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Cantar só para público cabeça cansa, diz Fagner

22/09/2009

 

 

Foto: Júlio Serra
Raimundo Fagner

Músico afirma que baixa "um pouquinho" a qualidade para atrair grandes plateias

No novo CD "Uma Canção no Rádio", Fagner assina só 2 das 10 faixas; prefere se dedicar a "cantar bonito", em fórmula popular-romântica

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Está faltando homem que cante bonito." Grave, quase soturna, a frase veio do Ceará, por telefone. Do outro lado da linha estava Raimundo Fagner, 59, e seu vozeirão, que pareciam ter acabado de sair da cama.

Autor de clássicos incontestáveis como "Mucuripe" e "Canteiros", ele tem composto pouco. Prefere cantar -bonito- as músicas dos outros. É basicamente o que faz em "Uma Canção no Rádio", que acaba de lançar. Das dez faixas do álbum, apenas duas -parcerias com Chico César e Fausto Nilo- levam sua assinatura.

"Ninguém recusa uma voz que venha com beleza. Está aí esse horror de mulher cantando porque, apesar de tudo, elas têm certa doçura na voz", diz. "Tem artista famoso que se sustenta há anos na parada de sucesso por causa de produção, tecnologia, modernidade, uma série de outras coisas. Mas voz que é bom você não identifica."

"Povão"

O título do álbum novo não tenta esconder: Fagner se orgulha de ser popular. Se isso nem sempre foi assim (quem duvida que trate de ouvir o experimental -e arrebatador- "Orós", gravado por ele em 1977), assim ficou desde que Roberto Carlos lhe deu a dica.

Fagner conta que, na virada para os anos 80, encontrou Roberto em Miami e foi puxado para um canto: "Bicho, suas músicas são boas, mas quando é que você vai cantar para o povão?". A pergunta ecoou em sua cabeça como um sino de igreja. "O que fiz [a partir de então] foi baixar um pouquinho a qualidade. Diminuir um pouquinho a intensidade da inteligência", diz. "Para o grande público não precisa inteligência demais. E ficar todo o tempo cantando só para público cabeça cansa, cai o cabelo.

Se você tem capacidade, consegue fazer para os dois [tipos de público]." Graças a essa ideologia, tem lotado todos os seus shows desde então, onde quer que os faça. E enche a boca para dizer que nunca precisou usar leis de incentivo para mantê-los assim.

Defende que artistas consagrados como ele não deveriam usar esse tipo de recurso, pois estariam tirando o benefício dos novatos, que poderiam precisar mais. Usa Caetano Veloso, seu eterno desafeto predileto, como exemplo. "Caetano está fazendo um show experimental, do disco novo. Fazer show experimental usando lei é uma mamata", ataca. "Mas esse pessoal aí só vive de lei. Desde que botaram o ministro lá, usam lei adoidado. É o que eu chamo de "uma mão suja a outra"."

Ainda que traga lampejos políticos -como a faixa "Martelo", que conta com a participação de Gabriel, o Pensador-, "Uma Canção no Rádio" é um disco de amor. O conceito "música de protesto" saiu de moda? Fagner afirma que sim. "Esse discurso ficou datado. Poucas vezes eu fui censurado nem por isso sou um alienado. Por formação, uso a arte na forma de música romântica."

UMA CANÇÃO NO RÁDIO

Artista: Fagner
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 26, em média
 

(© Folha de S. Paulo)

 


Para rever Gonzaguinha, político ou romântico

Gravado em 1981, no auge do sucesso do compositor, Luiz Gonzaga do Nascimento Junior mostra reencontro de pai e filho

Roberta Pennafort, RIO

Gonzaguinha está no centro do palco e puxa o pai pela mão. Gonzagão entra e solta o vozeirão para cantar Légua Tirana, parceria sua com Humberto Teixeira. O filho fica de lado, acompanhando, com expressão de admiração e ternura. A cena é linda, e as que se seguirão são ainda mais: os dois, que sempre tiveram uma relação extremamente difícil, dividindo músicas, de mãos dadas, dançando, se abraçando, se acarinhando. O reencontro familiar, que pouco depois iria se consolidar na turnê conjunta Vida de Viajante, é o ponto alto do DVD Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, programa da série Grandes Nomes, da TV Globo.

