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Nóbrega faz o frevo virar balé

10/06/2008

Antonio Carlos Nóbrega


Artista hipnotizou a platéia que assistiu ao primeiro fim de semana da turnê 9 de frevereiro


JOSÉ TELES

Um espetáculo imperdível. O surrado clichê é a frase que melhor se aproxima de definir o musical 9 de frevereiro, que Antonio Nóbrega comandou, sábado à noite, no Teatro do UFPE. Comandou porque foi o mestre de cerimônia de uma celebração ao frevo, que começou didática, transitou pelo circo, balé, teatro, musical e terminou apoteótica, num carnaval fora de época espontâneo.

O roteiro, o cenário, o repertório, tudo é de uma coesão impecável. Os desenhos de Dantas Suassuna no telão dão lugar a fotos do Jornal Pequeno (onde a palavra “frevo” foi publicada pela primeira vez, em nove de fevereiro de 1907), e outros jornais da época. A apresentação começa em ritmo de aula-espetáculo (com alguns desenhos de Dantas Suassuna, as únicas referências ao armorial do qual Nóbrega foi um dos alunos mais aplicados). Ensina-se a diferença entre um frevo-de-rua tocado por uma orquestra, depois com um grupo de pau e corda (liderado pelo bandolim de Marcos César), e apenas percussão, usando-se como ilustrações Último dia (Levino Ferreira), Transcendental (Cláudio Almeida), e Corisco (Lourival Oliveira).

O repertório é baseado nos dois CDs 9 de frevereiro (o segundo volume foi lançado com os três shows no Teatro da UFPE), mas funciona bem melhor no palco, com seu impacto visual. É no teatro que Nóbrega, entre outras coisas, exercita sua vontade de criar uma dança nacional a partir dos passos do frevo. Quatro bailarinos (dois homens e duas mulheres) e o próprio Antonio Nóbrega fazem do passo uma coreografia de balé. Uma catarse de rua reprocessada em dança leve e refinada. Aliás, embora seja lançamento do novo disco, deste se viu pouco. O musical é muito mais uma história do frevo, com um capítulo especial que conta sua origem dos capoeiras, em dramática coreografia do artista, com luzes focalizadas apenas nele, que vão mudando de ritmo até explodir no colorido do frevo rasgado. A seguir, num bloco de frevos-canção, surgem personagens do Carnaval pernambucano: um hilário boneco de Olinda anão, o morto carregando o vivo (no caso, uma noiva), entre outros. Há aberturas para o Coral Edgar Moraes e para a Spokfrevo Orquestra, que continua a aula-espetáculo ensinando e exemplificando com os músicos as várias nuances do frevo-de-rua (e suas três variações: coqueiro, ventania e abafo), frevo-canção e de frevo-de-bloco.

O musical teve o ritmo levemente quebrado apenas quando uma moça da platéia foi levada ao palco por Nóbrega para aprender lições de passos. Felizmente, ela era desinibida e conseguiu tornar o mico numa passagem engraçada. Aberto com Último dia, o show é fechado acertadamente com Vassourinha (Joana Batista/Matias da Rocha).

Fechado, mas não terminado. A platéia aplaudiu e pediu bis. Que lhe foi dado. Antes, Nóbrega ensaiou um curto protesto pela ausência do frevo na programação das rádios pernambucanas e, em seguida, trouxe mais alguém da platéia. Só que, neste caso, era um veterano dos microfones e palcos: Claudionor Germano. Os dois cantaram, em dueto, Frevo e ciranda e Ô bela, de Capiba. Aí a platéia já havia caído no passo (no meio dela estava o prefeito João Paulo), e foi arrastada pela orquestra do maestro Spok para fora do teatro, dançando por quase uma hora os principais clássicos do frevo, num baile que terminou com Evocação de Nelson Ferreira.

9 de frevereiro é o melhor show da carreira de Antonio Nóbrega. Nos comentários das pessoas que deixavam, suadas de tanto frevar, o Teatro da UFPE. O mesmo que, no próximo fim de semana (sexta, sábado e domingo), recebe o mesmo espetáculo.

(© JC Online)

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