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10/06/2008
CARLOS RENNÓ O volume, de autoria do escritor e letrista Francisco Bosco, vem se juntar a outros dois antológicos textos relativamente recentes, aos quais não à toa se refere em vários instantes: "Caymmi: Uma Utopia de Lugar" (Perspectiva, 1996), de Antonio Risério; e "Dorival Caymmi" (de 1994, incluído em "40 Escritos", Iluminuras, 2000), de Arnaldo Antunes -este, originalmente, apenas um release de um disco, porém de alcance profundo. Bosco se propõe a elucidar o mistério da drástica originalidade do compositor baiano, justamente colocado como o exemplo máximo do "fundamento da canção": a correspondência entre letra e música. Atribuindo sua produção quantitativamente pequena a "uma ética da criação segundo a qual (...) só se devem fazer as canções necessárias", o autor a aborda em suas vertentes básicas: os "sambas sacudidos", os sambas-canções e as canções praieiras. Nos primeiros, aponta como foco de sua singularidade o seu caráter feminino, determinado pelo componente do dengo associável ao remelexo, pelo ritmo e pela representação delicada e sensual da figura da mulher. É o contrário do que sucede no samba carioca, marcado pela síncope e pela moral do malandro, e no qual a mulher às vezes é vítima de um tratamento grosseiro. Sobre os sambas-canções, Bosco reafirma os conhecidos elementos caymmianos diferenciais em relação ao que predomina no gênero: a concisão, o não-derramamento e a inventividade harmônica, precursora da bossa nova. Mas, indo além, observa que é neles que Dorival Caymmi "encontra a história", tornando-se "contemporâneo de seu tempo". Mais surpreendente é a sua visão do conjunto das praieiras, definido, com
razão, como o mais original da "obra sempre original" de Dorival Caymmi. Tão próximas na relação com o mundo concreto, tão simples na linguagem, são as letras das praieiras e dos sambas sacudidos. Isoladamente, não se verifica poeticidade nelas: antes, o poético, com grande expressividade e poder de envolvência, surge no espaço das palavras (ao serem) cantadas no seu encontro com a melodia, em suma. Papel de destaque desempenha aqui o violão caymmiano, por meio do qual não apenas a letra mas também a música descreve a realidade. Não se trata de um violão de acompanhamento. Ele se isomorfiza às coisas a que cada canção alude, como Bosco revela num dos trechos mais atraentes do livro, nos convidando à audição das gravações que o artista fez, sozinho, de clássicos como "A Lenda do Abaeté", "O Vento", "Canoeiro" e "O Mar". Eu diria mais: que também a voz de Caymmi colabora na criação da atmosfera mágica que se instaura nesses momentos. É (re)ouvir e morrer... O texto de Bosco explica a originalidade da obra de Caymmi com sensibilidade, erudição e elegância, daí advindo a singularidade da sua perspectiva. CARLOS RENNÓ é letrista e jornalista, apresentador
do programa "Uma Vez, Uma Canção", da TV Cultura, e organizador de "Gilberto
Gil -Todas as Letras" (Companhia das Letras). Família Caymmi canta o pai Dorival O show "Caymmi por Nana, Dori e Danilo" é uma extensão das homenagens iniciadas com o lançamento de CD que celebrava os 90 anos de Dorival Adriana Del Ré
No repertório do show, os irmãos cantam clássicos de Dorival, entre eles, os obrigatórios "O Que é Que a Baiana Tem", "Promessa de Pescador" e "Saudade de Itapoã". Além de revisitar sua obra musicalmente falando, os três prometem outro bom momento do espetáculo, quando vão compartilhar com o público algumas passagens da vida e histórias de Dorival, que completou 92 anos em abril. Os irmãos Caymmi vêm de uma temporada de homenagens, que teve início em 2004 quando justamente "Para Caymmi, de Nana, Dori e Danilo" foi lançado. Um show histórico no Canecão, no Rio naquele ano, rendeu ainda um disco ao vivo e um DVD. A comoção no palco foi tamanha que Nana não permitiu que nenhum reparo interferisse naqueles registros ao vivo. Não deixou que o produtor musical, o perfeccionista Zé Milton, mexesse em sequer um detalhe fora do lugar. O próprio Dorival Caymmi apareceu nesse show. Não muito diferente do disco feito em estúdio poucos meses antes, o repertório do espetáculo relembrou alegres sambas do compositor baiano. Entre eles, "Saudades da Bahia", "Acontece Que Eu Sou Baiano", "O Samba da Minha Terra", "A Vizinha do Lado", além dos belos "Promessa de Pescador", "O Bem do Mar", "Peguei Um Ita no Norte" e "Marina". Todos os arranjos das canções são assinadas por Dori Caymmi. É o que eles devem reproduzir agora em Caymmi por Nana, Dori e Danilo. Caymmi por Nana, Dori e Danilo. Teatro do Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195, (11) 3095-9400. Sábado, 21 h; dom., 18 h. R$ 15 a R$ 30 Vídeo: Dorival Caymmi, Gal Costa, Daniela Mercury, Djavan, Tom Jobim e Chico Buarque interpretam Paratodos (2' 51")
Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
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