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Claquete, ação! Árido Movie rodando

08/11/2003

Cena de O Baile Perfumado

Cena de O Baile Perfumado

Lírio Ferreira começa a rodar hoje em Arcoverde as primeiras cenas do seu segundo longa, com o qual marcará os dez anos da retomada do cinema em Pernambuco

KLEBER MENDONÇA FILHO

   Na sempre tensa fase preparativa de um filme, o pernambucano Lírio Ferreira, co-responsável pelo filme marco da cinematografia pernambucana e brasileira dos anos 1990, O Baile Perfumado (1996), co-dirigido por Paulo Caldas, deixa transparecer o entusiasmo pela possibilidade de voltar a filmar, aquela energia de quem vai fazer algo de grande responsabilidade. Seu novo longa, Árido Movie, começa a ser rodado hoje, em Arcoverde e arredores (Sertânia, Buíque, Mimoso). O filme também terá cenas feitas no bairro de Boa Viagem e em São Paulo

   Árido Movie tem sua identidade cultural refletida na água. Curiosamente, o filme começa a ser feito numa época em que a palavra ‘seca’ retoma à mídia não apenas em termos de sertão, mas atualmente também na realidade do Agreste. “A água como elemento de transição do poder seria o ponto principal do filme”, diz Lírio. O título Árido Movie (filme árido) parece, desde já, assumir a obra como filme e talvez a identidade de toda uma geografia.

   O diretor explica que “o Árido Movie como idéia estética foi uma ‘mística’ criada no Festival de Cinema do Recife seis anos atrás, após a exibição de O Baile Perfumado.” Essa mística, em escala menor ao que ocorreu com o “mangue, fisgou a imaginação de mídia e teóricos do Sudeste, que utilizaram o termo pop para designar alegremente filmes pernambucanos, filmes que talvez nem tenham sido feitos ainda. Seria um dos poucos movimentos cinematográficos do mundo que está, de fato, à procura de filmes. Com o tempo, os espaços vagos serão preenchidos, e esse novo longa deverá reativar o conceito na mídia, em grande escala.

   O tema água é fortemente associado à verdade do Nordeste e, ao que tudo indica, deverá ganhar roupagem nova num roteiro desenvolvido, em diferentes estágios, pelo próprio Lírio, Eduardo Nunes (realizador fluminense de Niterói) e os pernambucanos Hilton Lacerda (que escreveu o roteiro de Amarelo Manga) e Sérgio Oliveira (também cineasta).

   O personagem Jonas (interpretado pelo paranaense Guilherme Weber, que atuou em Cruz de Souza: O Poeta do Desterro) é um jornalista que apresenta a meteorologia na TV, em São Paulo, capital. Recebe a notícia de que seu pai foi assassinado em Rocha, cidade fictícia do interior de Pernambuco, onde foi prefeito. A volta de Jonas a Rocha irá lembrar-lhe muito de quem ele é, ou poderia ter sido, embora nunca tivesse voltado à região desde a infância.

   O filme também tem no elenco Renata Sorrah, Paulo César Pereio, Selton Mello, José Dumont, Giulia Gam, José Celso Martinez Corrêa, Aramis Trindade, Mariana Lima, Magdale Alves, Jones Melo, José Mario Austregésilo e Rubem Rocha Filho.

   Lírio, que nos seis anos que separam O Baile Perfumado de Árido Movie exercitou imagem e som em documentários e videoclipes, em grande parte realizados no Rio de Janeiro, admite que “é bem mais difícil partir para um segundo longa. A expectativa das pessoas só é menor que a minha própria expectativa”, diz. Seu próximo projeto, um documentário em digital sobre Cartola realizado em parceria com Hilton Lacerda, está pronto para começar a rodar.

Jornal do Commercio)


Cinema em Pernambuco floresce mesmo sendo o terreno inóspito

   Árido Movie será rodado em bitola Super 35, formato que dará o aspecto clássico CinemaScope visto em Amarelo Manga, de Cláudio Assis. A direção de fotografia é do cineasta Murilo Salles (Como Nascem os Anjos, Seja o que Deus Quiser), que já foi fotógrafo, mas cujo último trabalho na função volta uns bons 20 anos em Tabu, de Júlio Bressane. Fez também Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto.

   A produção trabalha com um orçamento de R$ 750 mil. Flávio Frederico, produtor executivo paulista e realizador dos curtas premiados Copacabana, Todo Dia Todo e do longa Urbânia, explica que “O Baile Perfumado foi feito, sete anos atrás, por cerca de US$ 600 mil, numa época em que o dólar estava em paridade com o real. Estamos trabalhando com valor aproximadamente três vezes menor. O roteiro desse filme foi premiado pelo Ministério da Cultura como projeto BO (baixo orçamento), mas, de fato, não é um filme BO”, diz.

   Sobre o apoio do Governo do Estado, fator controvertido se lembramos dos questionamentos de Cláudio Assis sobre a não-participação do Governo em Amarelo Manga, Lírio e Flávio Frederico deixam transparecer um mix complexo de gratidão, otimismo e, por fim, dúvida.

   Curiosamente, o cinema pernambucano firma-se como um dos mais produtivos do País e reduto de excelência, ao conquistar mais de cem prêmios ao longo da última década. Feito e tanto, uma vez que não há equipamentos de cinema no Recife (câmeras 35mm, laboratórios de revelação, copiagem, transfer e som).

   Mais grave ainda, não há escolas de cinema, e o apoio conquistado até agora, embora essencial, pode ser considerado tímido via Concurso Firmo Neto – Ary Severo, esforço conjunto do Governo do Estado e Prefeitura do Recife (o prazo para entrega de projetos é até sexta-feira), premiando dois roteiros de curta-metragem por ano. Atualmente, Pernambuco perde de goleada de editais cearenses e baianos, embora a qualidade da produção pernambucana, se também comparada ao que os cearenses e baianos têm feito, é indiscutivelmente superior.

   De qualquer forma, só neste mês, Pernambuco tem dois longas sendo rodados (além de Árido Movie, O Cinema, Os Urubus e as Aspirinas, de Marcelo Gomes, que filma até o início de dezembro em Patos, Paraíba) e dois curtas sendo lançados numa das maiores vitrines do cinema brasileiro, o Festival de Brasília: A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, e Porcos Corpos, de Sérgio Oliveira. Talvez seja esta uma definição para “Árido Movie”: filmes que crescem em terreno inóspito.

Jornal do Commercio)

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