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 Academia faz justiça a César Leal

 

 

 

O poeta César Leal
 

A eleição para a vaga de Evaldo Coutinho na APL foi disputada ainda pelo historiador José Luiz Mota Menezes e pelo escritor Carlos Cavalcanti (5 votos cada). César obteve 25 votos

Schneider Carpeggiani
carpeggiani@gmail.com

O poeta, professor emérito da UFPE e crítico literário César Leal é o novo imortal da Academia Pernambucana de Letras (APL), assumindo a vaga que era do filósofo Evaldo Coutinho. A votação ocorreu no final da tarde de segunda-feira. A eleição foi disputada ainda pelo historiador e arquiteto José Luiz Mota Menezes e o escritor Carlos Cavalcanti, com 5 votos cada um. César teve 25 votos. Houve apenas uma abstinência.

Ao vencer a eleição, César Leal apontou uma ausência naquela tarde na APL: “Estou sentindo falta de (o historiador falecido em junho) Manoel Correia de Andrade, que foi o primeiro acadêmico que me ligou garantindo seu voto, quando soube da minha candidatura. Manoel Correia foi o primeiro que eu visitei para trazer o meu voto”.

A cadeira ocupada por Manoel Correia de Andrade ainda continua vaga e tem, até agora, como única candidata a poeta Deborah Brennand. “Se eu tomar posse a tempo dessa eleição, com certeza votarei em Deborah. Ela é um dos maiores nomes da poesia pernambucana, tenho uma admiração fortíssima pelo seu trabalho”, destacou César.

Essa foi a terceira vez que César Leal se aproximou da Academia Pernambucana de Letras. A primeira foi em 1958. “O poeta Mauro Mota sugeriu que eu me candidatasse, porque não haveria concorrência. Mas eu era muito jovem, ainda não tinha uma obra estabelecida para fazer parte da instituição. Naquela época, o importante para mim era escrever. Foi uma atitude também de respeito à instituição. Assis Chateaubriand foi eleito para a Academia Brasileira de Letras aos 64 anos, e fez questão de dizer que uma academia é um lugar onde devem ingressar pessoas com uma obra pronta, com uma reputação consolidada”, declarou o novo imortal.

A segunda vez que pensou em fazer parte da instituição foi em 1987, disputando com Paulo Cavalcanti. Os dois empataram tecnicamente nos quatro escrutínios realizados. “Por regra da Academia Pernambucana de Letras, quando isso acontece, uma outra eleição é realizada. Só que indicaram o nome de João Cabral de Melo Neto para ser candidato único. Eu falei que iria desistir da eleição, se Paulo Cavalcanti fizesse o mesmo, e ele concordou. João Cabral, mesmo candidato único, só teve 28 dos votos e ficou chateado, porque queria aclamação e não compareceu à sua posse”, lembra César.

César Leal é hoje um dos maiores nomes da crítica e da poesia brasileira em atividade. Em 1998, teve a sua obra poética reunida no livro Tempo e vida na Terra, e nos últimos anos foi também reunida parte da sua enorme produção acadêmica. César foi o único nome do Recife a colaborar para os volumes de História da literatura da América Latina, projetada em três volumes pelos professores Linda Hutcheon, Mario Valdés e Djelal Kadir e organizada pelo Conselho de Humanidades e Ciências Sociais do Canadá e pela Universidade de Toronto. O título do artigo foi Recife como centro cultural da América Latina. “Mostrei a importância e a singularidade de termos tido a presença de uma colonização holandesa para o nosso desenvolvimento cultural”, apontou.

Sobre ser o novo imortal da Academia, César Leal destacou: “vou lutar para divulgar a importância dessa instituição no Estado e no resto do Brasil”. Sua posse deve ocorrer em setembro.

(© JC Online)


Quem é César Leal

Poeta, crítico de poesia, graduado em Filosofia e jornalismo, título de NS Notório Saber. Parecer 242 / 80, do Conselho Federal de Educação, professor de Teoria da Literatura da Universidade Federal de Pernambuco. Muito cedo ingressou no serviço público em Fortaleza. Trabalhou em Belém, e, a seguir, Manaus, Rio e Belo Horizonte onde fez grandes amigos: Cristiano Martins, Abgar Renault e Emílio Moura que, em suas obras completas, lhe dedicou um poema Entre os “novos”, conheceu Fábio Lucas, que o lançou através da revista “Vocação”. Ao assistir as aulas de Abgar Renault na Faculdade de Filosofia da UFMG, passou a admirar os poetas metafísicos ingleses Marvel, Donne, Herbert. Transferido para o Recife, Mauro Mota o admitiu no Diário de Pernambuco. Aí, conheceu Eduardo Portella, recém-chegado da Espanha, a quem considera um dos renovadores da crítica no Brasil.

