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Da cor da música

11/06/2008

DANIELA Mercury: baiana reúne vários ritmos de sons brasileiros e um balé que lembra as tradições afro-brasileiras


A cantora baiana Daniela Mercury apresentou em Fortaleza o show Balé Mulato em comemoração aos nove anos do Mucuripe Club. O show roda o Brasil e divulga o DVD homônimo, gravado no Farol da Barra

A pompa vem logo de cara. Do alto, cai o pano colorido. Na figura, as casas sobrepostas denunciam as mulatas, que dançam a favela e o terreiro, no toque do candomblé. Os rostos pintados de carnaval, a roda de capoeira. Um balé mestiço, mulato. Daniela Mercury entra no baticum. Ela não é só axé. É samba, reggae, maracatu. O vozeirão canta cores miscigenadas da música brasileira. Balé Mulato, DVD que a cantora está lançando, traz a batida da cantora que investe cada vez menos na previsibilidade do axé e dá lugar à experimentação, usando elementos do funk, do reggae, do samba. Em entrevista coletiva pela rede, a cantora assina a direção com Antrifo Sanches, que participou de todo o processo de produção do DVD, também disponível em CD, desde a escolha do repertório até a finalização. A baiana conta que ele "foi uma maneira de resgatar minhas fusões marcantes, que identificaram minha batida. É um DVD mais espontâneo. Não consegui deixar de me repetir, mas não era esse meu objetivo".

DANIELA Mercury: baiana reúne vários ritmos de sons brasileiros e um balé que lembra as tradições afro-brasileiras/FOTO DIVULGAÇÃODaniela é inquieta. Segue o gingado do balé e não perde o fôlego da voz, forte como as pernas à mostra. As vestes em flor lembram roupas penduradas nos varais, estes nas travessas transmutadas em quitais das favelas. Da chamada "música baiana", é uma das que ousam e experimentam misturar informações e testas novos formatos. "Não tenho medo, não sou conservadora, amo a tradição, mas usando-a também como base, como referência, para criar novas coisas. Tenho medo de ter medo", diz. No repertório não constam vários dos maiores sucessos da cantora, mas as músicas que ela gosta de interpretar. Olha o Gandhi aí, a terceira do DVD convida a balanço pelo tambor. Nobre Vagabundo é introduzida pelo baixo, que segue à capela com coro da platéia e se transforma num reggae melódico, o que prepara o público para Baianidade Nagô, que vem devagar ao som do piano elétrico. Piruetas e saltos mortais introduzem Prefixo de Verão, que convida à dança pelo tambor e atabaque.

Porém, sua experimentação não vai tão longe assim. Um dos maiores exponenciais da música brasileira no exterior, a baiana vende, no DVD, uma cultura estereotipada, do País do carnaval, samba, Senna, Pelé. É a exaltação da cultura brasileira nos modelos embalados para a exportação, o que a cantora retruca. "Esses estereótipos somos 'nós'. A cultura brasileira tem muito de samba, muito de festa. Isso pra mim é muito positivo. O Brasil, de fora, é conhecido pelo Carnaval. Isso, claro, é pouco para mostrar o Brasil como um todo. Um DVD feito para meu coração, não é para exportação não. Estudo o que faço, tenho profundidade". Conta com a participação especial de Gil (ex-banda Beijo), Marcelo Mello, da sambista Mariene de Castro, com quem faz uma bela interpretação de Dona Canô.

O show roda o Brasil desde maio, mas foi imortalizado somente em outubro, num a gravação realizada no Farol da Barra, em Salvador. "Digo que é o meu longa-metragem, é uma forma das pessoas verem o que ninguém consegue explicar". Não é uma coletânea, por isso a escolha de não colocar nele os hits que fizeram dela conhecida no território nacional no início da década de 1990.

As dançantes Feijão de Corda e Toneladas de Amor interrompem o caráter brincante do show para dar espaço a tom mais intimista. Topo do Mundo vem dedilhada no violão, a baladinha Pensar em Você no piano eletrônico e Dia Branco, no pandeiro e violão.

As bailarinas viram instrumento de percussão. Vestem como saias, bacias de alumínio para dar força a Só no Balanço do Mar. A partir daí, o palco vira carnaval com os sucessos Amor de Ninguém, Você não entende nada e Ciranda das Panelas. Guitarras e batuques anunciam Ilê Ayê. O samba reggae e o frevo tomam conta do final do show, com Balé Popular, Pérola Negra e Água do Céu. Maimbê Dandá explode o Farol e termina o DVD, que inda tem nos extras o clipe de Quero a Felicidade, com a participação da banda Jamil e Uma Noites.

A base percussiva é o eixo de banda formada por como Alexandre Vargas (guitarra), Gerson Silva (guitarra), Zito Moura (teclados), Cesário Leoni (baixo), Ramon Cruz (bateria), Daniela Penna (percussão), Cláudio Alves (percussão), Emerson Taquari (percussão), Rudson Almeida (percussão), Gil Alves (vocal), Joelma Silva (vocal), Nara Costa (dança) e Edeise Gomes (dança).

A explosão de cores, batuques e o misto de ritmos ganham a consistência da cantora em uma fase mais madura. Daniela apresenta mais que performances de uma boa voz com os passos de uma ex-bailarina. Mostra a alma da baiana com o baticum negro nas veias. No seu canto, uma parte da Cidade. Falta cantar o Brasil.

(© O Povo)

VÍDEO:

Veja Daniela Mercury interpretando Canto da Cidade


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