Gravado em 1981, no auge do sucesso e prestígio de Gonzaguinha, foi remixado, teve as imagens restauradas e está sendo lançado pela EMI e a Globo Marcas - a Trama já havia lançado Elis Regina Carvalho Costa, Rita Lee Jones e Paulo Cesar Baptista de Faria (Paulinho da Viola). A série fez grande sucesso. À época, o elenco da Globo disputava convites para assistir aos maiores artistas da MPB cantarem seus hits. Com roteiro coassinado por Gonzaguinha, o especial foi dirigido por Daniel Filho e teve produção e direção de Guto Graça Mello.

Já faz 28 anos, e Graça Mello não se recorda de muita coisa da experiência. Mas uma lembrança ficou: a da reaproximação de pai e filho, ali, no palco do Teatro Fênix. "Foi bonito ver aquilo, emocionante. Gonzaguinha sabia que o pai ia, mas havia uma tensão. Ele só chegou na hora. O Luiz Gonzaga estava muito tenso, suando. Dali eles foram conversar no camarim", rememora o produtor.

Wagner Tiso foi convidado pelo amigo Gonzaguinha - tocou com sua banda, Jota Moraes, Frederico Oliveira, João Cortez, Paulo Maranhão, Ary Pissarolo, Pascoal Meirelles -, e também ficou comovido. "Gonzaguinha estava muito entusiasmado; cantar com o pai foi uma felicidade. Ele tinha adoração pelo Gonzagão."

Depois de Légua Tirana, Gonzaguinha passa a mão em sua cabeça e canta, olhando em seus olhos, Eu Apenas Queria Que Você Soubesse - um momento tocante: "Eu apenas queria que você soubesse/ Que aquela alegria ainda está comigo/ E que a minha ternura não ficou na estrada/ Não ficou no tempo presa na poeira." Em seguida, os dois apresentam juntos Vida de Viajante (Gonzagão/Hervê Cordovil).

Eles estão vestidos de forma parecida: blusa social aberta até o peito e calça social (o pai não está com o chapéu de couro nem carrega a inseparável sanfona).

O pernambucano Gonzagão morreria em 1989, aos 77 anos; o carioca Gonzaguinha, dois anos depois, aos 46, num acidente de carro. A origem dos problemas entre os dois estava na ausência, desde cedo, do pai, que viajava o País fazendo shows. Gonzaguinha foi criado pelos padrinhos, Dina e Xavier, no Morro de São Carlos (a mãe morrera quando ele tinha apenas 2 anos). Havia também a dúvida sobre sua paternidade, jamais dirimida.

No DVD, está o Gonzaguinha rasga-coração de canções como Não Dá Mais pra Segurar (Explode Coração), que abre o show, Começaria Tudo Outra Vez, que fecha, Ponto de Interrogação e Sangrando.

O Gonzaguinha político, de Fala Brasil, E Vamos à Luta (as duas com participação do sambista Roberto Ribeiro, também falecido), Achados e Perdidos, Pequena Memória para Um Tempo Sem Memória, A Cidade Contra o Crime e Pacato Cidadão predomina. Dois números, com Simone e As Frenéticas, ficaram de fora por questões jurídicas.

Para os fãs, que seguem ouvindo seus discos e se contentam com homenagens aqui e ali, é pena que acabe logo (são só 45 minutos, 19 músicas) e não tem extras. Vale seu apelo no fim: "Por favor, eu só peço que vocês que gostam de mim, assim como eu aprendi a gostar de mim, assim como nós devemos aprender a nos gostar e nos respeitar, me ajudem no sentido de que eu não perca jamais aquela sujeira da minha simplicidade."

(© Estadão)


SITES

FAGNER Site Oficial

FAGNER (Fundação Social Raimundo Fagner)

FAGNER (Amigos de Fagner)

GONZAGUINHA

GONZAGUINHA (2)

 

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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