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Família quer divulgar obras de Janete Costa

02/12/2008

 

 

Fotos: PE360Graus

 

Centro poderá abrigar coleção da arquiteta que morreu na sexta-feira sem ver exposto ao público seu último trabalho, um projeto museográfico no Museu do Homem do Nordeste

Olívia Mindêlo
oliviamindelo@jc.com.br

O ímpeto criativo e incansável de Janete Costa não se foi com ela na noite da última sexta-feira, quando fechou os olhos pela última vez. A arquiteta e curadora, que faleceu depois de longa luta contra um câncer, deixa como legado mais do que os frutos de seu trabalho, mas a marca de uma personalidade que não descansou até o fim. O pulso ativo fica para quem, daqui em diante, tem a tarefa de dar continuidade aos projetos iniciados por ela. Fica também para uma legião de admiradores e profissionais influenciados por sua atuação.

De acordo com a galerista Lúcia Santos, filha da arquiteta, um dos desejos da mãe era fazer circular a ampla coleção pessoal de arte popular que acumulou ao longo da vida, como amante e impulsionadora dos “artistas do povo”. O acervo familiar está sendo negociado para ficar um tempo, por meio de comodato, com o Instituto do Imaginário, em São Paulo. “O desejo dela não era vender as peças, mas mostrá-las”, conta Lúcia, responsável pela curadoria da coleção a partir de agora. Projetos de exposições e até um centro em sua homenagem estão sendo pensados no momento.

O que amigos e familiares lamentam é o fato de Janete Costa ter morrido sem ver concretizado o último grande trabalho de sua carreira: o Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, em Casa Forte. O espaço, fechado há mais de quatro anos para reformas, vai reabrir as portas no dia 17 deste mês com novo projeto museográfico, assinado justamente pela arquiteta. Aliás, doado por ela. A diretora do museu, Vânia Brainer, conta que, como havia entraves burocráticos para a contratação direta de Janete, ela preferiu não cobrar nada pelo trabalho, temendo que alguém de fora pudesse vir a fazê-lo. “Ela disse que era uma questão de pernambucanidade. Então, abriu mão do valor, que não era baixo”, conta, sem querer revelar o suposto cachê.

“Ficamos surpresos. E ela materializou no papel tudo que a gente havia pensado para o museu. Ela deu uma lição mesmo dessa pernambucanidade, de amor pela arte, pela cultura. Nossa amizade foi de curta duração, mas vai ficar como o contato profissional mais importante até agora da minha vida”, ressalta Vânia. Pouco antes de morrer, Janete também doou cinco obras do artista Lourenço para o acervo do mesmo museu, que devem ser expostas quando o segundo andar do espaço for inaugurado em 2009 (se tudo der certo).

Ao Instituto Ricardo Brennand, na Várzea, Janete Costa vendeu uma coleção de vidros, uma paixão tão grande quanto sua mania por colecionar antigüidades e obras de arte. As 107 peças podem ser vistas permanentemente num espaço reservado da pinacoteca do IRB.

VIDA INTENSA

Janete Costa morreu aos 76 anos como se tivesse vivido cem. Desses, meio século de vida foi dedicado ao trabalho, através do qual desenvolveu mais de três mil projetos, percorrendo o mundo afora em busca inspiração. “Ela tinha um ímpeto de criação muito grande. Quando viajávamos, via uma coisa e já colocava no projeto pouco tempo depois. Tinha uma necessidade de inovar e um olho muito aguçado”, lembra o arquiteto e amigo Carlos Augusto Lira, que iniciou a vida profissional no escritório de Janete e Borsoi, influências declaradas em sua carreira.

Com o arquiteto Acácio Borsoi, agora viúvo, foi casada durante mais de 40 anos e teve uma filha, Roberta Borsoi, também arquiteta. Do primeiro casamento, foram três filhos, Cláudia, Mário e Lúcia Santos. Para todos, a mãe é uma referência incontestável, na vida pessoal ou profissional.

