Ainda hoje polêmico, Caetano Veloso, o baiano de Santo
Amaro da Purificação, completa 65 anos nesta terça-feira
Caê é polêmico e delicioso. E irreverente, contraditório, irritante. Ao
longo da carreira, que teve início em 1965, cinco anos depois de chegar a
Salvador, Caetano legou trabalhos insuperáveis e únicos. Foi lá onde travou
o primeiro contato com a bossa nova de João Gilberto, onde conheceu Gilberto
Gil, onde deu os primeiros passos de uma carreira frutífera. E Tom Zé, Gal
Costa. Do primeiro trabalho, a trilha sonora do espetáculo “O Boca de Ouro”,
de Nelson Rodrigues, Caê saltou para o mundo. Envolveu-se intimamente com os
momentos importantes da música e da história do país - e outras tantas vezes
apareceu para soltar fagulhas e ver o fogo se espalhar, observando ao longe.
Foi próximo de Antônio Carlos Magalhães, um dos políticos mais cruéis do
Brasil (que faleceu recentemente, em 20 de julho). Apoiou o candidato Lula,
criticou o presidente reeleito. Regravou músicas de compositores chamados
cafonas, como Odair José, quando o estilo sofria preconceitos ainda mais
fortes que os de hoje. Mais recentemente voltou a fazer o mesmo com outros
músicos, como Peninha, o que resultou numa das músicas mais grudentas a
tocar nas rádios comerciais, “Sozinho”, e ainda a MC Bela, do polêmico “Um
tapinha não dói”. Em entrevista ao Caderno 3, quando em abril veio fazer
show em Fortaleza, chegou a chamar a axé music de “grande tesouro”. Baiano
de Santo Amaro da Purificação, filho de dona Canô e Seu Zezinho, irmão de
Maria Bethania, Caetano faz, hoje, o 65° aniversário.
A ser lembrada, com uma reverência sincera, as décadas de 60 e 70, quando
discos importantes foram lançados. Entre eles, “Caetano Veloso”
(principalmente o de 68, que traz a canção “Alegria, Alegria”, marco do
movimento Tropicalista. São três os discos que levam o nome do músico. O já
mencionado de 68, um de 69 e outro de 71), “Barra 69 -Caetano e Gil ao vivo
no Teatro Castro Alves” e “Tropicália”, ambos de 69, “Muitos Carnavais”, em
76 etc. Em 77 viria à tona o famoso “Doces Bárbaros”, com Gilberto Gil,
Maria Bethania e Gal Costa. Inicialmente pensado para ser gravado em
estúdio, o disco acabou sendo a gravação de um show. Este último, aliás, é
uma das obras mais singurales do músico, apesar de muito criticado à época
do lançamento.
Desavenças
No exílio, em Londres, Caetano entrou em contato com outras manifestações da
época, não presas à luta política, mas na afirmação de uma liberdade
subversiva. Polêmicas com a imprensa, gravadoras e colegas foram inúmeras.
Nada Caetano deixou passar. Nunca teve papas na língua. Com o cearense
Fagner trocou várias farpas. Cada um defendendo seu território, seu estilo.
Os dois até hoje não se bicam. Com o seu “Verdade Tropical”, Caetano Veloso
contou sua trajetória e da sua música. Da Bahia ao Rio. Da Tropicália aos
festivais. Da forte influência que recebeu dos irmãos Campos e de João
Gilberto. Uma vida e muitas lutas. O cantor baiano nunca foi de abandonar
suas idéias, sua estética.
Mas esqueçamos os rótulos. Não há porque definir Caetano Veloso, perder
tempo com isso. Da mesma forma que é desperdício de energia atentar a tudo
quanto ele diz. Ora, se é verdade que a vida pessoal do artista não é a
mesma coisa que a produção dele, o músico deve ser reverenciado, e ponto.
(©
Diário do Nordeste) |