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Pernas pra que te quero

05/09/2004

Roberto Setton

CANTORA DAS MULTIDÕES
Ivete no alto de um trio elétrico: ela comprou um avião para cumprir a rotina estafante de catorze shows por mês, sempre com platéia cheia

Com seu corpo exuberante, seu vozeirão e um carisma a toda prova, Ivete Sangalo é um fenômeno de popularidade

Sérgio Martins

   Nas últimas duas semanas, o vozeirão de Ivete Sangalo ecoou diversas vezes nas Olimpíadas de Atenas. Um de seus hits, Sorte Grande, tornou-se uma espécie de hino da torcida brasileira, e a própria organização dos Jogos se encarregou de tocá-lo nos intervalos de certas disputas. Não é a primeira vez que algo desse tipo acontece com a artista. Festa foi adotada pelos jogadores da seleção brasileira em 2002, durante a conquista da Copa do Mundo de futebol. No dia em que eles desembarcaram em Brasília com a taça, lá estava a baiana para recebê-los com a música, no alto de um trio elétrico e à frente de uma multidão. De fato, tem sido assim há algum tempo: aos 32 anos, Ivete Sangalo é, de longe, a cantora mais popular entre os brasileiros quando eles querem comemorar algum feito – ou simplesmente cair na folia. Num mercado assolado pela pirataria, as vendas de disco de Ivete são respeitáveis: 1,6 milhão de CDs em cinco anos de carreira-solo.

   Mas é no palco que ela demonstra sua força. Seu cachê é de 100.000 reais por apresentação, e sua agenda se mantém lotada, com catorze shows por mês em todo tipo de ambiente: das mansões de políticos no Planalto ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo, onde ela reuniu uma platéia recorde de 200.000 pessoas no último dia 21. O sucesso de Ivete é um autêntico fenômeno de massa, ancorado no carisma, na voz potente, num alto-astral inabalável e numa presença física exuberante. Embora tenha estreado no axé, e ainda seja um grande nome nos carnavais de Salvador, ela conseguiu ampliar o escopo de seu trabalho. "Seus shows são muito divertidos e transmitem uma energia que eu acho que não se via desde o início do rock brasileiro, na década de 80", diz um de seus admiradores, o veterano cantor Lulu Santos. "Se tivesse de rotulá-la, diria que ela é hoje nossa rainha pop."

Fotos Roberto Setton

Setton

TRABALHO E LAZER
A cantora no camarim (à esq.), distraindo-se com o baralho durante um vôo e cedendo aos prazeres da carne

   Ao contrário de uma artista como Marisa Monte, que segura com mãos de ferro as rédeas da própria carreira, Ivete Sangalo, do alto de seu sucesso, ainda delega boa parte das decisões estratégicas importantes à sua gravadora, a Universal. Mas isso não significa que não tenha tino para cuidar de negócios. Assessorada pelo irmão Jesus, ela amealhou em apenas cinco anos um patrimônio estimado em 20 milhões de reais. Uma parcela do dinheiro está investida em imóveis: uma fazenda no interior da Bahia, uma grande casa em Salvador e um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro. Ela é dona de uma produtora, a Caco de Telha, que agencia shows dela e de outros artistas, e de dois blocos carnavalescos, o Cerveja & Cia. e o Coruja, que estão entre os mais badalados do Carnaval baiano.

   Também é sócia numa casa noturna orçada em 4 milhões de reais, que deve ficar pronta no começo de 2005 em Salvador. Sua última aquisição é um jatinho Citation I de segunda mão, que custa em torno de 850.000 dólares. A aeronave está passando por algumas adaptações. As cadeiras vão ser alargadas para acomodar melhor os irmãos de Ivete, que estão sempre acima do peso, e uma cama será instalada para que a cantora possa dormir durante as viagens. Nas palavras de Ivete, o jatinho é um "facilitador" numa rotina de fins de semana que costuma ser estafante. VEJA acompanhou a artista num périplo no começo de agosto. Ele começou numa sexta-feira em Taubaté, no interior de São Paulo. De lá ela viajou, num avião alugado, para Cuiabá, em Mato Grosso, onde se apresentou com um trio elétrico. Em seguida houve uma participação no Domingão do Faustão, da Rede Globo, e um show em Santos, no litoral paulista. Todas as aparições de Ivete são cercadas de alguma balbúrdia entre os fãs. Em Cuiabá, foi preciso retardar a decolagem do avião por quase uma hora porque houve invasão do hangar. Uma estóica Ivete Sangalo manteve o bom humor. "Se assédio me incomodasse, eu cantaria no banheiro", diz ela.

