Notícias
 Zaldorf em dose dupla

 

Divulgação

Zaldorf, ex-integrante do grupo Aratanha Azul
 

Ex-integrante do grupo Aratanha Azul faz compilação do que vem produzindo nas áreas de música e literatura

José Teles
teles@jc.com.br

O filme é bem conhecido. Começou em meados dos anos 70, quando quatro garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones se conheceram e resolveram formar uma banda. Zaldo Rocha, tecladista, Thales Silveira, o baixista, João Maurício, guitarrista, e Paulo Daniel, baterista, deram ao grupo o nome de Aratanha Azul.

Os ensaios aconteciam na casa do ex-prefeito Pelópidas Silveira (pai do baixista Thales). O mais velho do grupo, João Maurício, estava com 17 anos. O mais novo, Paulo Daniel, com apenas 12 anos. O Aratanha Azul foi à luta, fez turnês e gravou um disco. Porém, subitamente, os quatro músicos decidiram que tinham outros objetivos na vida, e a Aratanha Azul saiu dos palcos para se tornar um capítulo da história da música popular pernambucana.

Quem viu o filme agora terá oportunidade de ouvir os discos e ler os livros, que o tecladista Zaldo Rocha Filho, ou melhor, Zaldorf, lança amanhã, a partir das 20h, no Bar Central. Zaldorf vem em doses duplas. Pesado demais para a sua cabeça...leve demais para o seu coração, é como se intitulam os dois CDs. Lembrador e A escuridão por trás do sol, os livros. O primeiro de contos, o segundo de poemas: “São coisas distintas, não têm ligação entre si, livros e música, a não ser pelo fato de serem de minha autoria, porque gosto de compor e de escrever”, esclarece Zaldorf.

Sem recorrer a patrocínio oficiais, ele fez um trabalho graficamente ousado. Os CDS vem encaixados em suportes em forma de LP, já a capa do álbum tem as dimensões das capas dos antigos bolachões em vinil: “Quis prestar uma homenagem ao vinil. Capa de CD não tem muita graça. Antes a gente ficava aguardando o lançamento do LP ansioso para ver a capa”, justifica Zaldorf. Na empreitada musical, estão com ele os amigos Mário Lobo, Ebel Perreli, Alexandre Bicudo e Thales Silveira, ou seja, alguns dos mais refinados instrumentistas da cidade.

Com o fim do Aratanha Azul, Zaldo Rocha foi estudar na Unicamp, onde fez bacharelado em música (composição e regência) e mestrado e doutorado em lingüistica. Passou de 1979 a 1997 fora de Pernambuco, mas de uma forma ou outra atrelado à arte. Participou do projeto Processo poesia ladrão, apresentado na Bienal do Livro, em São Paulo, em Campinas e no Recife. Arrebatou prêmios em festivais. ganhou um 1º lugar num certame promovido pela Unicamp, repetiu o feito num festival da PUC, de Campinas, e um 2º lugar num festival da TV Cultura. Fez trilhas para teatro, cinema e balé. Gravou quatro discos, Chove em junho (1991), Músicas de cena I (instrumental, 1992), Músicas de cena II (instrumental 1993) e Não chora ninguém (só de frevos, 2000).
 


O Aratanha Azul, reunido 25 anos depois (Foto: Música de Pernambuco)


Com exceção do CD De volta à terra (2003), que marcou a reunião do Aratanha Azul, há sete anos Zaldo não lançava disco: “O retorno do Aratanha foi assim como se a gente quisesse continuar o que mal se chegou a iniciar. Gravamos na época apenas um compacto. Já estes discos que estou lançando fazem um apanhado da minha música. Fiz uma triagem entre mais de 40 composições que tinha guardadas. Tem coisa que foi feita em 1979, Baião do tempo é uma dessas, e há outras mais recente, caso de Insônia, que é de 2006”. Zaldorf diz que os textos também são de várias épocas, tudo rigorosamente inédito: “Algumas das músicas chegaram a ser cantadas em shows, mas nunca foram gravadas. No disco que chamo de mais pesado estão as canções mais dançáveis, mais ligadas ao rock, guitarras, embora tenha até um frevo. O que chamo de mais leve, traz bossa nova, samba, baladas, varia mais de estilos. No disco só não tem blues e reggae, mas eu tenho reggae e blues, que devo incluir em outro disco. Estou trabalhando atualmente num disco de frevos”, conta Zaldo Rocha, que tirou do próprio bolso os R$ 60 mil gastos com o álbum (os discos foram mixados em Paris) e o livro: “Até cheguei a tentar uma lei de incentivo, mas meu projeto não foi aprovado”, revela, Zaldo que não precisa da música para se sustentar. Trabalha administrando os imóveis da família, e eventualmente ensina lingüistica em universidades.

Ao contrário de outros músicos de sua geração, Lenine ou Geraldo Maia, que circulam bem entre a geração manguebeat, Zaldo Rocha vê a atual cena musical pernambucana de longe, não se aproximou dos novos músicos: “Acho que talvez porque eles são bem mais jovens, eu estou com 50 anos, depois passei muito tempo fora daqui. Na minha época eram poucos os grupos, havia os Cães Mortos, Lenine já tocava naquela época, hoje são muitos, e as coisas aconteceram quando eu estava fora. Mesmo assim procuro estar a par do que está rolando, sempre que posso vou a shows”, conta Zaldo. Ele pretende fazer este repertório no palco, mas não definiu ainda local e data. Por enquanto, de certo apenas a divulgação com este lançamento hoje.

A literatura de Zaldorf, como ele mesmo afirmou, tem pouco a ver com sua música. Lembrador tem contos, uns curtos, outros mais longos, densos, bem escritos, passam-se em sua maioria no Recife, em épocas diversas. Personagens fictícios cruzam com pessoas reais. Já a poesia de Zaldorf equilibra-se entre os poemas curtinhos, quase hai-cai: “Quem dorme primeiro: teu ciúme, ou meu segredo?”

Os poemas mais longos assemelham-se mais a letras de música: “O amor nos atravessa ao meio/como lâmina afiada/dividindo corpo e alma/amizade e paixão” (versos de O amor).

Zardorf, no entanto, está mais à vontade fazendo música, sua praia. Pesado demais para a sua cabeça, ou o lado A, chama atenção pela ótima qualidade sonora, músicas bem-resolvidas, sem seguir tendências e ótimas letras. Zaldorf canta bem, mastiga e cospe as letras das canções. Lembra um pouco a prolixidade e facilidade melódica de Lula Queiroga. No disco B, o Leve demais para o seu coração (não tão leve assim), as canções têm beat menos acelerado, mas ainda assim bem suingadas. Em O brinde, a faixa de abertura, Zaldorf cobra o escanteio, corre pra cabeçear e ainda defende o gol. Ele toca tudo. As tendências literárias no artista faz com que ele se exceda em algumas letras, como em Um anjo no espelho. Os dois discos são antes de tudo pop, acessíveis, música para tocar no rádio.

» Lançamento hoje, às 20h, no Bar Central, na Rua Mamede Simões, 144 (por trás da Assembléia Legislativa), fone: 3222-7622. Preços: discos e livros: R$40. Só os discos, R$30, só o livro: R$15

(© JC Online)

 

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind