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Virtuoses fazem a diferença em CD 

O maestro Clóvis Pereira


Gravado durante o 8º Virtuosi no Santa Isabel, o disco A música erudita de compositores pernambucanos começa a ser distribuído

PAULO SÉRGIO SCARPA

O CD A música erudita de compositores populares pernambucanos começa a ser distribuído em escolas e universidades, para críticos de música e mídia especializada. São apenas mil cópias patrocinadas pela Petrobras (R$ 130 mil). O CD foi gravado ao vivo, no Teatro Santa Isabel, em dezembro de 2005, durante o 8º Virtuosi, festival de música internacional criado em 1988 pelo maestro chileno Rafael Garcia e pela pianista Ana Lúcia Altino, com intérpretes brasileiros e internacionais.

O CD tem músicas de Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa, 1904-1997), Clóvis Pereira (1932) e Maestro Duda (José Ursicino da Silva, 1935). Do Maestro Duda, a primeira audição mundial da obra Uma visão nordestina, composta em 2000 para os 500 anos do descobrimento do Brasil, de Capibra, a Suíte nordestina, de 1949, Bolero, Dueto para flauta e clarineta, de 1952, e Duas peças para flauta dedicadas a Esteban Eitler, de 1951, e de Clóvis Pereira, a primeira audição mundial do Concertino em lá maior para violino e orquestra de cordas, a Grande missa nordestina, o inédito Quarteto de cordas, de 2005, e Três peças nordestinas.

Chegar a esse repertório não foi difícil, esclarece Ana Lúcia Altino. “São obras dos três compositores populares mais representativos de Pernambuco que entraram pela música erudita”. E tendo em comum a influência do maestro César Guerra Peixe, que nos anos 50 ajudou a formar um grupo de músicos no Recife quando trabalhava como maestro e compositor para a Rádio Jornal do Commercio. Além disto, Clóvis Pereira foi, em 2005, o compositor homenageado pelo 8º Virtuosi, através do qual compôs o Concertino para violoncelo, dedicado a Antonio Meneses. Quanto ao Maestro Duda, o músico é velho conhecido de Ana Lúcia Altino, no tempo em que compôs para o Quinteto de Metais da Paraíba e ela estava na Orquestra Sinfônica daquele Estado.

O maestro Rafael Garcia, porém, relembra que a idéia do projeto musical que virou CD nasceu a partir da leitura de uma entrevista na qual Capiba se queixava de que nunca pode ser um compositor de música erudita porque ela não dava dinheiro para sustentar a família, por isso acabou compondo frevos e valsas para elevar o salário que ganhava como funcionário do Banco do Brasil. “O Bolero de Capiba não deve nada ao Bolero de Maurice Ravel”, compara Rafael Garcia.

O diferencial do CD, porém, são seus intérpretes, músicos brasileiros e internacionais convidados pelo 8º Virtuosi para a gravação ao vivo, sob a supervisão do engenheiro de som Otto Drechsler, alemão que reside no Rio de Janeiro e cuida das gravações de músicos da MPB. Entre eles, os violinistas Jonathan Crow, Canadá, Daniel Ching, do Quarteto Miró (EUA), a coreana Soh-Hyun Park, professora universitária e concertista nos EUA, Sandy Yamamoto (EUA), Betina Stegmann, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo. As violas com John Lergess, do Quarteto Miró, Marcelo Jaffé, Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, e Rafael Altino, da Orquestra da Dinamarca, os violoncelistas Kirill Bogatyrev, da Osesp, Joshua Gindele, Miró, Leonardo Altino, Universidade de Menphis, a contrabaixista Ana Valéria Poles, da Osesp, o flautista Joel Gisiger (Osesp), o trombonista Radegundis Feitosa, da Orquestra Sinfônica da Paraíba, e John Boudler, tímpano da Osesp, entre outros. A Orquestra do Festival teve 65 músicos.

O 8º Virtuosi teve regência e direção artística do maestro Rafael Garcia. O Quarteto de cordas, de Clóvis Pereira, foi executado pelo Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e o Concertino em lá maior para violino e orquestra de cordas teve como solista Clóvis Pereira Filho, pernambucano radicado no Rio.

(© JC Online)


 


Documento da composição pernambucana

O CD A música erudita de compositores populares pernambucanos é mais que um produto bem acabado, gravado ao vivo no Teatro Santa Isabel, no Recife. É documento sobre a produção musical no Estado através de obras de três de seus mais importantes compositores: Capiba, Clóvis Pereira e Maestro Duda, que têm em comum obras que transitam entre o erudito e o popular. Uma divisória tão tênue, no caso da música pernambucana, que é difícil não ouvir o CD sem um sentimento de nostalgia, pelo que deixamos de conhecer por falta de gravações, e gratidão. O CD chega num momento em que a música pernambucana foi destaque no Prêmio Tim de Música, com o CD Sivuca sinfônico, gravado no Santa Isabel com a Orquestra Sinfônica do Recife, em 2004.

O CD tem obras de Capiba – Duas peças para flauta (1951), Dueto para flauta e clarinete (1952), Suite nordestina (1949) e Bolero (1992), de Clóvis Pereira – Concertino em lá maior para violino e orquestra de cordas, Grande missa nordestina, com solistas e coro, Quarteto de cordas (2005) e Três peças nordestinas, e do Maestro Duda – Uma visão nordestina: projeto 500 anos do descobrimento do Brasil (2000).

O repertório foi bem compreendido pelos músicos internacionais e nacionais durante o 8º Virtuosi, em dezembro de 2005, que formaram a Orquestra Sinfônica Virtuosi, sob a regência de Rafael Garcia. Estavam diante de obras com forte sotaque nordestino, peças que procuraram no folclore o ritmo, nuances e sonoridade tão próprias. Esse tipo de música foi defendido pelo maestro e compositor César Guerra-Peixe (1914-1993), o mestre e incentivador, na década de 50, de uma geração de jovens músicos pernambucanos que se dedicariam à composição popular com marcante formação erudita. Guerra Peixe aprofundou, no Recife, seus estudos sobre as raízes musicais nordestinas, tornando-se, na designação de Gilberto Freyre, um “sulista nodestinizado”. Conheceu o maracatu, o coco, o xangô, o frevo e sua música ganhou uma nova dimensão. E a lição foi assimilada pelos alunos.

Capiba teve sua Suite nordestina orquestrada por Guerra Peixe e o Bolero orquestrado por Clóvis Pereira. Clóvis Pereira, por sinal, é quem mais se aproxima de Guerra Peixe na inspiração e na orquestração. O Maestro Duda conseguiu reunir em uma obra o que desenvolveu durante quatro décadas no trato quase diário da música popular, como diretor da Banda Municipal do Recife e orquestrador sofisticado. Capiba, por sua vez, surpreende com a dimensão de sua música erudita, com forte raíz na música européia principalmente dos primeiros anos do século 20.

O CD tem a participação do flautista Rogério Wolf e do clarinetista Carlos Ribeiro, a meio-soprano Denise de Freitas, o barítono Homero Velho e o Coro Contracantos, regência de Flávio Medeiros, o violinista Clóvis Pereira Filho, que solou o Concertino em lá maior, do pai, e o aplaudido Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, com Betina Stegmann (violino), Nelson Rios (violino), Marcelo Jaffé (viola) e Robert Suetholz (violoncelo). (P.S.S.)

(© JC Online)

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