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Entrevista: Djavan

05-06-2008

Agência Carta Maior

Djavan

 

Antes da estréia nacional do show de seu novo disco, Djavan falou sobre seu atual momento

Eduardo Carvalho

   O cantor e compositor Djavan faz, no próximo dia 15 de julho, em temporada de três semanas, no Directv, a estréia nacional do show de seu novo cd "Vaidade", recém-lançado pela sua própria gravadora, a Luanda Records.

   Nesta terça-feira, estivemos com Djavan que falou de sua vaidade, de sua timidez, de sua gravadora, da mudança no mercado fonográfico, da internet, da pirataria, do novo disco, do show, do videoclipe, do DVD, da relação com o s filhos. Veja os principais destaques desta conversa:

Agência Carta Maior - Com o cd Vaidade, você está lançando sua gravadora própria, a Luanda Records. É o primeiro trabalho em que você é o “patrão” e o “contratado” ao mesmo tempo. Isso muda algo? Dá-lhe mais liberdade para fazer as incursões que quiser pelos campos que quiser?

Djavan - Eu preciso dizer, de cara, que a gravadora não foi criada por esta razão. Eu sempre tive total liberdade onde eu estive. Eu trabalhei em três gravadoras até hoje: a Somlivre, na qual fiz meu primeiro disco; EMI Odeon, na qual fiz três discos e, depois, fui para a Sony, na qual fiz onze discos. E sempre com total liberdade, que foi uma coisa que coloquei desde o início. Sempre que eu ia para uma gravadora, eu dizia que só ia se fosse para fazer o que eu quero, na hora que eu quero. Nunca sofri interseção de modo algum. A razão para lançar minha própria gravadora foi a grande motivação que representa um risco grande para uma carreira de vinte e oito anos. Achei que isso era importantíssimo, mais do que por necessidade, por causa de mercado e coisas assim. Depois, tem também o fato do mercado estar mudando; a internet e a pirataria vieram para demover todas as coisas do lugar.

CM - Você já tem gente em vista para formar o casting da Luanda Records?

Djavan -Sim, tenho em vista, mas como é só em vista, eu não posso ainda citar ninguém.

CM - Nem os teus filhos podem ser incluídos em uma possível lista?

Djavan -A gravadora foi aberta com o objetivo de gravar os meus trabalhos, os trabalhos dos meus filhos e os de um artista ou outro que gostemos, que sintamos que vale a pena. Quero ver se mantenho na gravadora o mesmo romântico princípio que eu mantenho no meu estúdio, que foi criado para gravar os meus discos, os dos meus filhos e os de um amigo ou outro que não pudessem pagar, ou que tivesse talento, mas não tivesse condições. Não foi feito para alugar e sim para ser cedido. O primeiro artista a quem o cedi foi para a Lanlan, que foi lá e gravou o disco dela sem gastar nada e, agora, recentemente, cedi para o Bena Lobo, filho do Edu. Quero ver se consigo manter este romantismo também com a gravadora e gravar discos só de pessoas de que eu gosto. Mas ainda não tenho dados concretos para falar como vai ser, isso são apenas idéias.

CM - E este processo todo de nova gravadora teve alguma influência na criação do Vaidade, seu décimo sexto disco?

