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 Alceu Valença e Tom Zé fazem show no Largo São Francisco

 

Valéria Gonçalves/AE

Alceu Valença
 

Evento que comemora os 180 anos da Faculdade do Largo São Francisco será transmitido ao vivo pela TV

SÃO PAULO - A possibilidade de ver Alceu Valença cantar ao ar livre é sempre interessante. De graça, melhor ainda. Ao lado de Tom Zé e Toquinho, ele está no elenco previsto para animar o show de comemoração dos 180 anos da Faculdade do Largo São Francisco, neste sábado, a partir das 17 horas. Além de patrimônio histórico o prédio da faculdade se tornou palco-símbolo da resistência contra a ditadura nos anos 70.  

O evento 180 X 11, promovido pela USP, pelo Sesc-TV e pela TV Cultura, que transmitirão ao vivo, terá ainda leituras dramatizadas de textos de Mário de Andrade, Castro Alves e outros, feitas no palco ou gravadas pelos atores Caio Blat, Paschoal da Conceição, Marat Descartes, Lavignia Pannunzio e José Carlos Machado. No encerramento, às 20 horas, será exibido o documentário Ultimato à Ditadura, sobre o manifesto de 11 de agosto de 1977.  

Alceu é a atração principal e ocupará os dois blocos finais do evento. A parte musical contará ainda com o Mamelo Sound System, o coral dos alunos da faculdade e a cantora Luciana Mello.

(© Agência Estado)


Tom Zé, um gênio complicador que vive no risco da criação

Lucas Cunha, A Tarde On Line

Fernanda Pittelkow/Divulgação

O músico Tom Zé, que completa 71 anos no próximo dia 11 de Outubro, ganhou ainda em vida uma justa homenagem no documentário do jovem cineasta Décio Matos Jr, Fabricando Tom Zé (em cartaz na capital baiana desde a última sexta, 10), vencedor do prêmio popular nos festivais de cinema do Rio de Janeiro e São Paulo em 2006, mais devido à empatia do público com o artista do que pelas qualidades do debut de Matos na direção de um longa. 

Mesmo gostando do resultado final, este baiano de Irará já disse em algumas entrevistas - quando Fabricando Tom Zé foi lançado nos festivais no Rio e São Paulo - que se considera novo para ganhar um documentário. Compreensível, afinal Tom Zé ainda se encontra em uma próspera fase criativa. Tanto que respondeu estas perguntas – por e-mail - diretamente do estúdio onde se encontra preparando um novo material: “Assim que eu souber o que vem por aí te aviso”, diz o músico, que mesmo não revelando sobre seu novo material, responde a algumas questões sobre sua opinião acerca de Fabricando Tom Zé, questiona sobre o papel do artista e ainda comenta opiniões do conterrâneo Caetano Veloso, quem Tom Zé pediu para não aparecer em seu documentário, mas por decisão do diretor, acabou entrando na fita.

Em Fabricando Tom Zé, Caetano - em momentos distintos - chama Tom Zé de “gênio” e “complicador”. Tom Zé responde: “Caetano me definir como complicador é uma finura de percepção que agradeço a ele... Não é que eu veja Caetano como gênio: ele é”.

 

A Tarde On Line - Qual foi sua primeira impressão ao ver o filme finalizado? Após rever o filme, teve uma nova opinião?

Tom Zé - Fiquei surpreendido com a qualidade e capacidade de encadeamento dramático de Décio Matos Jr.(diretor) e da menina da montagem, Letícia. Revi o filme e as qualidades que primeiro me impressionaram se mantêm. São uns meninos danados.  

A Tarde On Line -  Você concorda que sua participação funciona, muitas vezes, como um co-diretor (ou pelo co-roteirista) do documentário, indicando o que deveria entrar na fita?

Tom Zé - Eu sou da geração metalinguagem, é natural que durante a filmagem eu pensasse num filme que às vezes olhasse a si próprio.   

A Tarde On Line - Pouco aparece no filme sobre Irará e menos ainda sobre sua relação com Salvador. Concorda com isso?  Você acha que a Bahia - principalmente Salvador - dá a devida importância ao seu trabalho?

Tom Zé - O que há de Irará é muito intenso, as pessoas da cidade, as convivências atualizadas pelo filme. A intensidade aumenta o espaço da ação e Irará vem com força no entrecho do filme. Sobre a importância que a Bahia e Salvador dão ao meu trabalho, cada vez que me apresento na cidade o público é extremamente caloroso. Não sei se dá “a devida”, mas dá importância.   

A Tarde On Line – No final do documentário, você se compara ao Galeano (jogador de futebol que atuou boa parte de sua carreira pelo Palmeiras, mas passou pelo Bahia) mais conhecido pela sua raça que pelo futebol-arte. Ao mesmo tempo, coloca em vários outros pontos do filme seu trabalho com algo requintado. Essa confusão existe em você?

Tom Zé - Não vejo como separar o suor de fazer, o esforço da atuação, de algum talento que se tenha para exercer um trabalho artístico: de marcenaria, de música, pintura, arquitetura. Quem escapa disso são os gênios, será? Só perguntando a eles, há alguns na praça, em várias áreas.  

A Tarde On Line – Nas entrevistas que Caetano Veloso aparece durante o filme, ele lhe chama de gênio, citando um show seu que viu no Vila velha ao lado da Paula Lavigne. Ao mesmo tempo fala do "complicador que era o Tom Zé". Como é a relação de vocês, também vê o Caetano como um gênio?

Tom Zé – Esse show no Vila Velha foi um belo momento. Márcio Meirelles foi um faz-tudo danado naquele show, estava tirando o Vila Velha das cinzas e eu colaborei, com meu show. Caetano me definir como complicador é uma finura de percepção que agradeço a ele. Esse atrito entre expressões diversas costuma ser muito produtivo para uma atividade artística. Não é que eu veja Caetano como gênio: ele é.   

A Tarde On Line - Em 2008, seu primeiro disco “Tom Zé” completa 40 anos. Algo especial em vista para comemorar essa data?

Tom Zé - Eu não tinha feito essa conta ainda sobre meu primeiro disco, obrigado por lembrar. Esses picos de tempo são estimulantes.    

A Tarde On Line – Em uma entrevista ao Metropolis da TV Cultura, você disse que era cedo ainda para ter um documentário seu. Como é aos 70 anos ainda encarar o desafio de trazer o novo? Será que a juventude atual não está cumprindo seu papel?

Tom Zé - É o jeito como sei viver, fazendo, no risco. Risco é uma palavra ótima, remete a desenho de relâmpago, à paciência do risco do bordado, a esboço numa tela, a perigo. Não fazer é mortal. A juventude tem sido muito desestimulada, muito induzida à inação, pelo pouco alimento que tem recebido. Com as linguagens renovadas dos mídias atuais, os usuários deles fazem menos do que devem e a juventude é muito esquecida. Há uma tendência de pensar nos jovens como consumidores-vítimas. É uma grande chateação, pois eles são o futuro.   

A Tarde On Line – Para terminar, algum show previsto na Bahia para os próximos meses?

Tom Zé - É possível que a próxima apresentação na Bahia seja em Feira de Santana, daqui a dois meses. Estou com muita saudade. 

(© A Tarde)

 

 

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