por Rubens Ewald Filho

O titulo já faz pensar num filme de vanguarda, difícil. Mas, na verdade, durante quase todo seu transcorrer, este novo trabalho do pernambucano Lírio Ferreira é brilhante, divertido, inteligente, inquieto e original. Infelizmente ele se perde nos últimos 15 minutos, preferindo não solucionar as situações e partindo para um tom onírico, estranho e insatisfatório.

Ainda assim, o filme tem grandes qualidades. Uma das maiores é a esplêndida e premiada fotografia de Murilo Salles, que, mesmo usando digital, conseguiu um visual impressionante e muito bonito. Não é só a luz que funciona, mas também a movimentação da câmera e os enquadramentos.

Como "Terra em Transe", de Glauber Rocha, o filme começa saindo do mar e trazendo o herói (Guilherme Weber), um jornalista em viagem para comparecer ao enterro de seu pai, que foi assassinado. Ele pega carona no carro de uma jornalista (Giulia Gam), que está ali para interesse romântico mas também para entrevistar um velho místico (José Celso, muito contido e eficiente, em seu melhor momento).

Como é filme de estrada, também vão para lá seus amigos (Gustavo Falcão, Selton Mello, Mariana Lima), que na verdade estão mais preocupados em fumar maconha do que outra coisa. A maior parte das piadas é com eles, que também servem para revelar as plantações de maconha como uma atividade importante naquelas plagas.

A situação mais séria ocorre na família do herói, mais precisamente sua avó. Ela espera que ele vingue a morte do pai, saindo atrás do matador chamado de Índio (Luiz Carlos Vasconcelos), acobertado pelo dono de um bar (José Dumont, mais uma vez dando show). Mas essa revelação chega tarde e acaba sendo descartada porque o filme envereda por outros caminhos, com o jornalista tomando alucinógenos e uma mensagem ecológica. A quebra é proposital, mas prejudica o filme, que tem um excelente elenco.

"Árido Movie" não é para grande consumo, mas é sem dúvida talentoso e especial.