
O
músico Tom Zé, que completa 71 anos no próximo dia 11 de Outubro, ganhou
ainda em vida uma justa homenagem no documentário do jovem cineasta
Décio Matos Jr, Fabricando Tom Zé (em
cartaz na capital baiana desde a última sexta, 10), vencedor do
prêmio popular nos festivais de cinema do Rio de Janeiro e São Paulo em
2006, mais devido à empatia do público com o artista do que pelas
qualidades do debut de Matos na direção de um longa.
Mesmo gostando do resultado final, este
baiano de Irará já disse em algumas entrevistas - quando Fabricando
Tom Zé foi lançado nos festivais no Rio e São Paulo - que se
considera novo para ganhar um documentário. Compreensível, afinal Tom Zé
ainda se encontra em uma próspera fase criativa. Tanto que respondeu
estas perguntas – por e-mail - diretamente do estúdio onde se encontra
preparando um novo material: “Assim que eu souber o que vem por aí te
aviso”, diz o músico, que mesmo não revelando sobre seu novo material,
responde a algumas questões sobre sua opinião acerca de Fabricando
Tom Zé, questiona sobre o papel do artista e ainda comenta opiniões
do conterrâneo Caetano Veloso, quem Tom Zé pediu para não aparecer em
seu documentário, mas por decisão do diretor, acabou entrando na fita.
Em Fabricando Tom Zé, Caetano
- em momentos distintos - chama Tom Zé de “gênio” e “complicador”. Tom
Zé responde: “Caetano me definir como complicador é uma finura de
percepção que agradeço a ele... Não é que eu veja Caetano como gênio:
ele é”.
A Tarde On Line
- Qual foi sua primeira impressão ao ver o filme finalizado? Após rever
o filme, teve uma nova opinião?
Tom Zé
- Fiquei surpreendido com a qualidade e capacidade de encadeamento
dramático de Décio Matos Jr.(diretor) e da menina da montagem, Letícia.
Revi o filme e as qualidades que primeiro me impressionaram se mantêm.
São uns meninos danados.
A Tarde On Line
- Você concorda que sua participação funciona, muitas vezes, como um
co-diretor (ou pelo co-roteirista) do documentário, indicando o que
deveria entrar na fita?
Tom Zé - Eu
sou da geração metalinguagem, é natural que durante a filmagem eu
pensasse num filme que às vezes olhasse a si próprio.
A Tarde On Line
- Pouco aparece no filme sobre Irará e menos ainda sobre sua relação com
Salvador. Concorda com isso? Você acha que a Bahia - principalmente
Salvador - dá a devida importância ao seu trabalho?
Tom Zé
- O que há de Irará é muito intenso, as pessoas da cidade, as
convivências atualizadas pelo filme. A intensidade aumenta o espaço da
ação e Irará vem com força no entrecho do filme. Sobre a importância que
a Bahia e Salvador dão ao meu trabalho, cada vez que me apresento na
cidade o público é extremamente caloroso. Não sei se dá “a devida”, mas
dá importância.
A Tarde On Line
– No final do documentário, você se compara ao Galeano (jogador de
futebol que atuou boa parte de sua carreira pelo Palmeiras, mas passou
pelo Bahia) mais conhecido pela sua raça que pelo futebol-arte. Ao mesmo
tempo, coloca em vários outros pontos do filme seu trabalho com algo
requintado. Essa confusão existe em você?
Tom Zé
- Não vejo como separar o suor de fazer, o esforço da atuação, de algum
talento que se tenha para exercer um trabalho artístico: de marcenaria,
de música, pintura, arquitetura. Quem escapa disso são os gênios, será?
Só perguntando a eles, há alguns na praça, em várias áreas.
A Tarde On Line
– Nas entrevistas que Caetano Veloso aparece durante o filme, ele lhe
chama de gênio, citando um show seu que viu no Vila velha ao lado da
Paula Lavigne. Ao mesmo tempo fala do "complicador que era o Tom Zé".
Como é a relação de vocês, também vê o Caetano como um gênio?
Tom Zé
– Esse show no Vila Velha foi um belo momento. Márcio Meirelles foi um
faz-tudo danado naquele show, estava tirando o Vila Velha das cinzas e
eu colaborei, com meu show. Caetano me definir como complicador é uma
finura de percepção que agradeço a ele. Esse atrito entre expressões
diversas costuma ser muito produtivo para uma atividade artística. Não é
que eu veja Caetano como gênio: ele é.
A Tarde On Line
- Em 2008, seu primeiro disco “Tom Zé” completa 40 anos. Algo especial
em vista para comemorar essa data?
Tom Zé
- Eu não tinha feito essa conta ainda sobre meu primeiro disco, obrigado
por lembrar. Esses picos de tempo são estimulantes.
A Tarde On Line
– Em uma entrevista ao Metropolis da TV Cultura, você disse que era cedo
ainda para ter um documentário seu. Como é aos 70 anos ainda encarar o
desafio de trazer o novo? Será que a juventude atual não está cumprindo
seu papel?
Tom Zé
- É o jeito como sei viver, fazendo, no risco. Risco é uma palavra
ótima, remete a desenho de relâmpago, à paciência do risco do bordado, a
esboço numa tela, a perigo. Não fazer é mortal. A juventude tem sido
muito desestimulada, muito induzida à inação, pelo pouco alimento que
tem recebido. Com as linguagens renovadas dos mídias atuais, os usuários
deles fazem menos do que devem e a juventude é muito esquecida. Há uma
tendência de pensar nos jovens como consumidores-vítimas. É uma grande
chateação, pois eles são o futuro.
A Tarde On Line
– Para terminar, algum show previsto na Bahia para os próximos meses?
Tom Zé
- É possível que a próxima apresentação na Bahia seja em Feira de
Santana, daqui a dois meses. Estou com muita saudade.