Na primeira caixa, são os dez primeiros
elepês do compositor, e um 11º avulso
Beatriz Coelho Silva
SÃO PAULO - Caetano Veloso entrou no espírito
de Natal. Ao lançar a primeira das quatro caixas com as quais vai
comemorar seus 40 anos de carreira em disco, não polemizou.
Praticamente só falou do tempo em que fez aqueles dez elepês que
agora viraram CDs e das outras 19 músicas que compõem o 11º álbum.
Só no fim da entrevista passou de leve sobre a política para falar
do economista Roberto Mangabeira Unger, que ele queria ver candidato
a presidente da República, mas que não conseguiu legenda neste ano.
"É importante sua luta contra essa tendência chorosa de
autodepreciar o Brasil para tornar tudo mais fácil", disse Caetano.
A coleção comemorativa, que recebeu o título de Quarenta Anos
Caetanos tem os mesmos discos, com o mesmo tratamento (remixagem e
remasterização das faixas) da coleção completa lançada em 2002, numa
iniciativa do baterista dos Titãs, Charles Gavin. Nesta primeira
caixa, vêm os dez primeiros elepês do compositor, lançados entre
1967 e 1974 e um 11º com o que saiu avulso. Este tem hits da época,
como Charles Anjo 45 e Cada Macaco no Seu Galho, e outras que não
viraram disco, como o Hino do Esporte Clube Bahia e Cinema Olímpia.
Caetano lembrou que, nos primeiro discos, não tocava violão,
geralmente era Gilberto Gil que o acompanhava, porque seu desempenho
era considerado ruim. "Diziam que eu não tinha nível técnico. Eu
acreditava que era preciso tocar como Roberto Menescal. Só quando
fui para Londres, me disseram que eu tocava bem", contou.
"Era um subdesenvolvimento. Eu me lembro que, quando Nelson
Cavaquinho lançou seu primeiro disco, o Sérgio Cabral, na contracapa
quase pedia desculpas pelo violão tosco. Imagina se isso valesse
para Bob Dylan. Não o deixariam tocar aquela gaita nem o violão." A
primeira caixa chega à lojas com preço sugerido de R$ 230 e tiragem
de 2.000 exemplares, mas a gravadora ainda estuda se os discos
sairão separadamente. A segunda está prevista para março e vai de
1975 a 1982, e deverá ter um álbum de inéditas e/ou raras.
Outras raridades ainda vão depender de pesquisas de Charles
Gavin. "Há o show de Caetano e Bethânia no Canecão, mas as fitas
estão em condições precárias e leva um tempo prepará-la", disse o
Titã. "Nossa intenção aqui foi trazer a música de Caetano Veloso nas
melhores condições que a tecnologia atual apresenta."
(©
Agência Estado)
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