Djavan -Não, não teve influência não. O que mais influenciou no processo de criação do disco foi o fato de eu ter voltado a ser pai. A Sofia me trouxe de novo o universo infantil, comecei a me envolver com fraldas, berço, comidinha... Isso me trouxe aquele universo do início da carreira, quando eu me envolvi com meus primeiros bebês. Isso talvez tenha até refletido-se na composição. Coisas que eu poderia ter composto vinte anos atrás são notadas um pouco agora. É um trabalho que teve um envolvimento de delicadeza grande; minha mulher é também uma pessoa muito delicada, a Sofia é uma menina muito meiga. Tudo isso influenciou o trabalho. A gravadora realmente não influenciou. Desde 1992, eu trabalho assim, procurando fazer as canções em si durante o processo de gravação, enquanto eu estou envolvido com o ambiente de estúdio de engenheiros de gravação, com o equipamento todo à disposição. Isso me inspira, tanto que eu faço quatro ou cinco canções para entrar em estúdio, mas deixo para compor todo o grosso do disco neste período, quando estou envolvido já com os músicos, com todo o equipamento. Isso é bom para mim, é inspirador. Eu tento tirar dos músicos o máximo que posso, deixando-os à vontade para opinar, para criar, o que é uma coisa producente, algo com que ganho muito. Eu gosto muito de músicos, eu próprio sempre me coloquei como músico antes de compositor ou cantor. Eu gosto muito deste universo de músicos e troco muito com eles!

O que é a Vaidade do título? Algo relacionado com sua personalidade?

Djavan -Eu acho que a vaidade é um sentimento essencial para o indivíduo, porque ela pode eleva-lo, impulsioná-lo a conquistas, à produção... mas ela pode também emperrar o sujeito. È um sentimento como outro qualquer que se tem que saber administrar. No meu caso, a vaidade coloca-se muito clara e exclusivamente no fazer. Eu não tenho vaidade estética, física, não passo horas diante do espelho. Se fosse esta a vaidade, jamais colocaria este título no disco, que eu não sou bobo! A minha vaidade é fazer direito as coisas que procuro fazer. Sou vaidoso neste sentido: eu quero dá tudo, buscar o melhor sempre. Acho que isso é um dever de quem faz as coisas.

CM - E com essa importância que dá ao fazer e estando à frente da editora, do estúdio e da gravadora, você gosta de estar à frente dos processos ou você delega o serviço?

Djavan -Eu preciso disso. Eu gosto de trabalhar. Eu preciso trabalhar. Acho que tudo o que me envolve tem que ter meu dedo, minha mão. Eu passei a arranjar e a produzir por isso, porque eu tenho uma música pessoal, então eu preciso ser íntegro o máximo que puder para poder mostrar meu trabalho como ele é. Quando eu componho uma música, já no processo de composição eu começo a criar o arranjo, às vezes, eu até confundo a melodia com uma frase de arranjo, tenho que tomar o cuidado para distinguir o que é arranjo do que é melodia... Eu tenho esta necessidade de colocar para fora minhas idéias. Se dou uma música para alguém fazer o arranjo, ele o faz de acordo com a visão dele e, às vezes, recebo o produto do trabalho dele e sinto que há inadequação entre o que ele pensou e o que eu penso para a minha música. Até desfazer isso, dá muito trabalho, acaba-se atingindo suscetibilidades, é desgastante... com o produtor, a mesma coisa. O produtor precisa de um trabalho prévio para poder delinear a estética do disco, determinar arranjos, quais músicos que vão participar etc. Produtor nenhum tem isso de mim, porque eu não tenho as músicas prontas para ele fazer seu trabalho. Eu já tive vários produtores e várias incompatibilidades com eles, porque ele pensa uma coisa que eu não quero, que eu penso justamente o contrário e, até demove-lo da idéia, há desgaste. Tudo isso, eu quis evitar para ser mais produtivo, por isso passei a arranjar, a produzir.Eu tenho muito mais trabalho, e muito mais desgastante, mas é muito mais tranqüilo para mim, acaba sendo mais producente, mais objetivo.

CM - Só agora que as grandes gravadoras balançaram é que pudemos ver a real dimensão que elas atingiram e perceber que estavam muito grandes e com muitos tentáculos. Isso dividia o trabalho e envolvia arranjadores, produtores etc., exceto com poucos como você que há tempo vem integrando estas funções. Esta postura de ter comprometimento com todas etapas do trabalho passa a ser uma tendência para os novos artistas que começam a sair das grandes gravadoras?

