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Travessuras do Príncipe do Vai-E-Volta

05/09/2004


Ariano Suassuna é o artista brasileiro que mais explicita os fundamentos da tradição ibero-afro-americana: em seu teatro, na poesia, no romance...

   Ele não havia inteirado 20 anos quando, numa fazenda no sertão do Ceará, de propriedade de um parente seu, ouviu cantar dois famosos violeiros da família Patriota. De volta ao Recife, promoveu o I Festival de Violeiros do século 20, no vetusto teatro Santa Isabel, para espanto e mesmo horror da elite letrada, que quis até proibir o evento. Antes ainda, havia apreendido, aconchegado ao colo de seu pai, João Suassuna (assassinado em 1930, quando o menino tinha somente três anos), o fantástico universo da cultura popular. Também devorou, da biblioteca paterna, obras seminais como Os Sertões, de Euclides da Cunha, ou a saga de D. Quixote, o fidalgo da Mancha criado por Cervantes.

   Encantou-se, ainda em flor, com a miríade de folhetos cantados nas feiras, com a artesania das rudes mãos camponesas, e desta mescla amalgamou o seu teatro (O Auto da Compadecida, O Santo e a Porca, A Farsa da Boa Preguiça, entre outras), criou o Movimento Armorial, na década de 70 e, em agosto de 1971, lançou, pela José Olympio, o Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-E-Volta, prefaciado por Rachel de Queiroz. Nesta pedra preciosa de sua invenção-intervenção, faz jus a quem disse que ele ''transforma o Sertão no palco das questões humanas de qualquer lugar do mundo''.

   Carlos Newton Jr., poeta pernambucano atualmente morando em Natal, foi aluno de Ariano Suassuna, e é hoje o maior estudioso da poesia dele - a vertente menos conhecida de sua intensa criação. ''Desde o Auto da Compadecida, Ariano Suassuna é reconhecido no meio literário erudito. O que acho interessante é a descoberta e revalorização deste grande artista nos últimos anos. É como profetizou o José Cândido de Carvalho, autor do romance O Coronel e o Lobisomem, em telegrama, do qual tenho cópia, quando do lançamento d'A Pedra do Reino, assinado pelo personagem do romance, o Coronel Ponciano, 'mordido de inveja' por não ter sido ele o autor''. No telegrama, diz Carlos Newton, Cândido de Carvalho mirou no futuro: ''Disse que A Pedra do Reino seria romance muito mais lido no ano 2000 do que hoje. E realmente! Hoje, Ariano não pode sair na esquina''.

   Para escrever o novo romance, Ariano Suassuna precisa se refugiar com sua amada Zélia no apartamentinho na beira do mar, longe de tudo, mas mesmo assim não tem como escapolir do assédio. É que ele se reparte, generoso, para chegar junto de tantos que lhe querem bem. E, embora avesso a entrevistas por telefone (mais sujeitas aos enganos e mal entendidos da nossa ignorância), conversou com o Vida & Arte, às vésperas de mais uma viagem - sua vinda à VI Bienal do Livro do Ceará, que tem por tema Da Ibéria à América - Travessias Literárias. Porque ele é a travessia e a aventura, feita carne, osso e sentimento. Do mundo. E está aqui entre nós. (Eleuda de Carvalho)

O POVO - O tema da travessia, nesta Bienal do Livro, é também síntese de sua trajetória, de arte e vida, entre o grande mar e o maior sertão, e dá claro indício das influências, na sua obra, da tradição ibérica.

