Antonio Nóbrega celebra centenário
do frevo com o segundo CD dedicado ao ritmo, show a partir de sexta e
arrastão nas ruas do Recife
Adriana Del Ré
Faltam
menos de quatro meses para a folhinha do calendário alcançar
o dia 9 de fevereiro de 2007. Ou Nove de Frevereiro, como graceja o título
do projeto do multiinstrumentista, ator e dançarino pernambucano Antonio
Nóbrega. O nome faz uma alusão à data que foi institucionalizada como a do
centenário do frevo. É uma data simbólica, já que foi em 9 de fevereiro de
1907 que a palavra frevo saiu publicada pela primeira vez. Deu no Jornal
Pequeno do Recife.
Pois para Nóbrega, a contagem regressiva começou já no início deste ano,
quando ele lançou o primeiro CD da série Nove de Frevereiro e realizou
espetáculos inspirados no projeto para platéias lotadas. Para aquele
primeiro trabalho, ele compilou frevos de antigos compositores, alguns deles
esquecidos. Agora, como havia prometido, acaba de lançar o segundo volume
(pelo selo Brincante e distribuição da Distribuidora Independente, da
Trama), com um repertório mais abrangente, maior apuro musical,
participações especiais, além de um livreto que o acompanha, que é um mimo:
traz partitura; nomes de passos do frevo; abecedário com os principais
compositores do gênero; fotos feitas especialmente pelo amigo Walter
Carvalho e um belo ensaio fotográfico de Pierre Verger e seu olhar
estrangeiro sobre a ferveção pelas ruas recifenses. 'É a coleção de fotos
mais expressiva que conheci', diz ele.
Neste segundo Nove de Frevereiro, Nóbrega deixa-se levar por uma seleção
afetiva de frevos, na qual não ficam de fora desde mestres como Capiba, em
Segura no Meu Braço, Dia Azul e Madeira Que Cupim Não Rói, até autores de
uma geração mais recente, como Moraes Moreira, em Roda e Avisa e Desembaça
Aí e, por que não?, ele próprio. 'Eu poderia ter feito um CD autoral, mas
não achei o caso. Por outro lado, também queria dar minha contribuição, que
de alguma maneira fosse símbolo de como vejo as várias formas do frevo',
diz. Estão lá seus frevos-de-bloco, de rua e canção: Avenida Brasil, Festim,
Tirando a Casaca e Fervo, a maioria deles composto com parceiros. Vale a
breve explicação: frevo-de-rua é o nome dado à música instrumental e
frevo-canção, quando cantada.
O primeiro volume do projeto para o segundo dá um salto ainda no que diz
respeito ao trato musical. Enquanto naquele primeiro, Nóbrega se ateve a uma
paisagem mais ou menos tradicional do frevo, neste segundo exemplar, ousou
um pouco mais. Cercou-se de convidados especiais, como a Banda Mantiqueira,
Orquestra de Frevo, Papo de Anjo, Orquestra Retratos do Nordeste, Sujeito a
Guincho, Quinteto Villa-Lobos e Quinteto da Paraíba, e, ao lado deles, deu
nova concepção à configuração timbrística dos frevos. 'O Sujeito a Guincho,
por exemplo, é formado por clarinetes, o Quinteto da Paraíba, só por cordas.
Então, praticamente cada um dos frevos está rearranjado por composições não
habituais e isso, a meu ver, dá flexibilidade ao gênero. Mostra como ele
pode ser apresentado por meio de diferentes conjuntos de formações
instrumentais, até naqueles momentos em que toco violino.'
Não é de hoje que Nóbrega coloca seus violinos a serviço do frevo. Ele
lembra da vez que lhe fizeram a seguinte pergunta: 'O que existe entre o
violino e o frevo?' A resposta foi uma paráfrase ao que disse Drausio
Tavares quando se deparou com questionamento semelhante. 'Quando perguntaram
a Drausio o que havia entre a ficção científica e a literatura de cordel,
respondeu que havia ele. E entre o frevo e o violino, existo eu',
diverte-se.
Mais uma vez, ele precisou contar com patrocinadores: a Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco (Chesf) investiu nesse segundo volume, e o SESC e
a Petrobrás colaboraram com o novo show. Nóbrega, que foi arrebatado pelo
frevo a princípio pela dança, encontra no espetáculo uma forma de explorar o
gênero em todas as vertentes. Inicia temporada em São Paulo, nesta sexta, e
parte para o Rio, a partir de 1.º de dezembro. Tudo isso vai render o DVD do
show e um documentário. No dia 9 de fevereiro, estará no Recife, claro. Lá,
vai conduzir um arrastão comemorativo, do centro até o marco zero da cidade,
onde será realizado um grande show, com estrelas da MPB. E ele também já
convocou o público para outra ação no mesmo dia 9: pedir às rádios que
priorizem em sua programação o frevo, pelo menos, até o fim do carnaval.