Djavan -Se é uma tendência não se pode saber. Só o tempo dirá. Cada pessoa tem suas circunstância pessoais, seus objetivos e, sobretudo, tem possibilidade e sua oportunidade. Eu não posso achar que, de imediato, o que eu fiz seja uma coisa possível a todos, porque cada um tem o seu jeito de ser, suas condições. Não posso afirmar então que isso seja uma tendência. Posso sim afirmar que é uma tendência a transformação do mercado, porque a internet desvalorizou os cds física e simbolicamente, a pirataria desvalorizou o mercado. É claro que as gravadoras, com as grandes estruturas que detêm, vão ter que repensar todo o processo. Isso será feito devagar, as coisas vão se transformar de maneira sustentada, responsável. Eu espero que o mercado reerga-se e coloque-se novo diante dessa circunstância atual.

CM - E a questão dos direitos autorais e a discussão da mudança na aplicação da concessão de direitos que, por exemplo, o Gil tem defendido?

Djavan -Eu acho que o direito autoral no Brasil avançou. Ainda não é o ideal, pois está se informatizando numa velocidade muito pequena, o que dificulta muito a arrecadação, e eu sinto, pois estou sempre entre os dez que mais arrecadam no Brasil. Espero que continue progredindo e que as pessoas se apliquem em fazê-lo corretamente para diminuir a evasão. A proposta do Gil é boa e, se virar lei para todos, é bom.

CM - Vai ter DVD deste show?

Djavan -Vai. A gente pretende que ele ocorra, para o mercado, no final de novembro, por aí. CM - O DVD do Milagreiro deixou patente tratar-se da filmagem de um show, com toda a naturalidade dos momentos de palco. Este novo pretende seguir a mesma linha?

Djavan -Não. Pretendemos mudar um pouco o formato. Estamos estudando o formato. Aquele DVD do Milagreiro foi importante, teve registros importantes, como o de Angola, porque eu tinha visitado Angola pela primeira vez em 81, numa conjuntura de plena guerra, e voltei agora, com o país livre da guerra e levei uma equipe de filmagem. Estamos pensando que formato dar para este DVD do Vaidade , queremos sair um pouco da coisa de ser só o show... vai ter o show também, mas queremos outros elementos para torna-lo diferenciado dos anteriores.

CM - E o show? Dá para adiantar algumas coisas?

Djavan -Tem algumas novidades. Estou cantando algumas canções de outros autores que eu nunca cantei e que as pessoas talvez nem esperem que eu cante.

Vai cantar Roberto Carlos?

Djavan -(risos) Alguém falou para você, não é possível... Vou! O show tem duas horas, em que envolvo sete ou oito músicas do disco novo e outras de várias fases, alguns hits porque ninguém é de ferro e trata-se de um show e isso garante a interatividade do público e tal... tudo com arranjo novo.

Como é sua relação com seus filhos no plano musical?

Djavan -Eu estou muito habituado a vê-los envolvidos com a música, porque eles nasceram e criaram-se neste ambiente. Eles são músicos não por culpa minha, mas muito mais por esta convivência, porque eu não os induzi a ser nada, eu apenas observei a inclinação deles quando pequenos e procurei dar informações no sentido exato das tendências que eles demonstravam. Trabalhar com eles é uma facilidade, porque existe um código musical inteligível entre nós já há muitos anos, eles conhecem e sabem exatamente o que eu penso. Isso facilita e a convivência é excelente, pois se tratam de pessoas inteligentes, bem-humoradas, a gente se diverte muito por este mundo afora, viajando, trabalhando... é uma delícia. Mas não vai ser para sempre e eu digo isso para eles. Acho que, no próximo trabalho, já não os terei comigo, porque eu acho que eles precisam fazer suas carreiras e suas vidas. É saudável que tenhamos uma ruptura em algum momento para que eles possam caminhar sozinhos.

