A Marrom, que
volta a lançar disco com músicas de inéditas, é uma das atrações de hoje da
programação do Município de Paulista, que comemora os 72 anos de emancipação
política
Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.brSão 40 anos
de carreira, 32 deles desde que gravou seu primeiro álbum. Desde então o
samba teve seus altos e baixos, porém, artistas como a cantora Alcione
sempre mantiveram o respeito do público, algo que atualmente está ainda mais
forte. Para quem quer saber o segredo, é só conferir o novo disco da Marrom,
De tudo que eu gosto (Indie Records/Warner Music, R$ 28,90), um trabalho que
realmente faz jus ao título.
A cantora,
que começou a formatar a turnê de divulgação de seu novo disco, apresenta-se
hoje, às 22h, Praça João Pessoa, no Centro de Paulista, dentro da
programação dos 72 anos de emancipação política do município. A noitada, que
começa às 21h, conta ainda com shows do cantor Belo Xis e da banda Excesso
de Bagagem.
Em De tudo
que eu gosto, o romantismo inerente a muitos artistas que lidam com as
grandes massas se faz presente, contudo o samba, que sempre foi a
linha-mestra da obra dessa artista maranhense radicada no Rio de Janeiro, é
o ritmo mais marcante. Um samba atual, cunhado no estilo clássico, mas com
influências modernas, seja nas letras, nos arranjos ou nas participações.
A começar
pela faixa que abre o CD, Perdeu, perdeu (Chico Roque & Sérgio Caetano), na
qual a gíria de rua carioca serve como mote para designar alguém que
recupera o amor próprio e dispensa de vez uma paixão perdida. Em outra
canção, Maria Penha (Paulinho Rezende & Evandro Lima), uma das melhores do
disco, Alcione cumpre o papel do artista de ser um cronista de seu tempo:
“(...) Se tentar me bater/ vai se arrepender/ (...) Você não vai ter sossego
na vida/ Seu moço, se me der um tapa/ Da dona Maria da Penha/ Você não
escapa”, dizem os versos, em referência à Lei Maria da Penha, criada para
coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. “É uma
crônica do meu tempo”, concorda a intérprete. “E gravei do jeito que eu
gosto.”
A comunicação
da cantora com as novas gerações é ainda mais facilitada com Mangueira é mãe
(Serginho Meriti & Claudinho Guimarães), que conta com a participação do
cantor Marcelo Falcão, da banda O Rappa. A Marrom, entretanto, ressalta que,
enquanto músicas como Perdeu, perdeu, apesar do tema, pega com jeito pessoas
de todas as idades, nos shows o público mais jovem a surpreende pedindo
temas do passado de sua carreira e que versam sobre assuntos não tão
infantis. “Crianças de 10 anos, por exemplo, me pedem para cantar A loba”,
conta.
A exemplo de
outros artistas do gênero, como Leci Brandão, Mart’nália e Martinho da Vila,
a valorização da cultura negra é muito forte na obra de Alcione, e de forma
aparentemente espontânea, sem ser panfletária. É o caso de Laguidibá (Nei
Lopes, Magnu Sousá & Maurílio de Oliveira) – “Laguidibá/ Adereço muito
certo/ É coisa de santo velho do antigo daomé/ Quem é gege, pegue esse colar
e beije/ Quem não é, deite e rasteje/ Se quiser ficar de pé” –, que tem
participação especial da supracitada Mart’nália, e 300 anos (Altay Veloso &
Paulo César Feital) – “Se Zumbi.../ Guerreiro guardião... da senzala Brasil/
Pedisse a coroação/ E por direito o cetro do quilombo/ Que deixou por aqui/
Nossa bandeira era ordem/ progresso e perdão/ É Zumbi, babá dessa nação...”.
“As coisas africanas estão aí no dia-a-dia. Não me convide para rastafári,
que não tenho tempo”, avisa a cantora. “Gosto de fazer com que nossos irmãos
estudem e sejam excelentes naquilo que fazem.”
Outra
participação marcante é a do atual ministro da Cultura, Gilberto Gil, que
canta com a Marrom em Entre a sola e o salto, de autoria dele mesmo. O tema
foi gravado pela primeira vez por Alcione em 1978, em seu quarto álbum,
Alerta geral.
A intérprete
quebra o ritmo predominante apenas nas duas últimas faixas. Na de
encerramento, Agarradinho (Telma Tavares & Roque Ferreira), ela se rende ao
forró, outro ritmo que afirma gostar bastante. Antes, suas raízes
nordestinas se voltam para sua terra natal, a qual homenageia com o reggae
de sotaque bem maranhense Guiné Guiné (Ronald Pinheiro, Sérgio Habibe &
Gerude). “O Maranhão é tudo na minha vida. É lá que meu umbigo está
plantado. O maranhense tem o boi, mas é também regueiro por natureza”,
explica.