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 Meios de transporte e outras histórias de Alcides

 

  

Exposição que será inaugurada hoje na Galeria Estação revela a riqueza das composições do pintor autodidata por meio de 25 obras feitas entre 1982 e 2006

Camila Molina

Arte popular, arte naif, arte primitiva, arte regional. Usa-se muito esses termos para caracterizar criações de artistas autodidatas ou artistas espontâneos espalhados por todo o Brasil, mas, é possível sempre estancar fronteiras em se tratando da arte? A cultura brasileira, heterogênea e rica, é fonte para todos os criadores e mesmo tantos classificados como eruditos bebem na fonte do popular, afirma Vilma Eid, diretora da Galeria Estação, em São Paulo, e colecionadora de obras que ela prefere caracterizar de arte do imaginário do povo brasileiro. 'Não é o caso de se usar o adjetivo popular e, também, confunde-se muito, dentro desse núcleo, o que é arte, artesanato e folclore', diz Vilma que com um grupo de cerca de 80 amigos e entusiastas desse ramo de criação fizeram, em setembro de 2006, o Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro para a realização de diversas ações - como exposições e debates não somente relacionados às artes plásticas - para ir contra tanto preconceito que vigora. Uma delas é a inauguração hoje, na Galeria Estação de Vilma, da exposição de pinturas de Alcides Pereira dos Santos.

Trata-se da primeira mostra individual do artista em São Paulo. Suas obras já participaram de coletivas em instituições como o Museu Afro Brasil, Centro Cultural Banco do Brasil, Pinacoteca do Estado e Museu de Arte Moderna do Rio, mas exposição individual antes ele só teve em 1979 no Museu de Arte e Cultura Popular da Universidade Federal do Mato Grosso, Estado onde ele se radicou na década de 1950. Apesar de ações e discursos como o do Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro as criações de artistas como Alcides ainda ficam muito separadas no núcleo popular. Na 27ª Bienal de São Paulo, uma das salas da mostra era dedicada às belas pinturas do pintor e seringueiro Hélio Melo (1926-2001). Na atual exposição com obras da coleção da Fundação José e Paulina Nemirovsky, na Estação Pinacoteca, estão pinturas e cerâmicas ditas populares em meio a telas de Milton Dacosta e Arthur Luiz Piza, numa vontade de quebrar fronteiras. Mas a pergunta que fica é a de que um artista como Alcides deve se consagrar pela mão do mercado de arte para parar de ficar estagnado em um núcleo dito popular? Essa será sempre uma questão (que se amplia para tantos ramos da arte).

Entretanto, fazendo essa pergunta ou não, a importante exposição com 25 pinturas de Alcides, feitas entre 1982 e 2006, revela que um artista sempre fala por meio de sua obra se ela for forte e instigante, como é o seu caso. Também, como chama a atenção Vilma Eid, a história pessoal de Alcides (muitas vezes se chama a atenção para a história pessoal dos artistas autodidatas para entender sua obra) não é dado determinante para percebermos a potência de seus trabalhos.

Alcides nasceu na Bahia, em 1932, viveu em Mato Grosso e na década de 1990 mudou-se para São Paulo. Foi plaqueiro, é evangélico - 'acredita que a arte é dom de Deus', como escreve Lélia Coelho Frota, crítica e autora do Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro - Século 20. Sabendo isso ou não, s ua pintura revela uma construção formal e muitas vezes limpa que impressiona. Estão nelas temas como os meios de transportes, fachadas de casas, a cena rural e o divino.

(SERVIÇO)
Alcides. Galeria Estação.Rua Ferreira de Araújo, 625, tel. 3813-7253. De 2.ª a 6.ª, das 11 h às 19 h; sáb. até as 15 h. Grátis. Até 29/9. Abertura hoje, 20 h, para convidados

(© Agência Estado)

 

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