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Cordel passa por transformação em terceiro CD

10/06/2008

Cia. de Foto/Divulgação

O vocalista Lirinha (ao centro) entre os integrantes da banda pernambucana


Em "Transfiguração", a banda deixa o teatro de lado e mergulha no ambiente musical, aprimorando sonoridade

Fenômeno do boca-a-boca, Cordel do Fogo Encantado conquistou fãs em turnês no Brasil todo sem tocar na rádio ou na televisão

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A voz messiânica recitando uma poesia popular logo na primeira faixa não deixa dúvidas: este é um disco do Cordel do Fogo Encantado. Mas, ainda que a abertura prenuncie a característica mais marcante do grupo pernambucano -já meio repisada em apresentações ao vivo-, eles estão diferentes.

Como anuncia o título do novo e terceiro álbum da banda, "Transfiguração", o Cordel mudou. Ou está mudando. Está menos teatral, mais musical e elaborado. Explorando outras possibilidades sonoras, marcadas por instrumentos de corda e também pela velha e boa percussão.

Nascido como grupo de teatro em Arcoverde, cidade no interior de Pernambuco, e levado ao estúdio pelas mãos do percussionista Naná Vasconcelos, produtor de seu primeiro CD, em 2000, o Cordel é um fenômeno do boca-a-boca. Sem nunca ter emplacado hit no rádio ou na televisão, consolidou uma promissora carreira graças às turnês, que rodaram todo o Brasil, conquistando milhares de fãs, especialmente jovens, atraídos pelo transe de seu vocalista, Lirinha.

A principal mudança na rota da banda ocorre exatamente aí. Se os dois primeiros CDs eram registros de espetáculos teatrais, este faz o caminho contrário. "Antes, as músicas eram compostas de acordo com a concepção cênica. Os arranjos, elaborados na experimentação ao vivo. Na composição, levávamos em conta os fatores cênicos, a reação do público e tal", explica Lirinha, 29.

"Transfiguração" nasce primeiro como álbum, diz ele. "A gente decidiu que esse terceiro disco seria um mergulho no ambiente musical, quase inédito na banda. Um aprofundamento em estúdio." Esse novo "conceito" se reflete na escolha dos produtores, o experiente Carlos Eduardo Miranda e Gustavo Lenda, e na mixagem feita pelo americano Scotty Hard, mesmo do De La Soul.

Ao contrário da crueza melancólica do CD anterior, "O Circo do Palhaço Sem Futuro", neste, o mergulho na cena musical resultou em composições harmoniosas, como "Aqui (ou Memórias do Cárcere)", "Sobre as Folhas (ou o Barão nas Árvores)", e na singela "Preta".

A percussão continua sendo a base de todas as canções, mas, diz Lirinha, a banda tentou extrair dela uma sonoridade distinta, "que não fosse considerada arcaica e tradicionalista", como a imagem que esse instrumento carrega, segundo ele.

"É a busca por um som que pudesse fazer parte da memória musical da população, principalmente de nossa geração, sem necessariamente trazer imagens do passado, de algo tribal", afirma. As referências à poesia de cordel e à literatura, outra marca registrada, continuam intocadas. Mas também elas prenunciam sinais de transformação, como em "Canto dos Emigrantes", poema do pernambucano Alberto da Cunha Melo, que Lirinha recita sobre uma base jazzística, marcada por efeitos eletrônicos feitos por Buguinha Dub.

Se ainda não é uma obra-prima, "Transfiguração" prenuncia um Cordel mais maduro, o que é um ótimo sinal.

TRANSFIGURAÇÃO    
Artista: Cordel do Fogo Encantado
Lançamento: Rec Beat (independente)
Quanto: R$ 22

POR QUE OUVIR
Em seu disco mais maduro, a banda não abandona as raízes, mas flerta com a eletrônica e o rap, mostrando que está disposta a arriscar; destaque para "Morte e Vida Stanley" e a participação do rapper BNegão em "Pedra e Bala"

(© Folha de S. Paulo)

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