“Ela foi pioneira em quebrar o tabu de que arte popular devia estar na casa de campo ou de praia. Ela colocou a obra desses artistas dentro da sala de estar de muitas pessoas importantes, dando o mesmo peso dos artistas consagrados. Durante 40 anos ela fez isso, divulgando o trabalho em bonitas exposições”, ressalta o filho e arquiteto Mário Santos, radicado no Rio de Janeiro.

Além de realizar mostras com artistas populares e inseri-los em seus projetos, Janete Costa incentivou o trabalho deles, prestando consultoria e apoio. Recentemente, ajudou a brotar a produção de Garanhuns, sua cidade natal, através de projetos com novos talentos. Os frutos são notáveis.

(© JC Online)

 


O adeus à arquiteta Janete Costa

"Todo meu bem". Foi com esta frase que o arquiteto Acácio Gil Borsoi, de 84 anos, despediu-se da esposa, a arquiteta e decoradora Janete Ferreira da Costa, 76, sepultada neste sábado no cemitério Morada da Paz, em Paulista. A pernambucana, que faleceu na noite da última sexta, era um dos nomes mais conhecidos da arquitetura nacional e lutava há mais de três anos contra um câncer no estômago. Familiares, amigos e personalidades do estado estiveram no velório para acompanhar a despedida.

Janete morreu em casa, em uma pequena Unidade de Terapia Intensiva (UTI) particular, montada na semana passada pelo Hospital Português, depois de ter passado 42 dias internada no centro médico. Segundo a assistente Alzinete Henrique da Silva, a arquiteta preferiu ficar seus últimos momentos acompanhada da família e, mesmo sentindo muitas dores e precisando ficar boa parte do tempo sedada, ela não parou de trabalhar. "Na última quinta-feira, estava olhando alguns projetos. Era realmente uma lutadora, não desistiu", comentou Alzinete.

"Janete é uma das poucas pessoas que indo embora deixa um vazio enorme no país", comentou Ricardo Brennand, amigo que lembrou de momentos importantes e de exposições dela pelo mundo. "Ela foi uma das maiores divulgadoras dos artistas populares brasileiros. Criou uma escola", completou Borsoi.

Além do marido, com quem foi casada por 40 anos e tinha uma única filha, Roberta Borsoi, a decoradora deixa outros três filhos, quatro netos e um bisneto. Juntos eles mantêm o escritório Borsoi Arquitetura Ltda, na Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem, e mais duas filiais, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo. Os projetos que estavam em andamento, como um museu em Belo Horizonte, outro na Paraíba e alguns trabalhos para o governo de Pernambuco, serão continuados pelos filhos da arquiteta, que já haviam assumido os escritórios.

"Durante todo este tempo, ela se manteve forte e espirituosa, sempre surpreendendo os médicos e superando diversos percalços. Nos últimos dias, estava mais frágil e, depois de terpassado bastante tempo no hospital, pediu aos médicos para ir para casa. Agora, deveremos tocar a bola para frente, pois foi isso que ela sempre nos ensinou", disse a filha Roberta, que cuida do escritório no Recife.

Janete, que teve diversas de suas obras executadas no Brasil e no exterior e também era especialista em arte popular, nasceu no interior do estado, em Garanhuns, em 1932, e aprendeu seu ofício na Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro. Entre os trabalhos mais conhecidos, destacam-se as restaurações de bens históricos, como o Teatro Arthur Azevedo e o Palácio dos Leões, no Maranhão, além do Solar do Jambeiro e a Igreja São Lourenço dos Índios, no Rio.

A sensibilidade de Janete Costa como curadora e colecionadora pode ser conhecida em duas mostras que estão em cartaz no Recife. No Instituto Ricardo Brennand, há uma sala formada por peças que ela colecionava junto a Borsoi. A arquiteta também fez a curadoria da exposição do acervo do Museu de Arte Popular, reaberto no Pátio de São Pedro.

(© Diário de Pernambuco, 30.11.2008)

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