Ariano Suassuna - Em primeiro lugar, gostaria de dizer a você que às vezes sou acusado de só dar importância à vertente ibérica, à negra e à indígena. Sou acusado de ser um arcaico, como eles dizem, e de não ter interesse pelas outras etnias que vieram depois, o que não é verdade. Chamo muito a atenção sobre a importância da vertente ibérica, da vertente negra e da vertente indígena porque estes são os troncos iniciais da nossa cultura. Além disso, outras pessoas dizem que eu daria maior importância à herança ibérica do que à negra e à indígena, o que também não é verdade. Dou muita importância à herança ibérica mas dou também, como você sabe, à negra e à indígena. Agora, sobre esta cultura ibérica, sobre a qual nem meus inimigos têm dúvidas de minha ligação com ela, tenho certas restrições. Por exemplo, você sabe da importância que dou a Dom Sebastião, sua aventura e seu sonho. Pois agora eu me volto, pelo fato de ele ter atacado os mouros, tá entendendo? Ele não é um colonialista comum porque ele, por amor do sonho, teve coragem de morrer, enfrentou a morte. Não é como estes colonialistas de hoje que ficam escondidos e os outros vão matar e morrer, não eles. Para ser justo, Dom Sebastião não era muito bom mas, em todo caso, eu acho que no caso dele o sonho estava certo mas a empresa, como foi efetivada, foi erro. Entre as epígrafes d'A Pedra do Reino citei uma frase de Dom Sebastião, e eu substituí uma palavra. Na citação original, o padre lá do mosteiro mostra a ele uma espada que foi, se não me engano, de Dom Afonso V, antepassado dele, e ele fica com a espada na mão, depois devolve e diz: ''Tomai, padre, esta espada, e guardai-a, porque um dia eu me hei de valer dela contra os mouros''. Aí eu fiz violência à realidade histórica, botei: ''porque um dia hei de me valer dela COM os mouros''. Como se ele fosse se aliar aos mouros, o que eu acho certo.

O POVO - O tema do sonho de Dom Sebastião, o Desejado, o sonho do Quinto Império da justiça neste mundo, está no coração d'A Pedra. Mas esta herança, essencialmente o lado do farsesco e do humor, como se liga ao seu teatro?

Ariano - A influência da cultura ibérica em mim é uma coisa enorme, uma dívida que eu tenho, como tenho com o nosso romanceiro popular, que é uma herança do romanceiro ibérico. Agora, o nosso é mais rico. O romanceiro ibérico, praticamente, só tem um ciclo heróico. No romanceiro brasileiro, a gente tem o ciclo heróico, o de amor e fidelidade, o religioso, o satírico, e por aí vai. Aconteceu comigo uma coisa curiosa. Como você sabe, escrevi o Auto da Compadecida montado em três folhetos. Entre estes folhetos não está o famoso de João Martins de Athayde, As proezas de João Grilo. Deste eu tirei o nome, que eu queria dar ao personagem pra prestar uma homenagem exatamente à vertente picaresca de nossa herança ibérica. Pois bem. Eu pensava que o personagem João Grilo e o nome João Grilo eram puramente nordestinos e brasileiros, e que aquilo tinha sido uma criação de João Martins de Athayde, pois bem. Tenho um grande amigo em Portugal, que não conheço pessoalmente, mas somos grandes amigos, um cidadão chamado José Cardoso Marques. Este camarada é uma figura curiosíssima. É ourives, como Gil Vicente, e tem um amor pela literatura que é uma coisa comovente. Ele tem me mandado muitas coisas da cultura portuguesa, inclusive da cultura popular. Pois não é que existe lá em Portugal uma figura picaresca com o nome de João Grilo? Fiquei encantado quando vi. Além de ser fiel à tradição popular do nosso romanceiro, estou sendo fiel a nossa herança ibérica. Além disso, n'A Pedra do Reino tem uma cantiga sebastianista que, aliás, na versão atual, tirei um verso que dizia ''mas é mentira do mouro/ seu desejo é me enganar''. Modifiquei aquilo, botei, ''mas é engano do mouro/ nós vamos nos aliar'', pra ser coerente com a modificação que eu tinha feito das palavras de Dom Sebastião. Também A Filha do Imperador do Brasil, aquele romance que Antônio Nóbrega musicou e canta, é uma herança ibérica, como também a história da Nau Catarineta, que tem como assunto exatamente esta travessia, que para nós foi tão importante.

O POVO - Travessia de mão dupla. Queria que você comentasse sobre a transformação de pessoas reais, os poetas portugueses Luiz Vaz de Camões e Manoel Maria Barbosa du Bocage, que aqui no Nordeste viraram personagens picarescos, protagonistas de anedotas.

