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Caixa com 11 CDs reúne inéditos e raros de Caetano

11/06/2008

_Tasso Marcelo

Lançamento: caixa de 11 CDs de Caetano Veloso


Pacote garimpado pelo pesquisador Charles Gavin, dos Titãs, recupera gravações esquecidas na Universal Music

Versão de "Cinema Olympia" registrada antes da ida do músico ao exílio em Londres faz parte do lançamento, que custa R$ 250, em média

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Duas gravações inéditas há quase 40 anos, esquecidas nos arquivos da Universal Music, são as novidades da caixa de 11 CDs de Caetano Veloso que a gravadora está lançando. As faixas são "Cinema Olympia", composta por Caetano para Gal Costa em 1969, e o "Hino do Esporte Clube Bahia", gravada naquele ano, antes da ida do artista para o exílio em Londres.

Batizada de "Caixa 1", o produto é uma espécie de abertura da caixa de 40 CDs com a obra completa de Caetano lançada em 2002. Em 2007, outras três caixas serão lançadas, sempre com faixas inéditas descobertas pelo baterista e pesquisador Charles Gavin (Titãs).

Entre as novidades já localizadas estão "Mamãe Natureza", de Rita Lee, nunca lançada por Caetano. E há o artista acompanhando-se ao violão em "A Rã", logo após colocar letra na canção de João Donato. São gravações da primeira fase dos anos 70 das quais ninguém tinha conhecimento.

Outra descoberta é a íntegra do show que Caetano e a irmã Maria Bethania realizaram no Canecão na segunda metade daquela década. O espetáculo rendeu um LP. Agora surgiu a temporada inteira, com todos os shows gravados. O trabalho deve ser lançado à parte, fora do esquema das caixas.

A caixa reúne a produção de Caetano de 1967 a 1974. Tudo já havia sido lançado em CD anteriormente. De acordo com a gravadora, o preço nas lojas é de, em média, R$ 250. A partir de 2007 os CDs serão vendidos de forma avulsa.

Em entrevista anteontem na gravadora, Caetano disse ter ficado surpreso com as faixas garimpadas por Gavin, que o acompanhava. "Fiquei maravilhado. Adorei ouvir novamente as faixas do compacto com os Mutantes, gravados na [boate carioca] Sucata. "Baby" com os Mutantes é incrível, uma coisa espetacular", disse.

Pela primeira vez o clássico "Transa" (1972) trará créditos para os músicos. Caetano disse que nunca se conformou em não ter saído no encarte os nomes dos membros da banda que o acompanhou nas gravações londrinas: Jards Macalé (guitarra e violão), Moacyr Albuquerque (baixo), Tutty Moreno (bateria) e Áureo de Souza (percussão). Caetano nega que essa tenha sido a razão do rompimento com Macalé. Disse que na época não era comum sair os nomes dos músicos nos discos, embora tivesse reclamado com a gravadora. A briga foi porque Macalé andou falando mal dele, afirmou.

"Fiquei de mal com ele porque ficou me agredindo pela imprensa. Também porque naquele Réveillon [de 1996] ele se meteu de maneira absolutamente imperdoável", disse Caetano, referindo-se ao show na orla do Rio que terminou em polêmica sobre os cachês dos artistas. Na ocasião, Macalé apoiou Paulinho da Viola, que recebeu menos que os colegas de palco -Caetano, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa e Milton Nascimento. Macalé e Caetano só voltaram a conversar recentemente.

Na coletiva, Caetano elogiou cantoras. Disse que Marisa Monte foi a pioneira, Maria Rita é "altamente incrível", destacou Roberta Sá e Mariana Aydar. O compositor, 64, aproveitou para criticar o caderno Folhateen, da Folha. "Por que não tem matéria grande sobre Roberta Sá, sobre Mariana Aydar? Não sei. Acho doente. [...] O Brasil está cheio de adolescente que ouve música brasileira. [...] Mas tem algo estranho nisso. Um negócio estranho é a mania do brasileiro achar que você simplesmente despreza sua coisa e acha que não vale."

(© Folha de S. Paulo)


crítica

Remixagem tira pó de gravações históricas

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mais acessível e fácil de manusear do que a sofisticada e de preço salgado "Todo Caetano" (2002), a primeira das quatro caixas "40 Anos Caetanos" cobre, em 11 CDs, os oito anos iniciais da obra fonográfica do compositor. Inclui seus primeiros dez álbuns e traz, na compilação "Cinema Olympia", gravações inéditas e raras, quase todas lançadas originalmente em compactos.

Como cerejas no bolo, essas gravações vão de meras curiosidades a canções de importância que não entraram nos álbuns de Caetano. Só duas são inéditas: a pitoresca versão frevo do "Hino do Esporte Clube Bahia" e o rascunho sonoro da canção "Cinema Olympia", que inspirou a gravação de Gal Costa.

Essenciais mesmo são as parcerias de Caetano com os Mutantes, extraídas de um compacto duplo feito no conturbado período de afirmação da tropicália, em 1968. "Saudosismo" ("Eu, você, João / girando na vitrola sem parar / e o mundo dissonante que nós dois / tentamos inventar") é um manifesto da intenção ambivalente de criar um movimento musical que fosse o avesso da bossa nova.

Em meio a muita gritaria e distorções de guitarra, "A Voz do Morto" mistura rock e samba, alternando elogios a Paulinho da Viola e Aracy de Almeida com farpas cifradas. O clima festivo segue na versão da canção italiana "Marcianita", que termina com um retrato pop daquele momento histórico: "Há muita criptonita no ar, verde e vermelha também, mas Deus está solto".

Quem se interessa por esse explosivo período da música brasileira e ainda não ouviu as versões remixadas dos álbuns "Caetano Veloso" (1967), "Tropicália ou Panis et Circensis" (1968) e "Caetano Veloso" (1969), que já faziam parte da caixa "Todo Caetano", vai se surpreender.

Gravações históricas, como "Tropicália" (de Caetano, com arranjo de Julio Medaglia) e "Parque Industrial" (de Tom Zé, arranjada por Duprat), ganharam novas dimensões sonoras.

É como se o brilho original das gravações saltasse aos nossos ouvidos após a remoção do pó acumulado por décadas.

40 ANOS CAETANOS - 67/ 74     
Artista:
Caetano Veloso
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 250, em média

(© Folha de S. Paulo)


VÍDEO:

Ouça Parque Industrial, de Tom Zé e veja fotos da época


Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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