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São Francisco é tema de mostra no Recife

13/09/2009

 

 

Fotos: Divulgação
REYNALDO FONSECA (PE-1925)  - "São Francisco de Assis"
Óleo sobre Eucatex, assinada e datada 1981, medindo: 50x70cm

 

Eugênia Bezerra
Do Jornal do Commercio  

Da última exposição que organizou com o artista plástico Vicente do Rego Monteiro, o marchand Carlos Ranulpho guardou mais do que recordações. Ficou com um quadro de São Francisco de Assis, que se tornou o primeiro item de uma coleção particular que hoje conta com cerca de 27 obras. É este conjunto que ele coloca à disposição dos colecionadores na Ranulpho Galeria de Arte com a exposição Franciscana, que será inaugurada este domingo (13) entre 15h e 20h.

“A coleção originou-se na década de 70. Havia um quadro muito bonito, de São Francisco de Assis, nessa exposição de Vicente do Rego Monteiro. Achei tão bonito, que ele não colocou à venda. Depois disso organizei várias exposições e sempre pedia para o artista incluir um quadro de São Francisco”, afirma o marchand.

Ranulpho não é católico (sua família é presbiteriana), mas nutre simpatia pelo santo que virou tema da coleção. “São Francisco de Assis é interessante, um rico que saiu pelo mundo com uma sandália de couro e roupas simples. Tenho a impressão de que foi o primeiro ecologista do mundo. Muita gente que não é católico simpatiza com ele, é uma figura diferenciada”, avalia o Ranulpho, que já recebeu contatos de pessoas interessadas em adquirir trabalhos da coleção.

O quadro de Vicente é o único que não fará parte da exposição. “Emprestei para uma grande exposição com artistas da geração de 22. Depois fui procurado por um colecionador. O sujeito insistiu tanto. Ele fez uma proposta irrecusável, tive que vender”, explica.

Mas outras obras com histórias interessantes e estilos diferentes estarão presentes. Uma delas é um óleo sobre tela pintado pelo carioca Orlando Teruz (1902-1984). “Procurei a família dele com a ideia de fazer uma exposição no Recife. Eles acharam que aqui não tinha mercado, porque os quadros dele já estavam com um preço elevado. Mas disseram que, seu eu vendesse, poderia ficar com um quadro. Fiz a exposição e vendi tudo. Então eu pedi para pintar um São Francisco”, lembra Ranulpho.

Ele explica que muitos dos artistas aos quais fez o pedido nunca tinham pintado um santo, como nos casos de Francisco Rebollo (reprodução à direita) e Alexandre Rapoport. “A filha de Rebolo, Lisbeth, que é Diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, me disse que não se lembrava dele ter feito outro. Rapoport é uma artista judeu, este foi o único santo que ele pintou, especialmente para mim. Tem até dedicatória”.

Outros exemplo é o quadro A ilha de São Francisco, de Iracema Arditi. Destaque da arte naïf brasileira, ela atendeu ao pedido de Ranulpho colocando uma imagem do santo em meio a uma paisagem (sua especialidade) repleta de folhas e borboletas.

Serviço

Franciscana, na Ranulpho Galeria de Arte
Inauguração: Este domingo (13), das 15h às 20h
Visitação: segunda a sexta-feira, das 10h às 12h e das 14h às 18h. Até 30/9.
Rua do Bom Jesus, 125, Bairro do Recife.
Informações: (81) 3225.0068  

(© JC Online)

 


Tereza Costa Rêgo. Paixão em Vermelho

Foto: Beto Figueiroa / JC Imagem

Diana Moura

A artista plástica Tereza Costa Rêgo é uma mulher como poucas. Sua vida é marcada por idas e vindas de todos os tipos. De moça finamente educada na aristocracia pernambucana, ela passou a clandestina política durante a ditadura militar, refugiando-se na Argentina, no Chile e, por fim, na França, de onde só retornou depois da anistia política. Este ano, a pintora completou 80 anos de idade, em abril. Agora, o Museu do Estado de Pernambuco inaugura Tereza todos os tempos, uma grande retrospectiva de sua trajetória artística, com 52 quadros. Tão impressionantes quanto sua história, os trabalhos apresentados são apaixonantes e revelam o seu amadurecimento ímpar.

