Notícias
Viva Bethânia

11/06/2008

A cantora baiana Maria Bethânia

Em comemoração aos seus 60 anos, discografia da cantora na Universal Music é relançada

TONINHO SPESSOTO

A baiana Maria Bethânia deu seus primeiros passos profissionais ao substituir Nara Leão no show Opinião, em 1965. De lá para cá, lançou 38 álbuns e 3 DVDs, todos marcados pela extrema qualidade.

Em 18 de junho, Bethânia fez 60 anos. Para marcar a data, a Universal Music relança, em edições remasterizadas digitalmente, 22 discos que ela gravou na companhia entre 1967 e 1995. Ficaram de fora os álbuns Os Doces Bárbaros (gravado ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa), a trilha sonora do filme Quando o Carnaval Chegar (com Chico Buarque e Nara Leão) e a edição em espanhol de As Canções Que Você Fez Pra Mim, só com criações de Roberto e Erasmo Carlos (o disco em espanhol chegou a ser lançado no Brasil).

O meticuloso trabalho de reedição teve coordenação do jornalista e pesquisador Rodrigo Faour, que escreveu para cada disco um texto, situando-o historicamente. Os CDs trazem as capas e encartes originais. Trata-se de obra de fôlego, feita por um profissional que realmente entende do riscado e não inventa informações.

Vale lembrar que Maria Bethânia passou também pela EMI e BMG (hoje Sony BMG) e atualmente está na Biscoito Fino, com a qual mantém um selo, o Quitanda, por onde vem lançando seus CDs e DVDs e também projetos especiais.

Aqui, uma análise dos títulos mais significativos da discografia de Bethânia na Universal Music:

EDU E BETHÂNIA
Elenco, 1967

Este disco feito ao lado de Edu Lobo para a Elenco, gravadora criada pelo produtor Aloysio de Oliveira, foi o segundo trabalho de estúdio de Bethânia. Ela e Edu estavam iniciando carreira, embora o cantor e compositor já fosse um vitorioso em festivais (dois anos antes ganhara o da Excelsior com Arrastão, parceria com Vinícius, e naquele 1967 venceria o da Record com Ponteio, dele e Capinam). É um álbum que mescla canções de cunho político-social – uma necessidade à época, visto que o Brasil se encontrava em plena ditadura militar e havia muito a ser dito pelos artistas, por mais arriscado que fosse – e temas românticos. Estão aqui maravilhas como Pra Dizer Adeus (Edu Lobo/Vinícius de Moraes), Sinherê (Edu/Gianfrancesco Guarnieri) e Cirandeiro (Edu/Capinam), as três cantadas em dueto. Bethânia interpreta sozinha Borandá (Edu Lobo) e Só Me Fez Bem (Edu/Vinícius de Moraes).

ROSA DOS VENTOS
Philips, 1971

Depois de três discos na Odeon, Maria Bethânia foi contratada pela Philips, onde estreou em 1971 com o antológico Rosa dos Ventos. Gravado ao vivo no Teatro da Praia (RJ), selava a parceria entre a cantora e o diretor teatral Fauzi Arap. A partir dali, ela sempre incluiria textos em seus shows, que passariam a ser impregnados de recursos cênicos. Pela primeira vez uma cantora popular declamava versos de Fernando Pessoa num palco. Entre as canções, Minha História (versão de Chico Buarque para Gesubambino, de Lucio Dalla), El Dia Que Me Quieras (Carlos Gardel/Alfredo Le Pera), Rosa dos Ventos (Chico Buarque), O Mar (Dorival Caymmi) e Não Identificado (Caetano Veloso), alem de sambas-de-roda do baiano Batatinha e textos de Pessoa e Clarice Lispector.

A TUA PRESENÇA...
Philips, 1971

Primeiro disco de estúdio de Bethânia na Philips, A Tua Presença... mostrava o gosto da cantora por sambas-canção, expresso nas belas releituras de Folha Morta (Ari Barroso), Se Eu Morresse Amanhã de Manhã (Antonio Maria) e Olhe o Tempo Passando (Dolores Duran). Transgressora e inovadora, a intérprete trazia uma versão mais agressiva e próxima do rock para Jesus Cristo (Roberto Carlos/

Erasmo Carlos), falava da opressão no samba-rock Mano Caetano (dueto com o autor, Jorge Ben), cantava Caetano (A Tua Presença, Morena e Janelas Abertas no. 2, mandadas por ele de Londres, onde se encontrava exilado) e se dava ao luxo de interpretar um standard americano, What’s New (Hagart/Burke).

DRAMA – ANJO EXTERMINADO
Philips, 1972

Produzido por Caetano Veloso, então recém-chegado do exílio em Londres, este disco mostrou uma Bethânia ainda mais contestadora, como atestava a faixa de abertura, Ponto, tema do folclore baiano que falava abertamente das agruras do trabalhador. Entre as canções, duas que se tornariam clássicos do repertório da intérprete: Esse Cara (Chico Buarque) e Estácio Holly Estácio (Luiz Melodia). Um dos melhores trabalhos de Maria Bethânia. Curiosidade: ‘drama’, em grego, significa ‘ação’.

