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Bethânia de Carcará a Maricotinha, em 34 CDS

10/06/2008

Fabio Motta/AE

Maria Bethânia


Os lançamentos comemorativos dos 60 anos da cantora chegam, enfim, às lojas, em edições caprichadas e preços acessíveis

Lauro Lisboa Garcia

SÃO PAULO - O presente de aniversário chegou um pouco atrasado, mas a data é detalhe. Maria Bethânia fez 60 anos no dia 18 de junho e a melhor maneira de comemorar veio de uma iniciativa do pesquisador carioca Rodrigo Faour. Foi ele quem se empenhou em persuadir as três gravadoras pela qual Bethânia passou em 40 anos de carreira (Sony-BMG, EMI e Universal) para o lançamento simultâneo da parte mais significativa de sua carreira.

O feito é inédito no mercado discográfico brasileiro, envolveu técnicos tarimbados das três gravadoras e deixou os fãs tão entusiasmados que alguns criaram comunidade no Orkut como forma de agradecimento a Faour. Só Bethânia mesmo para despertar esse tipo de atitude.

Do álbum de estréia, "Maria Bethânia" (1965), a "Maricotinha" (2001), todos estão de volta às lojas remasterizados, vendidos separadamente, a preços acessíveis (em torno de R$ 20). Dentre os mais importantes, vários deles pertencentes ao acervo da Universal estavam fora de catálogo havia anos: "Drama" (1972); "Drama 3º Ato" (1973), um de seus melhores registros ao vivo; "Pássaro Proibido" (1976); "Pássaro da Manhã" (1977); "Talismã" (1980); e "Ciclo" (1983), marco de sua independência, são alguns que valiam altas notas nos sebos.

Peças raras gravadas na RCA Victor

Outras peças raras são os compactos que Bethânia lançou no início da carreira, na RCA Victor (hoje Sony-BMG). Algumas dessas gravações saíram antes em compilações, às vezes misturadas com as de seus conterrâneos e contemporâneos tropicalistas. Pela primeira vez, esses registros de 1965 estão reunidos num só álbum, Maria Bethânia Canta Noel Rosa e outras Raridades. Como faixas bônus, há "Feiticeira" (do álbum de estréia) e outras de Noel com arranjos de orquestra feitos em 1980. As originais são mais interessantes.

Como atrativo complementar, todos os encartes vêm com as letras e textos esclarecedores de Faour, que não apenas exalta a força e a generosidade da obra de Bethânia, mas também a analisa e contextualiza os discos na história. Luxo maior, ele entrevistou a diva para comentar cada disco, o que enriquece os encartes com detalhes pouco conhecidos.

Quem já tinha os álbuns em CD (especialmente os 22 da Universal) pode/deve comprá-los de novo, não só pelo recheio dos encartes, mas principalmente por causa do som, que está muito superior às edições anteriores, caso de "Talismã", "Ciclo", "Drama" e outros. Mas contra a precariedade com que foi registrado "Rosa dos Ventos", "o show encantado" de 1971, não há tecnologia que faça milagre.

A EMI - que anos atrás já tinha reunido numa caixinha bem bacana os três primeiros álbuns que Bethânia gravou na Odeon entre 1968 e 1970 - relança agora os mesmos títulos mais "Âmbar" (1996) em versão digipack, que imita o formato dos LPs. Só o duplo "Imitação da Vida" (1997), seu melhor álbum ao vivo, atrasou e ainda só é encontrado na versão anterior sem o texto de Faour.

Do pacote da Sony-BMG, o menos cuidadoso em termos gráficos, também falta o álbum de estréia, que tem "Carcará" (João do Vale/José Cândido), seu grito primal, e a estréia de Gal Costa, em duo com ela cantando Sol Negro, de Caetano Veloso.

Também voltam "Dezembros" (1986) e "Maria" (1988), que tem como destaque o reencontro com Gal em outra lindeza de Caetano, "O Ciúme".

De Roberto Carlos a João Gilberto

Todos têm sua cota de qualidade, mas os fundamentais estão no pacote da Universal. Destes, vale a pena também recuperar até os que mais fizeram sucesso, portanto, foram mantidos em catálogo, como "Mel" (1979) e "Álibi" (1978). Foi com este que Bethânia tornou-se a primeira cantora brasileira a vender 1 milhão de cópias de um mesmo disco.

O sucesso comercial do álbum foi espontâneo. "Nunca fiz qualquer concessão deliberada para vender mais", disse a cantora sobre "Álibi", mas poderia estar falando de qualquer outro.

A coerência e a liberdade de ação são dois dos traços mais marcantes da carreira de Bethânia. Tanto é que passou incólume até aos famigerados anos 80, que deixou nódoas na discografia de muito figurão da MPB.

Em estúdio ou ao vivo, são incontáveis os grandes momentos de sua discografia. "Olhos nos Olhos" (Chico Buarque), faixa de "Pássaro Proibido", é um deles. Foi com ela que Bethânia, tida como cantora de elite, pela primeira vez tocou em emissoras de rádio AM. Não que seu repertório não tivesse apelo popular.

Em via paralela ao movimento tropicalista, da qual foi incentivadora de bastidores, ela já trazia na bagagem as delícias e as dores dos boleros assimilados de Dalva de Oliveira e Ângela Maria.

Mas a imagem do engajamento de força teatral, de poética e gosto intelectual falou mais alto durante muitos anos aos olhos do público.

A personalidade que trilhou caminhos diversos de maneira única, unindo de Roberto Carlos a João Gilberto, tratou de desfazer equívocos e unir os ouvidos do Brasil. Outras águas

(© Agência Estado)

Veja Vídeo: Bethânia cantando Anos Dourados (2'32")

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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