As obras que compõem a retrospectiva cobrem seis décadas de pintura. As primeiras datam de 1948, as últimas são de 2009. Neste percurso, Tereza mudou pelo menos duas vezes. No começo, ela assinava Terezinha. Era a fase da menina-moça, que viva cercada de mimos e muros por todos os lados. “Eu tinha tudo. Era a filha única numa família de vários irmãos, que cuidavam de mim. Possuí todos os brinquedos, todo o conforto, mas o portão era sempre fechado. Era a barreira do inferno. Por isso casei cedo”, lembra a artista.

“Eu tinha 11 empregados quando saí de casa para o exílio.” Deste momento em diante, Terezinha não existe mais. Ela dá lugar a Joana, nome que assina as telas durante todo o período da clandestinidade, quando largou o casamento para viver um amor verdadeiro com o comunista Diógenes Arruda e descobrir a política. “Quando cheguei em Paris, inicialmente, as pessoas estranhavam a minha figura delicada nas reuniões do partido, mas logo fui adotada por todos. Eles gostavam de mim.”

De volta ao Brasil, ela perde seu companheiro ao desembarcar no aeroporto. Logo, essa mulher que sempre foi protegida por inúmeras figuras masculinas, viu-se sozinha. “Foi preciso aprender tudo de novo, mas eu percebi que era querida e comecei a ganhar a vida com as minhas mãos. Até hoje, vivo do meu trabalho.”

Surge então Tereza Costa Rêgo, a mulher que assina os quadros daí por diante. É dela a maior parte das obras presentes em Tereza todos os tempos, exposição que tem como maior mérito revelar seu caminho por inteiro e mostrar ao público obras que, de outra forma, seriam conhecidas apenas por parentes e amigos.

Há algo que antecipa Tereza Costa Rêgo em todas elas. Desde as primeiras obras, suas telas já traziam as marcas que lhe caracterizam, como a delicadeza dos traços, a sinuosidade das figuras femininas, o encanto pelos animais e o uso predominante das cores quentes – que se tornou ainda mais marcante ao longo dos anos. Para facilitar a leitura do público, a retrospectiva é dividida em quatro blocos. No primeiro, estão quadros de diversas épocas, que cobrem um período que vai dos anos 1940 a 1990. É aí que encontra-se Partida (1981), uma das telas mais emocionantes de seu acervo, que retrata Diógenes morto, pintado sobre as correspondências trocadas pelos dois.

Depois, em ordem cronológica, estão as pinturas da mostra Sete luas de sangue, realizada no ano 2000. Feita para celebrar os 500 anos do Brasil, a série apresenta um ponto de vista crítico sobre diversos momentos da história do País, incluindo a Batalha dos Guararapes, a luta de Zumbi dos Palmares e o Arraial de Canudos.

De 2003, são as peças integrantes da mostra Bordel imaginário – O parto do porto, que retrata as cenas imaginadas por Terezinha, a menina, em relação às histórias que seus irmãos contavam dos bordéis do porto do Recife. Por fim, encontram-se as telas de Pintar é libertar-de, série de obras recentes, a maioria inédita, que apresenta Tereza tal como é hoje, a mulher que descobriu seu jeito próprio de viver e de pintar. E que cultiva o belo, apesar das provações que a vida lhe impôs: “Eu nunca me tornei uma pessoa amarga”.

A obra mais impressionante desta parte da exposição é Apocalipse, uma cobra de12m de comprimento por 1,6m de largura, que traz o fim do mundo segundo Tereza, rico em detalhes, irônico e imprevisível. Sedutor, enfim, como a autora.

 

Serviço

Museu do Estado de Pernambuco: Av. Rui Barbosa, 960, Graças. Informações: 3427.0766
Até
o dia 27

(© JC Online)


VÍDEO

 

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