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Quando frevereiro chegar

25/10/2006

Vidal Cavalcante/AE

 

Antonio Nóbrega celebra centenário do frevo com o segundo CD dedicado ao ritmo, show a partir de sexta e arrastão nas ruas do Recife

Adriana Del Ré

Faltam menos de quatro meses para a folhinha do calendário alcançar o dia 9 de fevereiro de 2007. Ou Nove de Frevereiro, como graceja o título do projeto do multiinstrumentista, ator e dançarino pernambucano Antonio Nóbrega. O nome faz uma alusão à data que foi institucionalizada como a do centenário do frevo. É uma data simbólica, já que foi em 9 de fevereiro de 1907 que a palavra frevo saiu publicada pela primeira vez. Deu no Jornal Pequeno do Recife.

Pois para Nóbrega, a contagem regressiva começou já no início deste ano, quando ele lançou o primeiro CD da série Nove de Frevereiro e realizou espetáculos inspirados no projeto para platéias lotadas. Para aquele primeiro trabalho, ele compilou frevos de antigos compositores, alguns deles esquecidos. Agora, como havia prometido, acaba de lançar o segundo volume (pelo selo Brincante e distribuição da Distribuidora Independente, da Trama), com um repertório mais abrangente, maior apuro musical, participações especiais, além de um livreto que o acompanha, que é um mimo: traz partitura; nomes de passos do frevo; abecedário com os principais compositores do gênero; fotos feitas especialmente pelo amigo Walter Carvalho e um belo ensaio fotográfico de Pierre Verger e seu olhar estrangeiro sobre a ferveção pelas ruas recifenses. 'É a coleção de fotos mais expressiva que conheci', diz ele.

Neste segundo Nove de Frevereiro, Nóbrega deixa-se levar por uma seleção afetiva de frevos, na qual não ficam de fora desde mestres como Capiba, em Segura no Meu Braço, Dia Azul e Madeira Que Cupim Não Rói, até autores de uma geração mais recente, como Moraes Moreira, em Roda e Avisa e Desembaça Aí e, por que não?, ele próprio. 'Eu poderia ter feito um CD autoral, mas não achei o caso. Por outro lado, também queria dar minha contribuição, que de alguma maneira fosse símbolo de como vejo as várias formas do frevo', diz. Estão lá seus frevos-de-bloco, de rua e canção: Avenida Brasil, Festim, Tirando a Casaca e Fervo, a maioria deles composto com parceiros. Vale a breve explicação: frevo-de-rua é o nome dado à música instrumental e frevo-canção, quando cantada.

O primeiro volume do projeto para o segundo dá um salto ainda no que diz respeito ao trato musical. Enquanto naquele primeiro, Nóbrega se ateve a uma paisagem mais ou menos tradicional do frevo, neste segundo exemplar, ousou um pouco mais. Cercou-se de convidados especiais, como a Banda Mantiqueira, Orquestra de Frevo, Papo de Anjo, Orquestra Retratos do Nordeste, Sujeito a Guincho, Quinteto Villa-Lobos e Quinteto da Paraíba, e, ao lado deles, deu nova concepção à configuração timbrística dos frevos. 'O Sujeito a Guincho, por exemplo, é formado por clarinetes, o Quinteto da Paraíba, só por cordas. Então, praticamente cada um dos frevos está rearranjado por composições não habituais e isso, a meu ver, dá flexibilidade ao gênero. Mostra como ele pode ser apresentado por meio de diferentes conjuntos de formações instrumentais, até naqueles momentos em que toco violino.'

Não é de hoje que Nóbrega coloca seus violinos a serviço do frevo. Ele lembra da vez que lhe fizeram a seguinte pergunta: 'O que existe entre o violino e o frevo?' A resposta foi uma paráfrase ao que disse Drausio Tavares quando se deparou com questionamento semelhante. 'Quando perguntaram a Drausio o que havia entre a ficção científica e a literatura de cordel, respondeu que havia ele. E entre o frevo e o violino, existo eu', diverte-se.

Mais uma vez, ele precisou contar com patrocinadores: a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) investiu nesse segundo volume, e o SESC e a Petrobrás colaboraram com o novo show. Nóbrega, que foi arrebatado pelo frevo a princípio pela dança, encontra no espetáculo uma forma de explorar o gênero em todas as vertentes. Inicia temporada em São Paulo, nesta sexta, e parte para o Rio, a partir de 1.º de dezembro. Tudo isso vai render o DVD do show e um documentário. No dia 9 de fevereiro, estará no Recife, claro. Lá, vai conduzir um arrastão comemorativo, do centro até o marco zero da cidade, onde será realizado um grande show, com estrelas da MPB. E ele também já convocou o público para outra ação no mesmo dia 9: pedir às rádios que priorizem em sua programação o frevo, pelo menos, até o fim do carnaval.

(© Agência Estado)


Vídeo:

Uma amostra do frevo pernambucano, com o Balé Popular do Recife

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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