Fotos Roberto Setton

FAMÍLIA
Ivete e o marido, o guitarrista Davi Moraes: eles planejam ter um filho

Ivete irradia simpatia – mas também tem língua afiada e uma boa dose de espírito competitivo. As farpas aparecem de repente numa conversa com ela. "Wanessa Camargo me disse outro dia que me vê pouco na balada. Mas nos dias em que ela sai eu normalmente estou fazendo shows", diz a cantora, sugerindo que a carreira da colega não anda assim tão agitada. Ao falar dos cuidados com a voz, ela revela um segredo da amiga Daniela Mercury: "Eu freqüento uma fonoaudióloga. Recomendei a moça para todas as cantoras da Bahia, inclusive para a Daniela, que é fumante". Se o assunto é o namoro que o guitarrista Davi Moraes, seu marido, teve com Marisa Monte, Ivete deixa transparecer uma pontinha de ciúme e dispara: "Ele nem se lembra mais das músicas que tocou com ela".

Alta, despachada e de voz forte, Ivete já foi alvo de fofocas dizendo que seria lésbica. "Quando eu a encontrei pela primeira vez e ouvi aquela voz, pensei: 'Xiii, essa moça é do babado'", diz Raimundo da Rocha Espinheira Júnior, o Dito, que hoje é secretário pessoal da cantora. Ivete não se irrita com o assunto, mas é categórica: "Meu negócio é homem". Ela já viveu com o percussionista Alexandre Lins, hoje diretor musical de seus shows, e teve um namoro com o apresentador Luciano Huck. O romance com Davi Moraes engatou há três anos, quando eles descobriram que, além de atração física, tinham alguns gostos e desgostos em comum. Os livros, por exemplo, foram tema de um dos primeiros passeios do casal. "A gente tinha dado uns beijos, mas ainda não estava nada certo. Então eu perguntei para Davi: 'Você lê?'. Como ele titubeou, fui logo dizendo: 'Eu não leio. Não vem com papo furado de Clarice Lispector que não cola!' Aí ele confessou que também não curtia ler", conta a cantora. A música, obviamente, é uma paixão comum, mas Ivete acha que o amado descuida da carreira. "Às vezes eu interrompo uns amassos para chacoalhar o Davi e dizer que ele precisa divulgar o trabalho dele."

Ivete nasceu em Juazeiro, a mesma cidade natal do cantor João Gilberto. Começou a treinar o ouvido na infância, com o pai seresteiro. Ainda menina, teve sua primeira experiência como intérprete num programa infantil da apresentadora Mara Maravilha. "Ganhei uma boneca e um ano de picolé grátis numa sorveteria de Salvador. Fiquei com o beiço duro de tanto chupar sorvete", diz ela, na mais pura descontração ivetiana. A família começou a ter problemas econômicos na época em que Ivete entrou na adolescência. Seu pai morreu quando ela tinha 15 anos. Um ano mais tarde, um de seus cinco irmãos morreu atropelado e a mãe começou a sofrer de psicose maníaco-depressiva. Para ajudar nas contas da casa, Ivete primeiro vendeu marmitas, depois foi cantar em bares e, finalmente, entrou no circuito do Carnaval em Salvador. Em 1992, foi contratada pela Banda Eva, uma expoente da axé music.

   Lançado em 1997, o disco ao vivo desse grupo está entre os mais vendidos da história do mercado fonográfico no Brasil. No entanto, Ivete lucrou muito pouco com o sucesso da Banda Eva. Não ganhava mais do que 3.000 reais por show e vivia à beira da estafa. Em 1999, finalmente partiu para a carreira-solo, que hoje atinge o seu auge. A maior preocupação de Ivete no momento é manter a forma física. Sua família é de obesos e ela herdou problemas como refluxo gástrico, além de viver em luta com a balança – atualmente, está um pouco acima do peso ideal. Para manter a forma e tornear as pernas (que são sua marca registrada), ela faz três horas diárias de ginástica na academia que montou em casa. Evita doces e guloseimas, embora raramente resista a um churrasco. Há indícios, porém, de que pode sacrificar em breve a silhueta e as noites no palco por um projeto diferente. Atualmente, Ivete Sangalo não pode ver uma criança que se derrete toda. "Pensamos em aumentar a família", afirma Davi Moraes.



Foto Roberto Setton

 



Revista VEJA)

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