Ariano - É uma beleza, isso! Ô Eleuda, no caso de Bocage, não precisou de ponte nenhuma porque ele mesmo tem uma face obscena e isso toca muito no imaginário do povo brasileiro, era uma coisa mais ou menos natural. Conheço a poesia erótica e satírica dele, é curiosíssima! Tenho a obra completa dele, erótica, satírica e picaresca. É natural transformá-lo aqui num personagem picaresco, uma vez que ele mesmo tem isso. Por que é que fizeram o mesmo com Camões? Acho que peguei o fio do mistério, é o seguinte. Um dia, lendo Pereira da Costa, aquele folclorista pernambucano, ele dá notícia de que, aqui no Recife, no século 19, havia um poeta picaresco obsceno, muito engraçado, que era apelidado de Camões, porque tinha um olho cego. Tenho a impressão - como você sabe, não sou um estudioso nem pesquisador - mas tenho impressão que foi através desse que o outro Camões entrou com esta personalidade picaresca, que o poeta português não tinha, ao contrário de Bocage. Inclusive, Pereira da Costa conta algumas histórias deste Camões nosso, uma figura engraçadíssima. Era um poeta do tipo de Moisés Sesiom, que não tinha nem nome de família, foi criado ao deus-dará. Então, ele assinava o nome Moisés e como sobrenome Sesiom, que é Moisés ao contrário. Engraçadíssimo também, uma figura muito curiosa, obsceno até onde se pode ser. Você já ouviu falar num escritor do Rio Grande do Norte chamado Nei Leandro de Castro? Ele tem um livro muito interessante, uma novela picaresca, As pelejas de Ojuara. Pois bem. Ele cita Sesiom neste livro dele. Desde menino, sei decorado estrofes obsceníssimas de Moisés Sesiom. O Camões aqui do Recife era uma espécie de Moisés Sesiom.

O POVO - Patativa do Assaré, o poeta popular, gostava sobremaneira de Camões. O bardo caolho é um destes autores que não ficaram restritos à elite letrada.

Ariano - Fui muito amigo de um cantador, poeta popular, chamado Manoel de Lira Flores. Este camarada também sabia versos e versos de Camões decorados. Lembro outra ponte de ligação entre a cultura erudita da Península Ibérica e da cultura popular brasileira, acho que já fiz referência a isto em alguma aula por aí por Fortaleza. É o uso da décima, aquela estrofe de dez versos de sete sílabas, usada por Cervantes, Calderón de la Barca, Lope de Vega, por este povo. Tenho impressão de que ela veio pra cá por intermédio de Gregório de Mattos, que usava a décima e inclusive improvisava glosa sobre mote, do mesmo jeito que o cantador sertanejo. Uma vez, deram a Gregório de Mattos o mote ''a mais formosa que Deus''. Ele era membro do cabido da Sé da Bahia e não podia dizer uma heresia dessa. Então, repare, ele disse assim: ''Com duas moças eu vim/ ontem, de uma romaria/ uma feia parecia/ a outra era um serafim./... perguntei-lhes, anjos meus/ quem vos pôs em tal estado?/ a feia, que o pecado/ a mais formosa, que Deus''. É em décima, exatamente a mesma que os cantadores usam pra glosar os motes. Tenho a impressão que foi pelo caminho de Gregório de Mattos que ela entrou na cultura brasileira erudita e depois daí passou pra popular. Depois, a popular devolve à gente.

O POVO - Nas caravelas veio não só o colonizador, embarcaram junto a culinária, a poesia, a rítmica, esta bela língua portuguesa...

Ariano - É belíssima!

O POVO - Fale sobre este romanceiro oral, especialmente as histórias de Trancoso, que acho que ouvimos, você e eu, de bocas analfabetas, belos contos portugueses de mais de 500 anos, ditos por sertanejos que nunca viram o mar.

Ariano - Você sabe de onde veio o nome histórias de Trancoso? De Gonçalo Trancoso, que era da vila de Trancoso, Portugal, de onde veio também Gonçalo Annes, o Bandarra, foi daí que veio o nome. Todas as histórias baseadas naquele espírito fantástico ficaram sendo chamadas histórias de Trancoso. E formam um universo maravilhoso. Neste romance que estou escrevendo, tem uma parte que é fundamentada no mito da bela e a fera, porque dou importância enorme a este mito. O romance policial, que também me atrai muito, é o conto de fadas moderno.

