Um dos mais geniais criadores da música brasileira é
homenageado com disco que resgata seus sucessos
Lauro Lisboa Garcia, do Estadão
Na segunda-feira, 6, fez um ano que morreu Moacir
Santos, reconhecido como um dos mais influentes e geniais criadores da música
brasileira. Coincidindo com a data, a cantora Muiza Adnet presta sua elegante e
afetuosa homenagem ao maestro, arranjador, compositor e saxofonista com o CD
As Canções de Moacir Santos (Adnet Música/Tratore), em que interpreta 12
temas dele com letras de Vinicius de Moraes, Gilberto Gil e Mario Telles, entre
outros. Duas são inéditas: A Marchinha dos Santos Glória, parceria de
Moacir com Jean Garfunkel, e Wake up and Smile, com Jay Livingston e
Ray Evans.
Admiradores
aplicados, como o violonista Mario Adnet e o saxofonista Zé Nogueira,
contruibuíram expressivamente para ampliar o reconhecimento do maestro nos
últimos anos. Produziram, entre outros trabalhos, o antológico álbum duplo
Ouro Negro, em 2001, revisitando a obra dele. Entre ilustres convidados,
Muiza estava lá, na faixa de encerramento, cantando com Moacir. A parceria e a
idéia de um CD de canções dele começou ali.
A amizade e a
admiração mútua cresceram a ponto de Moacir cravar esta frase que está na
contracapa do CD: "Se eu fosse imperador, Muiza seria a minha cantora."
Entusiasmado com o projeto, o maestro veio dos Estados Unidos (para onde se
mudou em 1967), especialmente para realizar as que se tornaram suas últimas
gravações. Para Muiza o desafio maior é não poder alterar o tom, mesmo que
sacrificando o conforto para a voz. "As coisas do Moacir já vêm com arranjo, é
muito difícil mudar para o tom que você quer. Eu tenho de me adaptar ao arranjo,
senão fica completamente descaracterizado", conta.
Voltam a figurar
no CD de Muiza alguns participantes de Ouro Negro - Milton Nascimento
(voz), Armando Marçal (percussão), Ricardo Silveira (guitarra), Marcos
Nimrichter (acordeão), Andréa Ernest Dias (flauta), além de Zé Nogueira e Mario
Adnet, que assina os arranjos e a direção musical. Soma-se a eles uma nova
geração de afiados instrumentistas, como Edu Neves (flauta) e o trio de
‘Gabriéis’: Improta (guitarra e violão), Grossi (gaita) e Geszti (piano).
Os irmãos Muiza e
Mario pinçaram canções raras de Moacir, algumas sugeridas por ele mesmo,
gravadas em discos do autor, de Gilberto Gil e Marlui Miranda (O Sol de Oslo)
e Elizeth Cardoso (Elizeth Canta Vinicius) e lhes deram novo ânimo. Uma
das três parcerias com Vinicius, a belíssima A Santinha lá da Serra é o
ápice do CD, unindo as vozes da cantora, de Moacir e de Milton. Ciranda
(letra de Gil) é outra pedra brilhante. "Fico com pena de cantar algumas em
inglês, mas foi assim que ele gravou, não têm versão em português", diz Muiza.
Tomorrow Is Mine (duo com Ivan Lins) é um desses temas que o maestro
pernambucano gravou em seus discos americanos.
Até decolar com
este primeiro trabalho-solo, Muiza integrou projetos musicais pontuados pelo
rigor e a sofisticação. Fez vocais na banda de Tom Jobim, cantou Villa-Lobos em
CD do irmão e também participou de Choros e Alegria, o derradeiro álbum
de Moacir. Muiza também é chegada em cantar samba antigo e choro. "Gosto de um
troço difícil."
(©
Agência Estado) |