Banda paraibana
amplia leque de referências e citações em novo CD
Júlio Cavani
Da equipe do DIARIO
Os pernambucanos ainda precisam
conhecer melhor as bandas dos estados vizinhos, cujo trabalho acaba
parecendo mais distante do que o produzido no Sudeste. Da nova geração de
músicos paraibanos, a banda Cabruêra, de Campina Grande, vem se destacando
com uma carreira de turnês internacionais, prêmios e participações nos
principais festivais de música pop do Brasil. O Samba da Minha Terra é seu
segundo disco lançado nacionalmente e reforça sua multiplicidade de
referências e citações, que incluem Zabé da Loca, Zé Limeira, Cinema Novo,
Euclides da Cunha, música eletrônica, psicodelia, messianismo, Dorival
Caymmi e até mesmo teorias dos apocalípticos frankfurtianos Adorno e
Hockheimer, entre outras fontes mais óbvias ou originais.
Percorrendo a obra do grupo, o sinal de maturidade surge em momentos como
Magistrado Ladrão, quinta faixa do disco, onde percebe-se a presença de
instrumentos da cultura popular, mas sem ritmos folclóricos claramente
identificáveis. Eles levam os sons para um lado mais urbano, eletrônico
sendo acústico. O processo de trabalho e a proposta são diferentes, mas a
embalagem lembra experimentos da Orchestra Santa Massa, com vocal e melodia
no estilo Jorge du Peixe. A música seguinte, Carcará, mais suave e inclinada
pro rock, também foge das convenções, sem usar guitarra, fazendo em
determinado trecho uma combinação de percussão tribal acelerada com violões
que remetem ao Cordel do Fogo Encantado, semelhança que cresce na recitada
Auto de Zé Limeira. Assim como os músicos pernambucanos citados, a Cabruêra
faz, com sua personalidade, música pop com ingredientes de raiz.
O vocal principal sempre é dividido entre o violonista Arthur, que criou
a viola esferográfica (tocada com uma caneta), e o percussionista Zé
Guilherme, um barbudo com cara de profeta que faz um estilo messiânico na
voz e no vocabulário literário também, na melhor tradição da poesia
paraibana. Se nos arranjos eles conseguem subverter e se libertar de
padrões, nas melodias ainda estão muito presos ao canto popular, seguindo
estruturas do coco, do forró, do maracatu e da cantoria (apesar de nunca
escorregarem na afinação), detalhe que os prende numa MPB regionalista de
outrora, com certa pretensão preservacionista e social, romantizando a
cultura popular.
O título do CD foi extraído da famosa canção de Dorival Caymmi. Assim
como já fizeram Max de Castro (Samba Raro), Mundo Livre (Samba Esquema
Noise, O Mistério do Samba), Mestre Ambrósio (O Terceiro Samba) e Nação
Zumbi (Rádio Samba), entre outros, a Cabruêra volta a questionar a origem da
expressão normalmente associada à música carioca, mostrando que ela tem
origens em todo o Brasil.
A última faixa do disco é um remix da música Zabé Sabe (homenagem a Zabé
da Loca) feito pela banda paraibana Chico Correa, que está seguindo bem a
trilha de DJ Dolores. A penúltima também é uma versão eletrônica de
Magistrado Ladrão, assinada pelo DJ carioca Marcelinho da Lua. Para uma
banda que tem uma penetração na Europa, como a Cabruêra, remixes como esses
são essenciais para a divulgação do trabalho.
Serviço
O Samba da Minha Terra, disco da Cabruêra
Gravadora: Nikita
Preço Médio: R$ 20,00
(©
Pernambuco.com)