “Queremos dar visibilidade ao pesquisador popular que é Liêdo Maranhão e a preservação do seu acervo”, esclarece Sanderly, que também está escrevendo a biografia do pesquisador. “Ele tem muitas histórias, não só sobre o que ouviu do povo, mas também pessoais, como os três anos que passou na Europa, no final dos anos 50, estudando e viajando de carona”, conta a bibliotecária. Para Liêdo, a viagem foi fundamental na sua vida: “Com a saudade, voltei mais brasileiro, com muita vontade de conhecer a cultura do povo”.

(© JC Online)

 

 

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