CM - Ainda sobre o disco novo, aparecem nele canções com formas puras de gêneros de ritmos, há menos fusões. É certo esta percepção?

Djavan -A diversificação é o que eu mais valorizo na música, única e exclusivamente porque eu tive uma formação baseada na diversificação. Eu sempre tive o olho muito voltado para a diferenciação entre um gênero e outro. Eu sempre valorizei o tempo forte do samba... a salsa, o baião, a música africana, a italiana, a música flamenca, sempre tive ligação muito forte com a Andaluzia, com certeza eu vivi naquela região em alguma vida minha, eu fui um tuaregue, já me disseram... então eu tenho uma ligação com a coisa árabe e com a cultura musical brasileira em geral, que é muito vasta e muito densa. Eu sou nordestino, ali aprendi de tudo, com toda influência africana, européia... Eu sempre achei que a diversificação é o que mais me encanta na música e isso deságua na minha composição, e eu persigo isso a minha vida inteira e isso está também neste disco. Já apontaram sim isso que você está dizendo que as canções tem mais a coisa clássica de gênero e menos fusões, mas tem fusões também, mas eu costumo não identificá-las para que as pessoas, ao ouvi-las, identifique-as. Mas a diversificação é a tônica do trabalho.

CM - Tenho um amigo acadêmico que afirma que, em toda obra do Djavan, só detectou uma incoerência. Relevadas todas as questões referentes ao eu lírico, em um sucesso recente você afirma que “esta não é mais a época de se ligar na própria dor”, no entanto, você praticamente canta somente suas dores e seus amores. Como eu te defendo junto a este amigo?

Djavan -Eu canto o sentimento, a relação humana e, nela, está a dor contida, sobretudo quando envolve o sentimento verdadeiro do amor, seja do homem pela mulher, ou do amigo, ou seja, o sentimento dedicado sem cobrança. Um sentimento que faz a gente se sentir grande por senti-lo apenas. É como se não precisasse ser amado, o amar bastaria. É claro que isso seria a revelação da própria dor, e não é esse o amor que se deseja e que se busca. Ter capacidade de amar já é uma grandeza muito importante. È claro que viver é sofrer, mesmo que não se ame, há o contato com a dor de algum modo. E eu falo dela com naturalidade e sem queixas, pois ela é inerente à vida.

CM - Há quem diga que você olha pouco para fora, pouco para questões concretas do mundo, questões sociais, ambientais etc. e que vivencia muito a coisa do amor, da paixão, de modo circunscrito, olhando muito pouco para fora.

Djavan - Eu não concordo com nada disso, uma vez que eu falo de questões sociais, por exemplo, na medida em que eu vivo em um país em transformação, em formação. Já falei explicitamente em vários momentos. Mas eu falo da relação humana, do amor, do sentimento e o uso como pano de fundo para falar de todas as outras coisas. Basta observar minhas letras. Eu não sou panfletário, eu não perderia meu tempo com isso. Eu acho que o artista tem uma função específica no mundo que é jogar luz sobre determinadas coisas, ajudando as pessoas a pensar, a se entreterem a se conhecerem. Como o artista desperta paixões, ele acaba tendo compromissos além do que ele nasceu para ter. E o meu compromisso está em demonstrar para as pessoas que a minha ligação com o mundo é exatamente o que me cerca e busco um canal para veicular esta ligação com o mundo e eu uso este canal: o amor, o sentimento como pano de fundo para falar de todas as coisas. Repare nas letras que não são coisas previsíveis de quem fala de amor, há, embutidas, várias questões tendo o amor como pano de fundo.

Serviço:

Djavan – Vaidade DirecTV Music Hall – Av. Jamaris, 213 – Moema - 6846-6040
De 15 a 18 de julho, quinta, às 21h30 horas, sexta e sábado, às 22 horas, e domingo, às 20 horas
Ingressos de R$ 60,00 a R$ 140,00.
 

(© Agência Carta Maior)

 

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