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Cabruêra defende o pop de raiz

08/08/2004

Cabruêra

Banda paraibana amplia leque de referências e citações em novo CD

Júlio Cavani
Da equipe do DIARIO

   Os pernambucanos ainda precisam conhecer melhor as bandas dos estados vizinhos, cujo trabalho acaba parecendo mais distante do que o produzido no Sudeste. Da nova geração de músicos paraibanos, a banda Cabruêra, de Campina Grande, vem se destacando com uma carreira de turnês internacionais, prêmios e participações nos principais festivais de música pop do Brasil. O Samba da Minha Terra é seu segundo disco lançado nacionalmente e reforça sua multiplicidade de referências e citações, que incluem Zabé da Loca, Zé Limeira, Cinema Novo, Euclides da Cunha, música eletrônica, psicodelia, messianismo, Dorival Caymmi e até mesmo teorias dos apocalípticos frankfurtianos Adorno e Hockheimer, entre outras fontes mais óbvias ou originais.

   Percorrendo a obra do grupo, o sinal de maturidade surge em momentos como Magistrado Ladrão, quinta faixa do disco, onde percebe-se a presença de instrumentos da cultura popular, mas sem ritmos folclóricos claramente identificáveis. Eles levam os sons para um lado mais urbano, eletrônico sendo acústico. O processo de trabalho e a proposta são diferentes, mas a embalagem lembra experimentos da Orchestra Santa Massa, com vocal e melodia no estilo Jorge du Peixe. A música seguinte, Carcará, mais suave e inclinada pro rock, também foge das convenções, sem usar guitarra, fazendo em determinado trecho uma combinação de percussão tribal acelerada com violões que remetem ao Cordel do Fogo Encantado, semelhança que cresce na recitada Auto de Zé Limeira. Assim como os músicos pernambucanos citados, a Cabruêra faz, com sua personalidade, música pop com ingredientes de raiz.

   O vocal principal sempre é dividido entre o violonista Arthur, que criou a viola esferográfica (tocada com uma caneta), e o percussionista Zé Guilherme, um barbudo com cara de profeta que faz um estilo messiânico na voz e no vocabulário literário também, na melhor tradição da poesia paraibana. Se nos arranjos eles conseguem subverter e se libertar de padrões, nas melodias ainda estão muito presos ao canto popular, seguindo estruturas do coco, do forró, do maracatu e da cantoria (apesar de nunca escorregarem na afinação), detalhe que os prende numa MPB regionalista de outrora, com certa pretensão preservacionista e social, romantizando a cultura popular.

   O título do CD foi extraído da famosa canção de Dorival Caymmi. Assim como já fizeram Max de Castro (Samba Raro), Mundo Livre (Samba Esquema Noise, O Mistério do Samba), Mestre Ambrósio (O Terceiro Samba) e Nação Zumbi (Rádio Samba), entre outros, a Cabruêra volta a questionar a origem da expressão normalmente associada à música carioca, mostrando que ela tem origens em todo o Brasil.

   A última faixa do disco é um remix da música Zabé Sabe (homenagem a Zabé da Loca) feito pela banda paraibana Chico Correa, que está seguindo bem a trilha de DJ Dolores. A penúltima também é uma versão eletrônica de Magistrado Ladrão, assinada pelo DJ carioca Marcelinho da Lua. Para uma banda que tem uma penetração na Europa, como a Cabruêra, remixes como esses são essenciais para a divulgação do trabalho.

Serviço

O Samba da Minha Terra, disco da Cabruêra
Gravadora: Nikita
Preço Médio: R$ 20,00

Pernambuco.com)

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