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Exposição fotográfica conta vida dos Encourados

11/06/2008

 


Uma mega exposição rende homenagens ao povo do Nordeste do Brasil, principalmente aquele da lida com o gado. A história, o trabalho, a estética, a fé e os sons dos vaqueiros compõem a mostra de fotografia Encourados, que está em cartaz no Centro Cultural Correios, em Fortaleza (CE).

As 220 fotografias escolhidas para a exposição foram selecionadas a partir de 21 mil e 600 registros feitos pelo fotógrafo Geyson Magno, em diversas cidades de todos os estados do Nordeste brasileiro. Também fazem parte da mostra textos da jornalista Adriana Victor, e outros selecionados das obras de escritores brasileiros que fizeram da gente da lida personagem das suas obras. Entre eles estão João Guimarães Rosa, Capistrano de Abreu, Rachel de Queiroz, Gerardo Mello Mourão, o cantador Lino Pedra-Azul, Euclides da Cunha, Ascenso Ferreira e Ariano Suassuna.

A concepção visual da exposição é assinada por Ricardo Gouveia de Melo, programador visual. Composta por cinco ambientes, a exposição Encourados retrata, além de paisagens, a moradia, a religiosidade, os festejos, o dia-a-dia do homem sertanejo em imagens que variam em tamanho e dimensão, em textura e cor. Cada um deles tem uma trilha sonora, composta pelo músico Berna Vieira, do Bonsucesso Samba Clube e estúdio Batuka. E também uma cenografia própria, criação do artista plástico Manuel Dantas Suassuna, também curador da mostra. 

Elementos trazidos do sertão, como bancos em couro e oratórios em vidro, junto com as fotos, revelam resultados que procuram brincar com o olhar e o próprio conceito de "o que é imagem". Um experimentalismo estético que redimensiona o vaqueiro e o homem sertanejo. As fotografias foram tratadas pela ClaroEscuro, empresa paulista especializada em tratamento de imagem. O artista plástico Maurício Castro criou o projeto de iluminação da exposição. A produção executiva é de Tatiana Braga, da B52 Desenvolvimento Cultural.

Além de Pernambuco e Ceará, a mostra segue depois para os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. O projeto conta com patrocínio especial da Phillips, além do apoio dos Correios, da Infraero, da Chesf, e também das leis municipal, estadual e federal de incentivo à cultura.

CIVILIZAÇÃO DO COURO

Desde o início de 2004, o fotógrafo Geyson Magno vem percorrendo a trilha dos primeiros desbravadores do sertão.

Na tentativa de desvendar o universo que começou a ser gestado durante o que se convencionou chamar de "Ciclo do Gado", ou "Civilização do Couro", termo usado pela primeira vez pelo historiador cearense João Capistrano de Abreu.

Todos os estados do Nordeste foram percorridos na busca de referências estéticas relacionadas ao universo de abordagem do projeto. 

A história registra a chegada do gado ao Brasil, nos primeiros tempos da Colônia, ainda no século 16. O animal se transforma em importante fator da economia colonial, sendo utilizado como mão-de-obra e como moeda de troca. Inicialmente, auxiliou o trabalho escravo nos engenhos de açúcar e, também, gerou alimento (carne e leite). Encourados segue a desvendar um País empurrado para o interior, povoado pelo caminho dos rebanhos "É um trabalho que tem bases no passado, mas que vai ser presente por muito e muito tempo", comenta Geyson Magno.

Além de registrar a história, o grande mérito da composição fotográfica está em esmiuçar elementos sertanejos, sobretudo a dinâmica cotidiana. O modo como os relacionamentos são conduzidos, o tratamento familiar, o cuidado com os animais, o sentimento de honra e fidelidade, e ainda a arquitetura das casas dos vaqueiros. Parteiras, mestres de ofícios, rezadeiras, festas populares, missas fazem parte das imagens que irão compor a mostra.

LIVRO

Além da exposição, o projeto Encourados contará com um livro, que será lançado até o final da mostra. "Adriana Victor, Geyson Magno, Dantas Suassuna e Ricardo Gouveia de Melo realizam um trabalho brilhante. Não é, com certeza, apenas mais um álbum sobre vaqueiros. Há muito mais, a constatação de que somos um povo ainda a ser revelado em toda sua exuberância." A afirmação é do escritor pernambucano Raimundo Carrero, que assina o prefácio da obra.

"Antes de tudo, foi preciso entender como a criação de bois ajudou a formar um país, um Brasil interior, povoado pela "Civilização do Couro". Ainda mais: foi um olhar fincado num lugar onde predomina a gente do açúcar, e era preciso espraiar esse olhar", diz Adriana, comentando a criação do texto. "O trabalho foi alimentado com a força e a beleza das imagens de Geyson. O desejo é impregnar o resultado de verdade - verdade da alma vaqueira, espelho do Sertão e do Brasil." Encourados contou também com a revisão técnica da historiadora Virgínia Assis, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Um CD, com a trilha sonora criada para a exposição por Berna Vieira, vai acompanhar a publicação. O livro traz desenhos de Manuel Dantas Suassuna, e tem projeto gráfico de Ricardo Gouveia de Melo. O programador visual também criou, junto com Giovana Caldas, a Tipografia Armorial usada em vários trechos da obra e também da mostra fotográfica. Ela foi baseada em um alfabeto sertanejo, idealizado pelo escritor Ariano Suassuna, na década de 70, a partir dos ferros usados para marcar bois no sertão.

(© BR Nordeste)


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