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Guaianases: Acervo a salvo, restaurado e digitalizado

11/06/2008

Gil Vicente, um dos fundadores da Oficina Guaianases


Universidade Federal de Pernambuco recupera litografias produzidas entre 1975 e 1994 na Oficina Guaianases de Gravura. Obras ficarão disponíveis para consulta na internet


OLÍVIA MINDÊLO

Quem se interessa pela história das artes plásticas de Pernambuco certamente já ouviu falar na Oficina Guaianases de Gravura. Se não, essa é uma boa hora para conhecer a extensa produção em litografia (gravura feita com matriz de pedra) do acervo de um dos movimentos artísticos mais expressivos, duradouros e importantes do Estado. O Departamento de Ciência da Informação (antigo Biblioteconomia), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), está desenvolvendo o projeto Arte e tecnologia – cuidando da memória, que envolve, entre outras tarefas, a digitalização e divulgação na internet dos 2.036 trabalhos doados pela Guaianases à universidade, em 1992.

São litografias produzidas entre 1975 e 1994, por cerca de 260 artistas, entre eles nomes consagrados como Gil Vicente, José Paulo, Luciano Pinheiro, Tereza Costa Rego e Delano, um dos fundadores da Guaianases junto a João Câmara (ler matéria abaixo). Ao todo, já foram digitalizadas, através de fotografia, e publicadas na internet mais de 800 obras de 23 autores, disponíveis no site do projeto (http://www.biblio.ufpe.br/guaianases/). Uma oportunidade para apreciar uma rica produção, parte da chamada coleção histórica da Guaianases.

O site é simples e basicamente voltado para pesquisa e consulta. O internauta interessado vai lá e digita o nome do artista cuja obra queira conhecer. Se não souber qual nome, precisa consular o link Lista de artistas. Cada um dos gravuristas possui uma página com as imagens das suas respectivas litogravuras que ficaram para a coleção, acompanhadas por uma ficha de catalogação. É meio acadêmico, mas bem-acessível. E as imagens das obras podem ser vistas em formato ampliado. Trabalhos raros, às vezes limitados às gavetas dos ateliês dos artistas, estão na página. O site do projeto é o acesso mais aberto à coleção, uma vez que o acervo da UFPE, arquivado na biblioteca do Centro de Artes e Comunicação (CAC), está restrito a estudantes da UFPE e pesquisadores da área.

Os gravuristas com links no site são aqueles que já autorizaram a publicação de seus trabalhos. O restante (mais da metade) está sendo contactado pela equipe do projeto, que faz apelo aos artistas da coleção, ou responsáveis pelos direitos autorais de suas obras, que entrem em contato com a universidade. Estão na lista on-line, trabalhos de autores como Marisa Lacerda, Delano, Luciano Pinheiro, José Carlos Viana, Carlos Haarle e Liliane Dardot, mineira que participou ativamente da Guaianases. O site dispõe, por exemplo, de 104 litogravuras produzidas pela artista. Só para se ter uma idéia, em torno de 50% dos artistas de todo o acervo está representado por apenas uma gravura, 56 por cinco a dez e os demais, como é o caso de Dardot, por números mais expressivos.

Segundo Luciano Pinheiro, o hábito de a organização guardar pelo menos uma gravura produzida por cada artista permitiu que a coleção se formasse. O conjunto de obras é uma mostra da versatilidade proporcionada pela técnica da litogravura, que deu margem à criação de trabalhos bem-diferentes e interessantes, que marcaram uma época das artes plásticas no Estado. Grande parte é de arte figurativa, com a evidência em figuras femininas. “A coleção estava na biblioteca sem intervenção técnica. Com o tempo, começou a haver deterioração, por isso estamos também fazendo a restauração de algumas litogravuras”, conta Maria Mercedes Otero, professora e coordenadora do projeto, que tem patrocínio da Petrobras, orçado em cerca de R$ 50 mil.

A iniciativa atua com uma de equipe de pesquisadores, bibliotecários, web designer (Evaldo de Souza), restauradores e 12 alunos dos cursos de biblioteconomia, artes plásticas e desenho. As atividades passam por um processo de identificação, catalogação, digitalização, higienização, conservação em papel especial e arquivamento em gaveta. O próximo passo do projeto é desenvolver uma pesquisa sobre a história do movimento, através de entrevistas com os artistas, e, se possível, publicar um livro. Em janeiro de 2007, também será realizada exposição das litos na Galeria Capibaribe, no CAC.

(© JC Online)


Movimento teve repercussão nacional 

A Oficina Guaianases de Gravura surgiu, em 1974, por iniciativa de João Câmara. No início, era um grupo de oito artistas que costumavam se reunir aos sábados no ateliê do pintor, então na Rua Guaianases, em Campo Grande, no Recife. Com o tempo, os encontros em torno da especialidade do movimento, a produção de litogravuras, foi tomando corpo, passando a se configurar como uma oficina aberta a qualquer artista interessado em participar. O coletivo se mudou, comprou prensas, contratou impressores (profissionais envolvidos na produção em série das gravuras) e passou a ter repercussão nacional.

“Muitos artistas de outros Estados vinham para cá e passavam dias na oficina”, conta Luciano Pinheiro, que diz ter despertado o interesse pela litogravura com a Guaianases. Ele integrou o grupo iniciante que deu origem à oficina e, sem dúvida, assina um dos conjuntos de obras mais interessantes da coleção. “A litogravura é um desafio muito interessante, é tirar leite de pedra mesmo. Além disso, tem também o lado da produção mais democrática. A gente podia reproduzir uma grande quantidade de exemplares e atingir uma outra camada de pessoas, com preço mais acessível”, explica o artista olindense.

Segundo Delano, a litogravura virou uma “febre” na época, principalmente por “sua nobreza e qualidade”, proporcionadas pelo refinamento do tratamento dado às gravuras e pela boa impressão. “Grandes artistas do passado se utilizaram da técnica”, diz o artista.

O volume crescente de associados levou o coletivo a se organizar como uma sociedade sem fins lucrativos e a se mudar para um espaço maior. Em 1980, passou a funcionar no Mercado da Ribeira, em Olinda, não só como um atelïê, mas também um espaço voltado à promoção da gravura, através de cursos, exposições e edições de publicações e cartazes. “A Guaianases tomou uma dimensão grande e teve uma duração longa. Qual movimento durou 20 anos? Deixou de ser um grupo para ter um caráter muito próprio”, define Pinheiro.

(© JC Online)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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