RIO - No ano de 1967, na lendária mostra Nova
Objetividade Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) do
Rio, Hélio Oiticica apresentou pela primeira vez sua Tropicália
- "a obra mais antropofágica da arte brasileira", nas palavras do
próprio. Passadas quatro décadas, Tropicália, a exposição,
ocupa mais de 2 mil metros quadrados do mesmo MAM do Rio, depois de
fazer o circuito Chicago-Londres-Berlim-Nova York. A mostra, que aberta
ao público nesta quarta-feira, 8, terá a
instalação-marco daquele que é considerado um dos mais revolucionários
artistas brasileiros: um penetrável tropical com uma TV permanentemente
ligada, que "devora" o espectador durante a interação.
Os parangolés de Oiticica também foram trazidos para o
MAM - virão com integrantes da Mangueira, escola de samba que teve a
performance barrada em 67 e volta como convidada especial Numa área que
inclui todo o segundo andar do museu e parte do primeiro, serão exibidas
obras de outros 27 artistas - cerca de 250 objetos. Alguns deles
participaram da mostra de 40 anos atrás, como Lygia Clark, Lygia Pape,
Nelson Leirner e Antonio Dias. A intenção é mostrar o diálogo entre
diferentes campos artísticos e entre criadores que não necessariamente
eram ligados ao movimento tropicalista: as artes plásticas; a poesia
concreta e neoconcreta de Augusto de Campos e Ferreira Gullar; a música
de Gilberto Gil, Caetano Veloso e dos Mutantes; a arquitetura de Lina Bo
Bardi.
Um espaço foi montado para lembrar a peça O Rei da
Vela, escrita em 1933 por Oswald de Andrade e que teve montagem
histórica do Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa também em
1967, com cenografia de Hélio Eichbauer. Numa parede, foram colocados
pôsteres de filmes como Terra em Transe, de Glauber Rocha, Macunaíma, de
Joaquim Pedro de Andrade, e O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério
Sganzerla. Adiante, vêem-se livros e capas de revistas e discos da
época.
Artistas de outras gerações influenciados pelos
tropicalistas e por sua opção pela ruptura com o status quo, também
fazem parte da mostra: o músico Arto Lindsay, os artistas plásticos
Ernesto Neto e Dominique Gonzalez-Foerster (francesa) fizeram releituras
e prestaram homenagens aos integrantes da vanguarda da arte no Brasil.
Organizada pelo Gabinete Cultura, escritório de Emílio
Kalil, e patrocinada pela Petrobras, Tropicália - Uma Revolução na
Cultura Brasileira (1967-1972) tem curadoria do argentino Carlos
Basualdo, que já fez parte da equipe de curadores da Documenta de
Kassel, na Alemanha, e da Bienal de Veneza, na Itália.
A mostra ganhou o mundo em outubro de 2005. Passou
pelo Museum of Contemporary Art de Chicago, o Barbican Art Gallery de
Londres, o Haus der Kulturen der Welt de Berlim e o Bronx Museum of Arts
de Nova York, sempre com boa repercussão. Agora, retorna à sua casa. "O
MAM faz parte da história da Tropicália. Não dá para falar de Tropicália
sem lembrar daqui", diz Emílio Kalil, para quem trata-se de "uma grande
festa de aniversário".
No Rio para a abertura, o brasilianista Christopher
Dunn grande especialista no movimento, achou a decisão de ter o MAM
como enário acertada. "Não precisava necessariamente ser aqui, mas a
escolha foi feliz." Dunn considera que não faria muito sentido reeditar
a "Nova Objetividade Brasileira" - importante é manter o "espírito
ecumênico" da mostra original. Professor da Tulane University, em New
Orleans, Dunn assina um ensaio no livro sobre a exposição. A publicação
em inglês já teve edição esgotada. No Brasil, será lançada pela Cosac
Naify e terá, além de fotografias, textos históricos, como o Manifesto
Antropofágico, de Oswald de Andrade, cujas idéias foram usadas mais
tarde pelos tropicalistas. A exposição ficará em cartaz até o dia 30 de
setembro, todos os dias, com exceção da segunda-feira.