Didia Sampaio/AE
 |
|
Um
extenso programa com peças, filmes, palestras e exposições comemora
até o fim do mês os 80 anos do escritor
Beth Néspoli
Sorte de quem conhece e admira e também de quem quer saber mais - os
80 anos de Ariano Suassuna, completados no dia 16 de junho, são
ensejo para uma vasta programação na cidade envolvendo a criação
desse artista múltiplo, poeta, dramaturgo, romancista e, perpassando
tudo isso, amante e profundo pesquisador da cultura brasileira que
tem suas raízes na Ibéria medieval. Quaderna, o protagonista de seu
Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe de Sangue do Vai-e-Volta,
adoraria tantas homenagens e posaria orgulhoso sobre o seu “cavalo
Pedra-Lispe com sua coroa de flandre de palhaço e de rei”. Já Ariano
Suassuna...
Bem, ele poderá falar o que pensa de tanta pompa e circunstância na
quinta-feira, quando abrirá, no Memorial da América Latina, com uma
aula-espetáculo a programação que vai envolver diferentes espaços e
fundações culturais (confira ao lado). Enquanto não chega à cidade o
artista paraibano em carne e osso, o espectador pode vê-lo encarnado
no ator Gustavo Falcão no espetáculo Ariano, dirigido por Gustavo
Paso com 14 atores da companhia carioca Epigenia de Arte
Contemporâneacia, que estréia hoje no Centro Cultural Banco do
Brasil.
Na programação do Memorial será possível participar de uma série de
palestras com especialistas na obra de Ariano. E ainda ouvir
depoimentos de quem não só mergulhou sobre seus textos como com ele
mantém relações estreita de amizade, como é o caso do diretor Luiz
Fernando Carvalho. O público terá oportunidade ainda de ver
especiais que Carvalho fez para a televisão, como Uma Mulher Vestida
de Sol e A Farsa da Boa Preguiça, este último com Antonio Nóbrega,
interpretando o indolente Joaquim Simão e Cacá Carvalho, no papel um
exuberante diabo, no elenco.
O preguiçoso Joaquim Simão (Leonardo Miranda)e sua mulher Nevinha
(Raquel Ferreira) estão entre os personagens de Suassuna que sobem
ao palco na peça Ariano, com texto do poeta paraibano Astier Basílio
em parceria com o diretor. “Foi mesmo um texto escrito a quatro
mãos”, conta Gustavo Paso. Ele ganhou de presente o romance A Pedra
do Reino do ator Alberto Eloy. “Logo de saída fiquei apaixonado pelo
que li sobre Ariano no prefácio e no posfácio, e pensei em levar ao
palco a história de vida dele. Chegamos a cogitar em encenar o
romance, mas soube que o Antunes Filho já estava ensaiando e
desisti”, lembra Paso.
Começou aí uma pesquisa que acabaria levando à descoberta do poeta
paraibano Astier, autor de um ensaio sobre Suassuna. “Embora
estivesse totalmente envolvido, não queria escrever o texto. Astier
era então o artista ideal, porque conhecia a obra e era poeta.” Paso
conta que começaram a conversar via internet. “Eu mandei para ele
uma primeira estrutura de roteiro e fomos trocando textos.” Tudo
isso antes”, garante Paso, “de ele se dar conta das comemorações dos
80 anos. “Claro que percebi ao longo da pesquisa, enviei o projeto,
e o Centro Cultural Banco do Brasil achou perfeito para a ocasião.”
Depois de uma temporada no Rio e outra em Curitiba, o texto inicial,
aprovado por Suassuna, já sofreu transformações. Na noite de quarta,
pouco antes da estréia em São Paulo, uma nova cena era ensaiada.
“Não que seja um texto aberto, mas por ser episódico, permite
mudanças.”
No palco, um cenário feito de lona e madeira - centenas de gravetos
amarrados formam cercas que serpenteiam pelo espaço - e figurinos
que remetem às figuras de cordel. A Divina Comédia, de Dante
Alighieri, inspira a trajetória de Ariano que passa por inferno,
purgatório e paraíso em busca do Reino de Acauã, nome da fazenda
onde passou sua infância. No caminho, ele vai encontrar-se com
personagens de sua lavra, como João Grilo (Leonardo Miranda), Chicó
(Ney Motta) e Clarabela (Farsa da Boa Preguiça), entre outros. E
ainda figuras reais ou imaginárias, como Antonio Conselheiro (Márcio
Vieira) ou a Onça Caetana (Bárbara Borgga). E ainda gente
‘inventada’, como Severino Sithanley (Rodrigo Lima)um cordelista que
resolveu aderir ao rap. Entre peças, filmes, palestras e exposições,
há muito o que ver sobre Ariano até o fim do mês.
SERVIÇO
Ariano. 95 min. 16 anos. Centro Cultural Banco do Brasil (125 lug.).
Rua Álvares Penteado, 112, centro, 3113-3651, metrô Sé. De 5.ª a
sáb., 19h30; dom., 18h. R$ 15. Até 4/11
(©
Estadão)
Ariano Suassuna, homenagem pelos 80 anos na Bienal do Rio
Autor do 'Auto da Compadecida' recebe placa,
encenação sobre sebastianismo e apresentação de samba
Ubiratan Brasil, do Estadão
SÃO PAULO - Antes, uma encenação em homenagem
ao sebastianismo e uma apresentação de samba; depois, uma
crítica ao presidente americano George W. Bush: esse foi o
teor da homenagem desta sexta, 14, ao escritor Ariano
Suassuna na 13.ª Bienal Internacional do Livro pelos seus 80
anos. "Vocês acertaram no tema pois o sebastianismo é algo
muito forte no que escrevo", disse ele aos alunos do
Instituto Educação, que encenaram uma mistura de cenas de
O Auto da Compadecida e A Pedra do Reino.
Suassuna recebeu ainda uma placa
comemorativa entregue pelo vice-governador do Rio, Luis
Fernando Pezão, que confessou ter inveja do governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, por ter Suassuna como secretário
de Cultura.
O sebastianismo é uma corrente que perdura
desde 1578, ano em que teria morrido o rei de Portugal D.
Sebastião, durante uma batalha no norte da África. "Sempre
me simpatizei com sua figura, mas sua empreitada de ir à
África colonizar os muçulmanos não foi correta", disse o
escritor. "Ele teve a coragem de realizar seu sonho e é isso
que admiro - todo homem precisa da loucura para não cair na
rotina."
Suassuna disse ainda que D. Sebastião era
um colonialista que difere dos políticos atuais que têm a
mesma ambição. "Ao contrário do Bush, ele tinha um sonho e a
coragem de se colocar à frente de seus soldados."
Do Rio de Janeiro, Ariano Suassuna segue
na segunda-feira para São Paulo, onde participa, na
terça-feira, 18, de um evento no Memorial da América Latina.
(©
Estadão)
Saiba+ sobre
Ariano Suassuna
|
|
Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
|