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Moacir Santos, um patrimônio brasileiro nos EUA

05-06-2008

Otávio Magalhães/AE

Moacir Santos: “Não preciso voltar ao Brasil, estou sempre visitando”

Veterano maestro, compositor e professor, mestre deumageração, é indicado para o prêmio à beira dos 80 anos, que completa em abril, e anuncia um novo disco para suceder o elogiado ‘Ouro Negro’

JOTABÊ MEDEIROS

   Regente, arranjador, multiinstrumentista, compositor e professor, o músico Moacir Santos é, à beira dos 80 anos (completa em abril), um dos auto-exilados brasileiros cuja obra deixou mais que saudades na terrinha: deixou marcas profundas na música que ouvimos ainda hoje. Foi o arranjador de Vinicius e Odete Lara, de 1963.

   Foi professor de Paulo Moura, Baden Powell, Nara Leão, Eumir Deodato, Dom Um, Airto Moreira. Indicado para o Prêmio Multicultural Estadão, Moacir disse que se sente “lisonjeado” com a indicação, e que é esse tipo de reconhecimento que o faz seguir adiante. “Recebi um e-mail do diretor da Jazz Sinfônica de São Paulo; cujo dizeres são: ‘O nosso concerto foi um sucesso, graças ao repertório maravilhoso que Moacir presenteou ao mundo’. Isso tudo é sobremaneira um profundo incentivo para continuar a jornada”, afirmou o veterano músico.

   Parceiro de Vinicius em canções como Menino Travesso e Triste de Quem, ele é citado na letra da canção famosa de Baden Powell e Vinicius, o Samba da Bênção (“A bênção, Moacir Santos, tu que não és um só, és tantos”). Santos vive desde 1967 em Los Angeles, onde se tornou amigo e colaborador do pianista Horace Silver. Em 2001, foi objeto de um álbum-homenagem, Ouro Negro, que ganhou prêmio especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). Um ano depois, o crítico do The New York Times, Ben Ratliff, incluiu o álbum entre os melhores da safra. “A propósito, há outro disco a caminho”, revelou o maestro, pernambucano de Vila Bela, criado na vizinha Flores do Pajeú, aluno dedicado de Mestre Paixão e que deixou sua cidade em 1940 para acompanhar um circo. Inicialmente, tocava clarineta.

   Depois, estudou com Guerra- Peixe e Koellreuter. Moacir conta que, quando trocou o Rio por Los Angeles, não esperava voltar tão cedo ao Brasil. “Isso porque eu teria de me adaptar primeiro aqui; esse processo de adaptação não se faz com pouco tempo. Quanto ao voltar para o Brasil, eu não preciso voltar, pois estou sempre visitando o Brasil”, diz. Ouro Negro foi o disco que possibilitou o reencontro de um criador brasileiro com seu público nativo, mas Moacir Santos já fora homenageado em outras ocasiões. Em 1985, foi convidado especial do Free Jazz Festival, ao lado de Radamés Gnattali. Em 1992, esteve de novo no Brasil, para participar do projeto Memória Brasileira, Série Arranjadores, lançado em CD. Mas Ouro Negro foi um marco. Idéia dos músicos Zé Nogueira e Mario Adnet, que também produziram o CD e o show, foi definido pelo maestro como “uma coisa suntuosa, muito forte para mim; eu senti minhas pernas tremerem de emoção”.

   Zé Nogueira e Adnet foram longe no resgate, reescrevendo nota por nota de cada peça a ser interpretada no álbum. Depois, compararam com as partituras originais que Moacir Santos enviava de Los Angeles. Tiveram respeito e fidelidade aos arranjos, segundo o próprio maestro. Em seguida, Zé Nogueira (sax) e Mario Adnet (violão) excursionaram com o repertório do disco, reunindo um time de instrumentistas de primeiríssima: Armando Marçal (percussão), Bocão (sopros), Carlos Bala (bateria), Eduardo Neves (sax tenor), Jessé Sadoc (trompete), Marcos Nimrichter (piano) e Vittor Santos (trombone). O maestro Moacir Santos disse uma vez, em entrevista ao Estado, que, quando era funcionário da Rádio Nacional já observava que sua música seria melhor compreendida apenas no futuro.

   Será que Moacir acha que já chegou ao futuro? “Tudo indica que já!”, ele exclama. “Pois as músicas que estão no Ouro Negro, com exceção de algumas poucas, foram feitas no Brasil enquanto eu era maestro da Rádio Nacional”, lembra. Por problemas de saúde – sofreu um derrame recentemente –, o veterano maestro não costuma viajar muito, e também tem maneirado na rotina musical. Não ouviu ainda, por exemplo, a novidade Maria Rita Mariano, a filha de Elis. “Eu preciso passar um bom tempo no Brasil para ouvir mais música genuinamente brasileira”, ele conta. “A respeito de Maria Rita, ainda não ouvi falar; porém existe um ditado que diz: ‘filho de gato é gatinho’, e eu acredito que Maria Rita é um valor autêntico.”

   Moacir Santos concorre, no Prêmio Multicultural Estadão, com os seguintes indicados, na categoria Criadores: os músicos do Duo Assad, o documentarista Eduardo Coutinho, o escritor Francisco Dantas, a coreógrafa Lenora Lobo, a musicóloga e educadora Lydia Hortélio, o ensaísta Muniz Sodré, o grupo de teatro Oi Nóis Aqui Traveiz, a artista plástica Rivane Neuenschwander e o cineasta Ruy Guerra.

(© O Estado de S. Paulo)

Nota: A cidade de Vila Bela é a atual Serra Talhada (NordesteWeb)

 

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