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Nação Zumbi tenta acender de novo a cena de Recife

04/10/2002

 

Bandas da primeira geração seguem em atividade independente

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

   Ao lançar novo álbum, a banda Nação Zumbi tem de enfrentar a pergunta, quase sina, que persegue os pais do mangue beat: o que aconteceu com a cena pernambucana que em meados dos anos 90 surpreendeu o Brasil?
No que diz respeito ao sexteto, que faz de "Nação Zumbi" seu segundo CD sem Chico Science (1966-97), as antenas parabólicas estão mais uma vez fincadas na lama do mangue. A banda reafirma a intenção de manter fixa a residência em Recife e, dali, lançar ondas sonoras ao exterior, ao Brasil e à própria cena local.

   Não despreza o vínculo com São Paulo, seja preparando nova temporada em acampamento paulistano, seja nomeando o núcleo de produção Instituto como co-produtor do CD. Amplifica os canais externos, cantando em inglês "de patuá" em duas faixas e nomeando Arto Lindsay como outro co-produtor. Mas Recife se fortifica como base e centro irradiador.

   Por isso o maracatu atômico evolui para eletrônico na faixa "Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada", mas a Nação olha para dentro e revela Dona Cila, 63, em "Caldo de Cana". "Ela é de uma família de conquistas e vende tapioca em Olinda. Nunca havia entrado num estúdio", explica o percussionista Pupillo, 28. Nação Zumbi contorna o mundo e volta a Recife.

   "A cidade continua trabalhando muito. Daqui a um tempo o Brasil vai voltar a se lambuzar mais na lama do mangue", profere o autor e cantor Jorge du Peixe, 35.

   "Foi a mídia que criou essa confusão de achar que mangue beat era o som da gente. A (gravadora) Sony estava crente que a gente ia ser a nova axé music. Mas a idéia da história era outra", protesta o guitarrista Lúcio Maia, 31.

   A reacomodação do mangue à sua origem parece evidente. Nação Zumbi e Mundo Livre S/A voltaram para Recife. A bolha de 1994 parece coisa do passado. Nomes que há meia década acabaram inadequadamente agrupados sob o rótulo "mangue" seguem em atividade fora do circuito principal das gravadoras.

   Enquanto a Nação estréia na Trama, o Mundo Livre prepara novo disco, sem apoio de gravadora; Ortinho, ex-líder do grupo Querosene Jacaré, acaba de lançar pela independente Elo Music o CD "Ilha do Destino", em que busca uma aproximação com nomes de ponta da pop-MPB, como Arnaldo Antunes, Chico César e Zeca Baleiro; Silvério Pessoa, ex-Cascabulho, saiu da pequena Natasha e produz à própria custa "Micróbio do Frevo", tributo-intervenção a Jackson do Pandeiro. DJ Dolores goza o prestígio localizado de CD indie recente.

   De um modo ou de outro, são todos participantes do instante fundador do mangue beat. As subgerações que vieram depois deles padecem de ainda maiores dificuldades. Alguns (como o celebrado grupo Sheik Tosado) terminaram precocemente; no geral, novas bandas pernambucanas simplesmente não têm saído das fronteiras do jardim do mangue.

   "Encontro guris de 14 anos que estão fazendo banda, é um negócio impressionante. Independentemente de vendermos mais ou menos, hoje existe trampo em Recife, pode-se viver de música aqui. Criar focos de cenas é muito bom", diz Maia, desafiando as aparências. "É preciso um intervalo, até que haja outro grito", espera Du Peixe.

   Recife teria voltado à condição de cena regional, como sempre foi Porto Alegre e como são hoje Curitiba, Aracaju, Belém. A bolha estourou, e o Brasil se ensurdece insistindo em só ouvir Rio e São Paulo, cada vez mais caladas.

(© Folha de S. Paulo)

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