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Os olhos da esfinge

   O poeta Fernando Pessoa, em seu único livro publicado em vida, Mensagem, compara a Europa a uma esfinge que se volta para o futuro e o futuro está ao Ocidente. E o rosto que mira além do mar é Portugal. A Península Ibérica - Espanha e Portugal, era habitada por descendentes de Tubal, segundo o historiador clássico Flávio Josefo. Os gregos chamavam os tubalinos de iberos. Os iberos receberam diversas levas migratórias: celtas, fenícios, gregos, romanos, visigodos e berberes (árabes do deserto). E judeus.

   Acredita-se que os primeiros judeus chegaram à península durante o reino de Salomão (970-931 aC), com os comerciantes de Tiro, na Fenícia. Relatos do século I indicam que cerca de 50 mil judeus se estabeleceram em Sefarad, o nome hebraico que designa a Península Ibérica. Em 711, os mouros (ou muçulmanos), comandados por Tarik, cruzaram o estreito de Gibraltar e invadiram a península. Ficaram por 800 anos. Mouros e judeus trouxeram em sua bagagem de peregrinos o conhecimento. Da medicina, da navegação, da astronomia e da matemática. Também trouxeram usos, costumes e histórias. Tudo isso junto iria dar forma a uma nova nação. Ainda não havia Portugal.

   Por volta do século XII, o filho da condessa dona Tareja, d. Afonso Henriques, empunhou armas e venceu o soberano d. Afonso VII, rei de Leão e Castela, seu primo, que, em 1143, teve que reconhecer a independência do condado de Portugal, agora reino soberano. Um seu descendente, d. Dinis, chegou ao trono em 1279. Dito o Lavrador, porque plantou o pinhal de Leiria, fundamental, um século e meio mais tarde, para a grande aventura marítima deste povo mestiço, espremido na retaguarda pelo vizinho maior e mais poderoso, e que só teve por saída defender seu chão ou sonhar com o mar. D. Dinis, o rei trovador, criou a universidade de Coimbra. Foi no seu reinado que se começou a usar a língua portuguesa nos textos oficiais.

   A grande aventura começa com d. Manuel, dito o Venturoso. Em seu reinado, Vasco da Gama atingiu a Índia (em 1498), e Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil. Gil Vicente sistematizou o teatro e encenou seus autos nos palácios e nos adros das igrejas. Garcia de Resende elaborou o seu famoso Cancioneiro Geral. Nesse período viveu Gonçalo Annes, o Bandarra, sapateiro da vila de Trancoso, trovador e profeta. Em seus versos, sintetizou o sonho judaico-português do V Império, quando chegasse, enfim, um príncipe Desejado, que faria justiça a todos os pobres deste mundo.

   É ainda no período da expansão marítima que viveu Gonçalo Fernandes, também natural de Trancoso, que deixou histórias de exemplo e maravilha, vivas ainda hoje, passados 500 anos, recontadas pelas bocas anônimas do povo brasileiro. Sob o impacto das navegações, o poeta e soldado Luís Vaz de Camões compõe a épica do povo português, Os Lusíadas. Então, é a vez de subir ao trono um infante, nem 14 anos completos, d. Sebastião, que reinou de 1557 a 1578. Sonhando ampliar as conquistas de seus antepassados, o rei donzelo intenta criar um império cristão-português no Marrocos. À frente de seu exército, caiu nas areias cálidas de Alcácer Quibir. Seu corpo nunca foi encontrado nem se registrou seu nome entre os cativos. Seu primo, o rei Filipe II de Espanha, conseguiu, enfim, um intento antigo. E reinou sobre Portugal. Após 60 anos, o pequeno país montanhoso e áspero reconquistou a soberania. Mais um século se passou, e era chegada a vez de sua maior colônia ocidental erguer a bandeira da liberdade. E aí, são outros quinhentos... (EC)

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De lá pra cá daqui pra lá

Daqui a dois meses, haverá um grande encontro em pleno sertão central do Ceará, reunindo trovadores, poetas e repentistas do Brasil e de vários países do mundo, em especial, os de tradição ibérica

   Desde 1996, quando o cineasta Rosemberg Cariry era secretário de Cultura do Crato, ele pensou em realizar, por aqui, um grande encontro cultural, que reunisse mestres e violeiros do Brasil, da América Latina, do mundo, inspirado na época de ouro da Península Ibérica, ''quando conviveram povos mouriscos, magrebinos, com os judeus e os cristãos'', diz ele. ''Foi uma época em que as diferentes culturas destes povos se encontraram, incluindo a tradição clássica grega, vinda com os árabes, enquanto o restante da Europa mergulhava na Idade Média. A poesia refina este sentimento profundo, em relação ao amor, com os trovadores. Foi um momento sagrador''.