Embora escrevesse poesia desde os 9 anos, estreou em livro em 1957, ganhando o Prêmio Nacional “Vânia Souto Carvalho”. Professor de teoria da literatura da UFPE, desde meados da década de 60. Em 1965, publicou um ensaio sobre Dante, sendo condecorado por tal estudo “Cavaliere” da Ordem do Mérito da República da Itália, pelo presidente Sandro Pertini. Em 1970, durante uma temporada nos Estados Unidos, tornou-se o primeiro poeta da língua portuguesa a gravar ao vivo poemas para a Biblioteca de Poesia da Universidade Harvard. Fundou o Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE ( mestrado e doutorado) onde formou um núcleo de estudos literários classificado pelos órgãos avaliadores da CAPES e CNPq como um dos cinco melhores do País. Ainda em 70, fundou com Roberto Magalhães, a revista “ Ensaios”, de nível internacional. Fez parte do grupo que durante mais de 30 anos se reunia no Engenho “São Francisco” do pintor Francisco Brennand, onde se discutia arte, literatura e política. O grupo era formado por Debora-Francisco Brennand, Ariano Suassuna e o poeta Thomas Seixas.

Em 1980, o então ministro da Educação, Eduardo Portella o nomeou para o Conselho Diretor da Fundação Joaquim Nabuco, de onde saiu para o cargo de membro do Conselho Federal de Cultura, por indicação do ministro Celso Furtado ao Presidente Sarney. Editor da revista Estudos Universitários, desde 1966. Através dela e do suplemento literário do Diário de Pernambuco, que dirigiu durante 37 anos, lançou os poetas da “Geração de 65” e continua a lançar novos autores, o que fez Oswaldino Marques o considerar uma espécie de Erza Pound, na sua quase mania de ajudar àqueles que considera injustiçados pela crítica.. No prefácio de Tambor cósmico, Cassiano Ricardo o considerou “ poeta de gênio”. O primeiro artigo sobre sua poesia foi publicado por Osman Lins, no “Estado de São Paulo”, em 1958. Seguiram-se estudos que lhe asseguraram uma fortuna crítica da mais alta qualidade intelectual e técnica.. No Conselho Federal de Cultura, foi autor do Parecer que resultou na criação do “Prêmio Luís de Camões”, instituído pelos governos do Brasil e de Portugal, em 1988.
 

Prêmios:
 

Entre os numerosos prêmios recebidos, figuram o “Menendez y Pelayo” do Instituto de Cultura Hispânica (1956); o “Othon Bezerra de Melo, da Academia Pernambucana de Letras (1964); o Prêmio de Poesia (Obra Publicada) da Fundação Cultural do Distrito Federal, Brasília (1970); o “ Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1987); o da Fundação Nacional Pró-Memória, Brasília, (1989): a Medalha de Ouro Joaquim Cardozo, de Honra ao Mérito, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, filiada a Associação Latino-Americana de Associações de Sociedades de Escritores (1999) por seu livro Tempo e Vida na Terra, edição da Imago-Biblioteca Nacional.
 

Condecorações e honrarias:

Condecorado várias vezes com a Ordem Capibaribe por serviços prestados à Cidade do Recife.

Cidadão Honorário do Estado de Pernambuco por serviços prestados a sua cultura e ao ao povo pernambucano.

Por seu ensaio “Dante e os modernos”, foi condecorado “Cavaliere” da Ordem do Mérito da República Italiana, por Decreto do Conselho de Ministros da Itália, sancionado pelo presidente Sandro Pertini (1982).

Diploma de Cultura Oliveira Lima, do Conselho Estadual de Cultura.de Pernambuco.

Troféu Criadores da Cultura do Conselho Municipal de Cultura da Cidade do Recife

Medalha “ Joaquim Cardozo”, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, filiada à Federação das Associações de Escritores Latino-americanos, pela publicação de seus poemas reunidos, Tempo e Vida na Terra IMAGO-FBN, Rio, 1999.

(© Jornal de Poesia)

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