DRAMA – 3º ATO
Philips, 1973

Quarto disco ao vivo em oito anos de carreira – ela nunca escondeu seu gosto por registros no palco –, Drama – 3º Ato também foi gravado no Teatro da Praia (RJ). O show desta vez foi dirigido por Antonio Bivar e Isabel Câmara e trazia, apesar dos pesados anos de chumbo que o país enfrentava, uma atmosfera mais leve e romântica, com canções como Nada Além (Custódio Mesquita/Mário Lago), Rasquei a Minha Fantasia (Lamartine Babo), Soneto (Chico Buarque), Como Vai Você (Antonio Marcos/Mário Marcos), Esse Cara (Caetano Veloso), Preciso Aprender a Só Ser (Gilberto Gil) e Volta Por Cima (Paulo Vanzolini), e textos de Fernando Pessoa, Luiz Carlos Lacerda, Antonio Bivar e Isabel Câmara.

A CENA MUDA
Philips, 1974

A Cena Muda, gravado ao vivo no Teatro Casa Grande (RJ), era o registro do show homônimo, que marcara a retomada da parceria de Bethânia com Fauzi Arap. Extremamente complexo e denso, trazia elementos místicos num sincretismo entre Índia e Bahia. No repertório, canções fortes como Sinal Fechado (Paulinho da Viola), Cala a Boca, Bárbara (Chico Buarque/Ruy Guerra), Galope (Gonzaguinha), Demoníaca (Sueli Costa/Vitor Martins), A Coroa do Rei (Haroldo Lobo/David Nasser), Disseram Que Voltei Americanizada (Vicente Paiva/Luiz Peixoto) e Não Tem Tradução (Noel Rosa). Contestador e instigante.

PÁSSARO PROIBIDO
Philips, 1976

Com este disco, Maria Bethânia rompeu uma importante barreira e derrubou um preconceito. Passou a ser executadas nas rádios AM e perdeu a incômoda pecha de ‘cantora das elites’, tornando-se ‘acessível’ ao grande público graças a uma ostensiva campanha de mídia. Mesclando clássicos e canções inéditas, o álbum teve dois grandes sucessos populares: Olhos nos Olhos, de Chico Buarque, e a pungente Balada do Lado Sem Luz (Gilberto Gil). Fechando o repertório, Pássaro Proibido na voz de Caetano Veloso.

ÁLIBI
Philips, 1978

Este álbum é um marco na indústria fonográfica brasileira. Pela primeira vez, uma cantora vendeu mais de um milhão de cópias de um único disco. Sucesso estrondoso também nas rádios, trazia canções que até hoje freqüentam a programação das rádios especializadas, casos de Álibi (Djavan), Ronda (de Paulo Vanzolini, gravada originalmente por Inezita Barroso e regravada também por Márcia), Negue (samba-canção de Adelino Moreira e do radialista Enzo de Almeida Passos imortalizado por Nelson Gonçalves), Explode Coração (Gonzaguinha), De Todas As Maneiras (Chico Buarque), Sonho Meu (Dona Ivone Lara/Délcio Carvalho), dueto com Gal Costa, e O Meu Amor (Chico Buarque), da Ópera do Malandro, interpretada por Bethânia e Alcione. Um dos discos mais importantes da história da MPB.

MEL
Philips, 1979

Na esteira do sucesso de Álibi, este disco também foi um grande êxito de vendas e execução nas rádios. Extremamente bem produzido, trazia repertório de qualidade, com canções que se tornaram clássicos como Mel (Caetano Veloso/Wally Salomão), Ela e Eu (Caetano), Cheiro de Amor (Duda/Jota/Ribeiro/Paulo Sérgio Valle), Da Cor Brasileira (Joyce/Ana Terra), Loucura (Lupicínio Rodrigues) e principalmente Grito de Alerta (Gonzaguinha). Outro álbum imprescindível em qualquer acervo.

AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM
Mercury. 1993

Já consolidada como intérprete efetivamente popular, Maria Bethânia gravou em 1993 um requintado álbum só com canções de Roberto e Erasmo Carlos. O disco vendeu mais de um milhão de cópias e trazia no repertório deslumbrantes releituras para As Canções Que Você Fez Pra Mim, Olha, Fera Ferida, Detalhes, Emoções e Eu Preciso de Você, entre outros clássicos do Rei e do Tremendão. O disco teve uma versão em espanhol que chegou a ser lançada no Brasil.

Completam a coleção os seguintes CDs: Chico Buarque e Maria Bethânia Ao Vivo (1975), Pássaro da Manhã (1977), Maria Bethânia e Caetano Veloso Ao Vivo (1978), Talismã (1980), Alteza (1981), Nossos Momentos (1982), Ciclo (1983), A Beira e o Mar (1985), Memória da Pele (1989), Maria Bethânia – 25 Anos (1990), Olho D’Água (1992) e Maria Bethânia Ao Vivo (1995). Todos os discos são vendidos separadamente.

TONINHO SPESSOTO é jornalista, radialista e produtor musical

(© JC Online)

 Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind


Google
Web Nordesteweb