   A idéia do festival, pensa Rosemberg, é de juntar esta tradição dispersa. ''Desde a diáspora, com a expulsão dos judeus de Portugal e da Espanha, isto nunca mais foi reunido'', afirma. ''No Brasil, me parece, foi onde a cantoria mais se diversificou, encontrou modalidades novas e vigor. Cuba tem uma tradição forte, Venezuela, Chile, Uruguai, Argentina... Queremos juntar esta tradição ibérica às tradições matrizes, dos griôs africanos, os narradores, os cantadores da tradição oral árabe, dos trovadores medievais que beberam nesta fonte. Junto com isso, você pensa nos grandes mestres da cultura popular, dona Militana, do Rio Grande do Norte, mestres do boi de Parintins, mestres dos cururus do Mato Grosso, mais as violas pantaneiras e caipiras. A gente está querendo trazer o Roberto Correia, um dos grandes violeiros e estudioso da viola, autor de um livro sobre afinações de viola no Brasil, junto com os violeiros do Nordeste''.

   O festival terá apresentações de diversos artistas brasileiros, como o mestre Ariano Suassuna, os Irmãos Aniceto com a Orquestra Eleazar de Carvalho, bois, reisados, cocos, maracatus, brincantes de nau catarineta da Paraíba, lundus de Brasília, os alagoanos Nelson da Rabeca e dona Benedita, o cacuriá de dona Teté, lá do Maranhão, o carimbozeiro Pinduca, de Belém, o sanfoneiro Luizinho Calixto, a cantora Myrla Muniz, o mato-grossense Almir Sater, o sanfoneiro Zé de Manu, os cantores Alceu Valença, Ednardo e Amelinha, além de convidados de Cuba, França, Chile, Portugal, Espanha e até da China.

   Além das apresentações, Rosemberg Cariry planeja um ciclo de palestras, Cantoria - tradição, tradução e contemporaneidade, que vai refletir sobre as influências da poesia trovadoresca na cantoria nordestina, a tradição árabe do Magreb (a região do Marrocos), os griôs - os narradores africanos, verdadeiras bibliotecas vivas. O festival está programado para acontecer em Quixadá, entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro. ''Meu sonho é que isto possa servir como um momento novo para os grandes mestres da viola convidados, Geraldo Amâncio, Oliveira de Panelas, Ivanildo Vilanova, Louro Branco, entrando em contato com esta manifestação universal, e possa haver uma troca, encontros, reencontros, possibilidades. Pra classe média, os intelectuais, romperíamos com um preconceito muito grande, do regional como sinônimo do atrasado, do localizado. Isto mostra quão sofisticada e universal é esta arte''.

   O momento também servirá, pensa Rosemberg, para uma grande campanha pela restauração da casa do Cego Aderaldo, que nasceu em Quixadá, e de seu museu. Para Rosemberg, o Homero do Nordeste é maior que sua obra. ''O Cego Aderaldo virou um arquétipo, mas está esquecidíssimo. A memória deste homem o Ceará precisa dignificar, é necessário pra nossa própria sobrevivência''.

   ''Espero que realmente aconteça o festival, mas as dificuldades são muitas. É um evento que não é mais caro nem menos caro que um festival como os que já acontecem. E pode se tornar um grande evento, com uma marca muito própria, além de valorizar aquele cenário belíssimo de Quixadá e também de Quixeramobim, terra de Antônio Conselheiro. A secretária da Cultura, Cláudia Leitão, tem abraçado o projeto, e o pessoal da Via de Comunicação e eu estamos tentando sensibilizar os patrocinadores''. Rosemberg pensa o Festival como uma confraternização coletiva, para que ''cada um tivesse uma parte deste pão oferecido em comunhão e fosse uma coisa de todos nós''. (Eleuda de Carvalho)

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