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Baby: "Jesus é um casca-grossa"

Oscar Cabral

Baby como pregadora

   Baby do Brasil, ex-Consuelo, está fundando uma igreja evangélica. Seu lema é o seguinte: No céu não vai ter molenga. Só casca-grossa. "Eu vi Jesus e Ele é o maior casca-grossa que existe. O rei Salomão já dizia: 'Se fores frouxo, a tua força será pequena'", afirma Baby. Nesta semana, ela deve dar entrada no processo de registro do culto Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome do Senhor Jesus Cristo, que hoje soma dezenove adeptos e a tem como líder. Um registro como esse não requer grande trabalho.

   "Montar uma igreja evangélica no Brasil é mais fácil que abrir bar", diz o sociólogo Ricardo Mariano, especialista em religiões. Realizadas as formalidades, a igreja de Baby gozará de todas as prerrogativas das religiões estabelecidas no Brasil – como, por exemplo, a isenção de impostos nas atividades relacionadas ao culto. Baby cobra dízimo, que, por enquanto, lhe serve como uma espécie de complemento de renda. A pastora garante que seu intuito não é ganhar dinheiro ou benefícios pessoais. "Acham que vou ficar milionária. Não é verdade", diz ela. Por via das dúvidas, contudo, a igreja – que ocupa o mesmo prédio em que ela está montando um estúdio, no bairro carioca de Botafogo – já tem os préstimos de um contador. Isso é que é fazer uma fezinha.

   Baby sempre foi mística. Nos anos 60 e 70, ela integrou os Novos Baianos, grupo que misturava MPB com filosofia hippie e indiana. Baby flertou também com a umbanda e com o guru Thomas Green Morton – aquele que gritava "Rá!". Com esse currículo, ninguém se surpreendeu com mais uma mudança. Há seis anos, ela virou evangélica, num momento em que parecia estar na moda artistas em crise seguirem esse caminho. Primeiro ela foi fiel da igreja Sara Nossa Terra.

   Há três anos, começou a reunir seu próprio rebanho, em cultos caseiros. Baby faz da luta contra o demônio uma das razões de sua pregação. Afirma que teve contato com ele aos 8 anos. "Estava dormindo quando alguém que tinha pés de bode e cara de tarado disse: 'Eu sou o demônio e estou aqui na cama com você'", conta. Baby denuncia que o coisa-ruim estaria por trás de doenças e até da devastação da cidade americana de Nova Orleans pelo furacão Katrina. "Lá só tem vodu", explica. O tsunami que atingiu a Ásia no ano passado seria sinal de que o Apocalipse está em curso.

   Baby fala na "cura" de gays. "Se a opção do cara é ser homem, basta ele falar com o Pai e acabou essa história", diz. Ela também propagandeia milagres e diz que conecta o devoto com Deus. "Quem faz o milagre é Ele. Eu apenas apresento o caso", afirma. O primeiro desses acontecimentos místicos teria ocorrido ainda nos tempos dos Novos Baianos, quando a filha de Paulinho Boca de Cantor, seu colega de banda, se acidentou. "Ela morreu na minha frente", diz. "Eu me desesperei, subi no telhado e gritei: 'Você é Deus, eu creio'. Urrei tanto que senti os meus ovários", afirma. A menina teria ressuscitado. Paulinho minimiza o milagre. "Minha filha teve uma convulsão. Mas de Baby eu espero qualquer coisa: ela me falou que encontrou Jesus Cristo e Ele era baixinho", diz. Baby corrige: "Eu vi Jesus e ele tem estatura mediana". Em 2000, quando o baterista Marcelo Yuka ficou paraplégico depois de levar seis tiros, Baby teria entrado no hospital com uma Bíblia e ordenado: "Levanta-te e anda". Segundo ela, só não funcionou porque manifestações de outras religiões confundiram as energias do ambiente.

   Baby mudou as letras de seus sucessos depois da guinada evangélica. Ao cantar Brasil Pandeiro, de Assis Valente, troca "Eu fui à Penha, fui pedir à padroeira para me ajudar" por "Eu fui à igreja, fui pedir a Jesus Cristo para me abençoar". O "dragão tatuado no braço", de Menino do Rio, virou "Jesus forever tatuado no braço". Os negócios religiosos se mesclam com a carreira de cantora que Baby tenta reativar. Depois de roubar a cena num show em homenagem aos Novos Baianos, no mês passado, em São Paulo, prepara novo disco.

   Em compensação, as coisas andam devagar na vida amorosa. A ex-mulher de Pepeu Gomes, hoje com 53 anos, revela que não faz sexo há cinco. Ela conta com Jesus para arrumar um namorado. "Se Ele mandar alguém para mim, que seja na medida", afirma. Por "na medida" entenda-se alguém que tope subir com ela num trio elétrico evangélico, durante a festa pagã do Carnaval, na sincrética Salvador.

(© Revista Veja)

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