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Coisas que sei sobre amigos famosos

20/11/2006

Gilda Mattoso, com Caetano Veloso

Gilda Mattoso, folclórica colaboradora de Gil, Caetano, Bethânia, Chico, lança hoje o livro de memórias Assessora de Encrenca

Jotabê Medeiros

Por conta de sua atividade profissional, Gilda de Queirós Mattoso é daquele tipo que sabe demais, perigosamente demais.

Durante os últimos 26 anos, pelo menos, era impossível chegar a astros da MPB como Gilberto Gil, Tom Jobim, Caetano Veloso, Djavan, Chico, Maria Bethânia, e outros sem passar pelo crivo dela. Foi casada dois anos com Vinicius de Moraes. Entre 1980 e 1989, ela trabalhou no Departamento de Imprensa das gravadoras Ariola e Polygram (hoje Universal). Depois, a partir de 1989, passou a assessorar em sua própria empresa vários desses artistas e outros tantos, como Zeca Pagodinho, Gal Costa, Afro Reggae.

Agora, Gilda Mattoso resolveu contar tudo que sabe. Esta noite, às 19 horas, no Bar Genial (Rua Girassol, 374), ela lança o livro Assessora de Encrenca (Ediouro, 240 páginas, R$ 34,90). O nome sugere uma cachoeira de revelações, mas a própria Gilda se encarrega de jogar uma ducha de água fria nos afoitos. 'Não é um livro de fofocas. Não sou o mordomo de Lady Di, não espere nada bombástico. É um livro de crônicas que eventualmente eu vivi.'

De fato, Assessora de Encrenca (o nome é uma contribuição da filha Marina quando criança, e não sabia dizer direito o nome da profissão da mãe, assessora de imprensa) não vai jogar luz sobre os esqueletos que os grandes da MPB guardam nos seus armários. Mas Gilda também rejeita a hipótese de ter feito um livro chapa-branca, de textos autorizados. 'Não mostrei a ninguém. Só Caetano leu, e era para escrever a apresentação. Não fez nenhuma restrição.'

Assessora de Encrenca tem histórias que mereciam de fato vir à tona, ao menos para engrossar a mitologia de alguns desses sujeitos. Como João Gilberto. Uma das melhores histórias de Gilda é sobre como o excêntrico violonista e gênio da bossa nova um dia a levou de madrugada para tomar uma água-de-coco num quiosque na Serra da Grota Funda. O vendedor o conhecia, mas apenas como um cliente de hábitos noturnos. Não sabia quem era João Gilberto.

Em dado momento, o homem pediu: 'Seu João, e a viola? Não veio?' João Gilberto foi até o porta-malas do carro, tirou o violão e fez mais um concerto particular para o homem. Que, não satisfeito, enquanto João cantava confidenciou a Gilda: 'Seu João toca que é uma beleza, mas canta tão fraquinho.'. Virando-se para o músico, aplicou-lhe uns tapas nas costas: 'Canta, seu João, mas canta forte!'

Gilda abre seu livro com testemunhos de gente famosa. 'Conheci-a por intermédio de Caetano, mas desde o primeiro dia tive a impressão de conhecê-la desde sempre', diz o cineasta Pedro Almodóvar. 'Tem sido uma anfitriã insuperável para apresentar-me seus amigos músicos, nesse tesouro incomensurável que é a música brasileira.'

Caetano salienta a combinação, em sua personalidade, de 'irreverência e recato, de veia satírica e discrição'. Foi ele a lhe arranjar o primeiro emprego após ela deixar as poderosas multinacionais do disco. Gilda observa o que acha que mais mudou hoje, do alto de sua experiência no negócio do show biz. 'A indústria de celebridades, isso não existia', ela diz. 'Nos anos 80, você ia ao Baixo Leblon e encontrava Alceu Valença, Marina, Gil. Tom Jobim ia à padaria a pé. Vinicius era encontrado ali na Farmácia Piauí. Ninguém tinha segurança, motorista, carro blindado com vidro preto. Não havia essa loucura de paparazzi.'

Caetano

TOM, O REBELDE: Tom, caçula da família Veloso, alucinado por futebol, é rubro-negro roxo, para desespero da mãe, Paula, tricolor de coração. Ao contrário dos irmãos, Moreno e Zeca, não é muito ligado em música e não tem paciência para shows, para ouvir CDs, sequer ver o pai cantando na TV. Às vezes, Caetano insistia:

- Meu filho, você não quer que seu pai toque e cante uma música para você dormir? Seus irmãos gostavam tanto quando eram menores?

- Então tá, pai. Pode ser, mas rapidinho. Você sabe tocar o hino do Flamengo?


Almodóvar

PAULA E PEDRO: Estávamos em Londres, em 1999. Caetano ia fazer um show no Royal Albert Hall. O embaixador do Brasil ofereceu lugar na frisa dele para Paula e mais algum convidado se instalarem. Pouco antes do início do concerto, Paula e Pedro Almodóvar, que tinha ido de Madri a Londres para ver o show, se dirigiram à tal frisa. O segurança perguntou quem eram:

- Sou a mulher de Caetano Veloso.

O agente agradeceu, e repetiu a pergunta a Almodóvar, que respondeu:

- Yo también.


Renato Russo

HAY QUE ENDURECER: A conversa era um mix de espanhol e italiano, e achei melhor (ou terá sido pior?), porque Renato podia participar. A conversa caiu, como era previsto, em Cuba, Fidel, Che, etc. Acontece que Miná foi o primeiro italiano a entrevistar o Che e tornou-se grande amigo de Cuba e dos cubanos. De repente, o escritor peruano pergunta a Renato o que ele achava de Cuba e Renato, na lata e no pé, diz:

- Não gosto nadinha, pois sabem o que eles fazem lá com homossexuais como eu? Mandam pro paredão!

Vinicius

SONETO DO PELADÃO: Mas o melhor lance ocorreu quando Vinicius fazia um show com Maria Creuza e Toquinho em Montevidéu. Lá pelo fim do show, Maria Creuza cantava 'Eu sei que vou te amar enquanto ele recitava o Soneto da Fidelidade. Mandava o roteiro que, perto do final da música, ele se aproximasse de Maria Creuza, a enlaçasse e cantasse com ela o fim da música. Por ter ficado muito tempo sentado, o cinto cedeu, talvez por conta da barriguinha, e a calça escorregou-lhe pelas pernas abaixo. Detalhe: Vinicius não usava cueca.

SERVIÇO:
Assessora de Encrenca. De Gilda Mattoso. Ediouro. 240
págs. R$ 34,90. Bar Genial. Rua Girassol, 374, Vila Madalena, 3812-7442. Hoje, às 19 h

(© Agência Estado)


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